Por: Simone Gomes Firmino
Nasce ali. Ali onde? Qualquer lugar. Embaixo de uma ponte. Na calçada. Em lote baldio ou com muita sorte no leito de um hospital público. Sorte? Não há sorte. Público? Não há público. Ou melhor há público, este para presenciar o espetáculo do descaso. Descaso de quem? De quem deveria assegurar a segurança de nascer. É assim quando se nasce pobre, preta ou mestiça no país do carnaval. A pobreza e a pungente escravidão se tornam também um espetáculo assistido por um público, agora diferente, um: respeitável público! Veio a esse mundo para que? Não sei. Dançar talvez. Entremeio às literalidades sufocadas, de fato dançar. Dançar o que? Samba. Catira. Pagode. Forró. Axé. Frevo. Capoeira. Dança conforme a música? Sim e não. Posso dançar seguindo os passos dos meus ancestrais ou posso dançar criando meus próprios passos. Não é escolha. Porque escolha não tenho. É reexistir. É reconstruir. Mas, o que não existe? Eu. E o que foi destruído? O meu direito de ser gente. Alice! Alice! Quanta tolice!