segunda-feira, 18 de novembro de 2024

O poeta morreu

Por: Rogério Skykab 


"O poeta morreu".

Uma notícia entre tantas.

Você acorda e se depara com ela,

a morte-noticia.

Nada vai destituir a sua condição.

Lembro que o vi mais de uma vez no metrô.

Mas isso é pouco.

Certamente ninguém ali o conhecia.

Um poeta desconhecido: a sua condição. 

Será isso o que o identifica?

A não ser que vire notícia:

"o poeta morreu".

Flor da ironia.


Skylab

23/10/2024







sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Poema do Glauco Mattoso em homenagem ao Antônio Cícero

 Aqui é o Akira! Glauco pediu para postar em 24/10:

Antonio Cicero (com quem concordo), conhescido como philosopho e lettrista, foi tambem postmoderno sonnettista e thematizou os garotos com palavras inteiras. Eis um exemplo que eu tinha excolhido para o SONNETTARIO BRAZILEIRO, site que organizei tempos attraz e que ficou devendo a inclusão de muita gente quando o deixei.


ONDA


Conheci-o no Arpoador:

Garoto versátil, gostoso,

ladrão, desencaminhador

de sonhos, ninfas e rapsodos.

Contou-me feitos e mentiras

indeslindáveis por demais.

Fui todo ouvidos, tatos, vistas

e pedras, sóis, desejos, mares.

E nos chamamos de bacanas

e prometemo-nos a vida:

comprei-lhe um picolé de manga

e deu-me ele um beijo de língua

e mergulhei ali à flor

da onda, bêbado de amor.


Glauco Mattoso - Escritor e amigo da EMNM

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

A despedida silenciosa do poeta

  


* O poeta e letrista Antonio Cícero morreu nesta quarta-feira, em Zurique, na Suíça, aos 79 anos. Após ser diagnosticado com Alzheimer, anos atrás, ele viajou à Europa com o companheiro Marcelo Fies com a intenção de realizar morte assistida, permitida no país europeu


 Carta de despedida do poeta:





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GUARDAR

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
do que pássaros sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarde um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.


LEBLON

Para Adriano Nunes

O menino olha para o mar:
lá no fundo ele se funde ao céu;
mas atrás há um muro e aquém do olhar
pulsam sangue e morro e mata e breu.



BLACKOUT

Passo a noite a escrever.
Do lado de lá da rua
poderia alguém me ver,
daquele prédio às escuras,
em frente ao meu, e mais alto.
Que voyeur me espiaria?
De interessante, só faço
escrever. Ele veria
decerto a parte traseira
do computador; talvez,
daquela outra janela,
avistasse, de viés,
o lado esquerdo da minha
face de perfil; jamais
entretanto enxergaria
certos versos de cristal
líquido que, mal secreto
com o sal do meu suor,
e já anunciam segredos
só meus e de algum leitor
que partilhará comigo
o paraíso e o desterro,
o pranto que vem do riso,
o acerto que vem do erro.
Disso tudo, meu vizinho
nem de longe desconfia.
Mas e se ele, tendo lido
meus lábios, que pronunciam
o que na tela está escrito,
perceber-se desterrado
não só do meu paraíso:
do meu desterro, coitado?
E se ele a tudo atentar
e por inveja e recalque
me der um tiro de lá?
Melhor fechar o blackout.


O GRITO


Estou acorrentado a este penhasco

logo eu que roubei o fogo dos céus.

Há muito tempo sei que este penhasco

não existe, como tampouco há um deus

a me punir, mas sigo acorrentado.

Aguardam-me amplos caminhos no mar

e urbes formigantes a engendrar

cruzamentos febris e inopinados.

Artur diz “claro” e recomenda um amigo

que parcela pacotes de excursões.

Abutres devoram-me as decisões

e uma ponta do fígado mas digo:

E daí? Dia desses com um só grito

eu estraçalho todos os grilhões.


ÍCARO

Buscando as profundezas do céu
conheceu Ícaro as do mar

Adeus poeira olímpica
grãos da Líbia
barcos de Chipre

Adeus riquezas de Átalo
vinhos do Mássico
coroas de louro
flautas e liras

Adeus cabeça nas estrelas
adeus amigos
mulheres
efebos
adeus sol:
ouro algum permanece.



sábado, 19 de outubro de 2024

De braços abertos (contemplando o Infinito em você


Por: Diego El Khouri 


              À Lívia


abrir os braços para que a vida 

me leve ao teu colo

sentir firme o chão beijar minhas costas

na relva onde o peito alimenta a terra

 e na terra que sustenta o corpo 

e contempla o céu um risco no mar 

que molha os cabelos em desalinho 

dessa imagem que reencontro

                        em meio a escombros 

              no limiar do século 

                                                   (em andrajos)

 trajes que me banham de memória 

                    o Agora (...)

você aqui (sim) perto de mim 

acariciando seios e boca (pele) 

língua  na língua (noite quente) 

naquela quinta feira iluminada 

na noite boêmia dos poetas

 flechas  que atravessam o Infinito


Lívia, sua imagem é um divisor de águas 

que cruzou meu caminho sem avisar

"disco voador tatuado" 

que pousou em minha vida

 e me ensinou a amar (caminhar com outros pés...)


e aqui perante sua imagem

que dança num anel de fogo

te contemplo na beleza do instante 

e na eternidade do momento

que faz da vida 

                                um prazer constate.


Capa do zine "Livia" (o primeiro de uma série).




Título: Lívia 

Técnica: Óleo sobre tela

Dimensões: 30 x 25 cm

Artista: Diego El Khouri


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sexta-feira, 18 de outubro de 2024

A HQ XXI é uma chaga ferida e aberta em forma de arte sequencial


 



A HQ XXI é uma chaga ferida e aberta em forma de arte sequencial...


 Pequenos contos em forma de quadrinhos... 


O politicamente incorreto em um olhar embriagado na contracultura...


O cuspe insolente na cara do fascismo...


 A palavra gotejando sangue e pus... 


A ordem dos capítulos foram colocadas com o mesmo rigor das faixas de um álbum musical. 


O álbum já está finalizado. 


Falta agora apenas passar pela etapa da diagramação.


220 PÁGINAS


de uma HQ crítica, reflexiva, violenta, delirante, escatológica e real.


Roteiro e desenho:  Diego El Khouri 

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ATENÇÃO!!!!!

Abaixo um capítulo inédito dessa saga:







http://elkhouriartes.blogspot.com/2024/03/200-paginas-finalizadas-de-uma-hq-punk.html


Diego El Khouri recita as palavras desse capítulo em um dos episódios do programa Outsider da galáxia de parnaso:




EDITORA MERDA NA MÃO 

Publicando os impublicáveis 



https://editoramerdanamao.blogspot.com/2024/09/venha-para-o-mundo-da-editora-merda-na.html

sábado, 12 de outubro de 2024

Pelas beiras dos pés de ervas

 Por: Edu Planchêz Maçã Silattian 


pelas beiras dos pés de ervas,

ervas aqui de casa, catadas no meio fio,

dentes-de-leão nascidas entre as rasteiras gramas,

nos muros das ruas vizinhas


ervas no muro, no fundo do olho, 

no fundo da garrafa,

no silencio das estrelas,

no meu silencio,

ervas espalhadas pelas constelações

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segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Mais um exemplar do Filósofo da Maconha desembarcando no Rio de Janeiro


 


Desta vez a bagaça foi parar nas mãos de Beatryx Physis



Para adquirir também um exemplar, entre em contato com a editora enquanto ainda tem
Conheça o início da saga do homem planta e seus amigos

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Por: Eduardo Marinho

 Chamar estadunidense de americano é um vício pior do que cigarro. Faz desta nação golpista, chantagista, sabotadora, exploradora e saqueadora de outros povos, os "donos" do continente inteiro, como eles mesmos se sentem e induzem, de todas as formas, o pensamento nas Américas. É preciso senso crítico, dignidade e disposição pra ver e mudar esse olhar colonizado, este sentimento de inferioridade artificial e falso.

Gostaria que tirassem meu nome de perto dessa frase que eu não disse e não diria. Israel conta com os maiores banqueiros do mundo - que dominam países, inclusive EUA e Grã-Bretanha que, por isso, apóiam sem condições os crimes de Israel nos últimos 76 anos. Não dá pra ver como "gerente", a não ser em imagem cênica e mentirosa. Banqueiros não costumam aparecer, ao contrário. Donos dos holofotes da mídia empresarial, direcionam pra longe deles e permanecem no escuro.

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Por: Edu Planchêz Maçã Silattian

 a puta que pariu desse dia de sol descomunal 

nos quer para sempre nus nas cabanas dos pensamentos 

sobre a nudez transparentes das borboletas

que espaçam suas asas por todos os cômodos 

da casa que é minha e de minha mulher cantora arrebentante


e uma dessas borboletas deve ser, 

e é o putaço joka faria poeta furioso

donos das guerras e das guerras dos dourados e dos tilápias que moram nas quentes águas dos vulcões

dos vulcões que moram e não moram sob as carapaças 

de nossos pés caminhadores


quem?

escreve o nome

o nome do dito que se foi para a dimensão do pequeno príncipe 


pit passarell que nunca ouvi falar 

se comunica conosco através dos vãos das pedras pentelhas


a amiga serpente nos pica na ponta dos dedos, 

dos dedos de Cleópatra 

que temos nas dobras das peles do ânus