sexta-feira, 29 de setembro de 2017

MIJO EM TEUS POEMAS QUE NEM SÃO POEMAS

Por: Edu Planchêz

Mijo sobre seus poemas que nada dizem,
mijo sobre a porcaria de vida que você nos propõe
Mijo em cada pingo de sol,
mijo em você

Cidade sem alma de pessoas opacas,
mundo calado sem o rumo das estrelas,
o que ainda faço em ti?

Homens calados, enrustido em suas casacas de escarro,
eu chamo os filhos do mato para roerem seus pés e mãos,
eu chamo a fada da neve e do fogo da terra para arrombar tuas portas egoístas,
eu chamo a víbora e o cão

Poesia, poeta que não incomoda não merece nem ser chamado de verme,
pois os vermes me dão mais sentidos que vossas cabeças tapadas,
feitas para o preconceito e Reis do dinheiro

O vagabundo aqui assina seu nome no coração desse mundo
com letras de sangue,
se aqui estou não para mergulhar no marasmo de vosso conformismo

Por isso mijo em teus poemas que nem são poemas

terça-feira, 19 de setembro de 2017

PEDAGOGIA DAS FOGUEIRAS

Por: Ikaro Max

outrora as próprias ervas de cheiro, tempeiros, incensos de uso mágico eram vistos como ameaça diante dos dogmas da Santíssima Trindade: pois devolvia aos sentidos a primazia deste mundo & não a arquitetada cegueira de um mundo inventado fora deste.
E as "bruxas" foram perseguidas & queimadas para se arrependerem da profana devoção ao sensível...


Para quê, pois, deixar a estes inquisidores o monopólio das fogueiras & das Noites de São Bartolomeu?

Imensas piras em que obras inteiras, bibliotecas inteiras, Alexandrias inteiras, que datam de Nero a Hitler.

Os catálogos de iguarias
As revistas de sport
Ou de moda
As publicações evangélicas:
& se elas fossem, igualmente,
queimadas?

Não se vê Espírito escrever:
estamos atolados entre corpos & arbítrios
entre privilégios de quem, enquanto casta, legalizou a abominação & o assassinato.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

POR: CAIRO TRINDADE

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Talvez eu viaje
qualquer dia desses.
Ainda não sei quando, nem como,
nem pra onde, nem com quem.

Talvez em bando, talvez contigo,
talvez só, sem ninguém.

Pode ser amanhã,
semana que vem,
daqui a um mês,
ou dois, ou três.

Talvez eu escolha o lugar,
prepare a viagem
e me despeça de todos,
um a um, talvez.

Ou de repente, nem sei,
imprevisivelmente,
quem sabe viaje sem alarde.

Sem avisar, sem dizer nada,
sem que ninguém sequer
venha me ver
na hora exata da partida.

Tudo bem, me perdoem,
nunca é tarde
para qualquer abraço.
Ou despedida.
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sexta-feira, 8 de setembro de 2017

5 POEMAS DO XANDU DO RATOS

Conheci o poeta  Xandu (Alexandre) no sarau Ratos Di versos no Rio de Janeiro em 2013. 

Nesse link a entrevista que fiz com ele: http://fetozine.blogspot.com.br/2016/01/xandu-dos-ratos.html


Abaixo 5 poemas de autoria desse maluco genial:

"VIDAS NAS FAVELAS IMPORTAM" _uma poesia pras favelas todas do Rio é uma poesia para pessoas que vivem a guerra desta cidade; uma poesia pra essas pessoas feridas pela cidade é uma poesia que me inclua como parte da guerra; uma poesia pra favela é uma poesia delicada, uma poesia pra falar de uma guerra na cidade é uma poesia de muita coragem; a favela na cidade é o povo pobre da colina que vive a vida desrespeitada; fala-se da favela: são notícias de crimes, as machetes, a TV faz pessoas invisíveis aos olhos da sociedade; ninguém diz pessoas oprimidas, saqueadas, ultrajadas, ninguém diz a realidade: políticas prontas, sopa de pacote, miojo, política pública de insanidade, sadismo, covardia, racismo, e muita brutalidade, é o povo da lei áurea incompleta; é gente que a cidade engole, é gente como a gente só que pobre, é o pobre que sobrevive e trabalha, mas na hora da guerra quem lá estava num tá, quem pensou que viu já num viu, quem sabe outro dia? num sabe... na hora da guerra quem fica na favela é só a favela, e pra elite qualquer outra noção de beleza já fica suspensa, e as universidades escrevem com tintas vermelhas: coitados! são pessoas carentes! são análises: seres que habitam sub-aglomerados! Estudos dizem da favela em que nasci, ser feliz, sim! há muita felicidade, que lindo! Vejam a colina: cantam RAP, tocam samba, dançam, jogam bola, vivem felizes na comunidade! e fazem graffiti, soltam pipa, pintam e bordam, mas a favela pra essa gente da elite praticamente não é gente - é o "quanto vale o dimenó?" - é "quanto custa o faxineiro?" - "a mulata gostosa! olha lá o paraíba! olho vivo naquele aquele neguinho!" - se a empregada doméstica serve direitinho; e se o peão presta ou não presta nesta obra... muito subemprego na pauta, e se a mãe solteira vai a luta, paga as contas, mulheres chefiam a família, enquanto as crias ficam soltas... e os meninos arrolados nesta falsa luta armada, sem saber (ou talvez até saibam) cumprem ordens do Estado e são colocados na linha de frente pra enfrentar o Estado, e o mesmo Estado dá gargalhadas e neles manda soltar balas! Há quem fique doente, há quem aguente o porrete, há quem se cague nas calças, e tem aquele soldado - peida naun, héin?! ...e lá vem outra chuva balas... a lei não é a lei, a lei é sobreviver, e mais nada, fazer o quê? reaja ou seja morto! são poucos empregos, são baixos salários, as necessidades são muitas, e o estado é precário; ...e esses poetas, pessoas líricas, muitas vezes não podem fazer nada, a não ser poesia; e as pessoas preocupadas no asfalto muitas vezes não podem fazer nada, a não ser passeatas; e as pessoas da favela muitas vezes ficam perdidas, como as balas, não sabem em quem mais confiar, desconfiam, dois passos pra trás! ...pois vemos por lá: é favela, são pessoas-alvos; pois vemos por cá: são pessoas-balas, é o asfalto; quando um vira as costas pro outro, ora a favela janta o asfalto, ora o asfalto janta a favela, e a favela sempre perde muitas vidas nessa rotina de assaltos... susto, sobressalto, o coração dispara e ninguém vê mais nada... são estrondos que assustam! pipocos no claro do dia! muito sangue na madrugada! são várias pessoas _clataplatum-pow que se arrepiam de medo! pessoas clataplatum-pow que enfrentam esse fardo, baita sofrimento! são pessoas clataplatum-pow o tempo todo, mas que ódio! essa bala sinistra de novo! é tiro e mais tiro e mais tiro todo dia, é tiro que tira a vida da criança, é tiro que tira a vida do adulto, atormenta, aleja, e infarta o idoso! são pessoas clataplatum-pow protestando de novo você não sabia? são pessoas _clataplatum-pow PELAMORR, ALGUÉM ME AJUDA!! são pessoas clataplatum-pow SOCORRO!! são pessoas clataplatum-pow ALÔ? EU QUERIA FAZER UMA RECLAMAÇÃ... TUM-TUM-TUM! são pessoas clataplatum-pow ALÔ? QUEM? LIGA OUTRA HORA, TÁ MUITO BARULHO, NÃO CONSIGO LHE OUVIR; são pessoas clataplatum-pow COÉ DOTÔ, O SINHÔ TÁ SURDO? são pessoas clataplatum-pow que sofrem na pele as crises nefastas dos tipos mais corruptos do Estado: na classe política, indústrias, bolsa de valores ,o sistema bancário; são pessoas clataplatum-pow ai que injusto esse aperto no coração! ai jesus, o momento é esse, vem pra perto: do coração! ai, que baita medo, porque tem aquele que aperta... NÃO!! NÃO APERTA O GATILHO, NÃO, POR FAVOR, NÃO!! são pessoas clataplatum-pow e e um coração que diz: pára! e um coração que diz: pára! e um coração que diz: pára! e um coração que diz: PAZ!

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Alexandre Durratos
AVALIAÇÃO: ao avaliar a vida em palavras, excelente nas florestas são as trilhas das formigas, dou nota grupo aos búfalos, nota ave às árvores, nos peixes percebo a qualidade rios, nas baleias qualidade mares; vejo aos urros, cruzando os campos, em disparada, lá está a manada dos poetas em seus 50 tons de selvagens!
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Alexandre Durratos
e eu que pensava ser ela: ela é carioca! ela é carioca! olha o jeitinho dela andar: troca as pernas, bêbada, canta alto, cata os cavacos pelos cantos, braços abertos sobre o corcovado, e eu redento, eu pensava ser ela motivo de aplausos no posto nove, quando a chama acesa mergulha no mar, era isso ou o trato no desenrolo com cana, a grana era pouca, a multa era muita, mito: trava a ponta, maloca ou engole, e eu que entretanto pensava, enquanto pensava, ela pira, e eu que pensava cerveja servida no copo enquanto ela pinga, de bico, direto do gargalo à garganta, enquanto fazia elogios, enquanto fazia e desfazia, ela xinga, cospe, bate, rude, olha que coisa mais linda que vem e que "passa a carteira!", uma graça, balanço, na onda, que vem e me passa a rasteira, quando ela "perdeu playboy!" também era quando _já era! motivos demais para esquecê-la - quem? - já meteu o pé e saiu batida levando os meus sorrisos de smile que ainda nem digitado tinha, agora faz tumulto no meu zap-zap enquanto que coisa mais bela tenta trocar meu celular por uma pedra da gávea, e a paisagem de um lindo domingo de manhã no alto da rocinha _essa não tem preço! ...era tudo ela, por causa do amor...
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Alexandre Durratos
Quando vim para esse mundo já trouxe as mãos calejosas... A peristalse me deixava como? Atento pro ataque à bomba! Soube dos nervos à flor da pele __pela bílis, o fel amargo, a dor no fígado, a depender do cheiro era vômito, mas nos dias ensolarados provei dos desejos, sabores raros, salgados, doces, bico fino, e tesão era ver um par de seios inchados, até que tarde da noite, se o macho vinha com graça... Socando! Socando! Socando por baixo! ...e se eu não fosse baiano também não tinha macaco pro lado _num salto mortal escapei do pior! Agarrei nos pulmões e no desespero subi, escalei as costelas e só fui me acalmar ao som das batidas do coração. Então veio o Fla-Flu _a cada gol dava um chute! _a cada gol dava um chute! Daí me empolguei de vez, mergulhei de cabeça, empurrei o baço, a bexiga, meti a mão na buceta - e já tava lá fora, pra fazer valer o meu fim: só mais um flamenguista a pagar as contas em dia, e fazer minha torcida pelo pay-per-view!
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Alexandre Durratos
Compute-se por anti-matemática! Se não há pressa também não há medo! Acabou a luz, fricção de corpos: energia estática, então: pra quê máquina? Esqueça lá fora, o lance é aqui dentro, então: concentre-se!! O computador traz dor computada, não desvirtue: divirta-se! Conecte-se ao eu interior, sem intermediários, mídias, rastros diariamente, relatórios pra nada! Acabou a luz, a cruz, a virtude acende, então: ascenda-se! Desligue-se! Abra a janela, sinta o vento, areje o cérebro, pressione o enter, nosso programa pra esse momento é: aprecie-se!