No Brasil, marchamos porque aproximadamente 15 mil mulheres são estupradas por ano, e mesmoassim nossa sociedade acha graça quando um humorista faz piada sobre estupro, chegando aocúmulo de dizer que homens que estupram mulheres feias não merecem cadeia, mas um abraço;
Marchamos porque nos colocam rebolativas e caladas como mero pano de fundo em programas deTV nas tardes de domingo e utilizam nossa imagem semi-nua para vender cerveja, vendendo a nósmesmas como mero objeto de prazer e consumo dos homens; marchamos porque vivemos em umacultura patriarcal que aciona diversos dispositivos para reprimir a sexualidade da mulher, nos dividindoem “santas” e “putas”, e muitas mulheres que denunciam estupro são acusadas de terem procuradoa violência pela forma como se comportam ou pela forma como estavam vestidas;
Marchamos porquea mesma sociedade que explora a publicização de nossos corpos voltada ao prazer masculino seescandaliza quando mostramos o seio em público para amamentar nossas filhas e filhos;
Marchamosporque durante séculos as mulheres negras escravizadas foram estupradas pelos senhores, porquehoje empregadas domésticas são estupradas pelos patrões e porque todas as mulheres, de todas asidades e classes sociais, sofreram ou sofrerão algum tipo de violência ao longo da vida, seja simbólica,psicológica, física ou sexual.
No mundo, marchamos porque desde muito novas somos ensinadas a sentir culpa e vergonhapela expressão de nossa sexualidade e a temer que homens invadam nossos corpos sem o nossoconsentimento;
Marchamos porque muitas de nós somos responsabilizadas pela possibilidade desermos estupradas, quando são os homens que deveriam ser ensinados a não estuprar;
Marchamosporque mulheres lésbicas de vários países sofrem o chamado “estupro corretivo” por parte de homensque se acham no direito de puni-las para corrigir o que consideram um desvio sexual;
Marchamosporque ontem um pai abusou sexualmente de uma filha, porque hoje um marido violentou a esposa e,nesse momento, várias mulheres e meninas estão tendo seus corpos invadidos por homens aos quaiselas não deram permissão para fazê-lo, e todas choramos porque sentimos que não podemos fazernada por nossas irmãs agredidas e mortas diariamente. Mas podemos.
Já fomos chamadas de vadias porque usamos roupas curtas, já fomos chamadas de vadias porquetransamos antes do casamento, já fomos chamadas de vadias por simplesmente dizer “não” a umhomem, já fomos chamadas de vadias porque levantamos o tom de voz em uma discussão, já fomoschamadas de vadias porque andamos sozinhas à noite e fomos estupradas, já fomos chamadas devadias porque ficamos bêbadas e sofremos estupro enquanto estávamos inconscientes, já fomoschamadas de vadias quando torturadas e estupradas por vários homens ao mesmo tempo durante aDitadura Militar. Já fomos e somos diariamente chamadas de vadias apenas porque somos MULHERES.
Mas, hoje, marchamos para dizer que não aceitaremos palavras e ações utilizadas para nos agredirenquanto mulheres. Se, na nossa sociedade machista, algumas são consideradas vadias, TODAS NÓSSOMOS VADIAS. E somos todas santas, e somos todas fortes, e somos todas livres! Somos livresde rótulos, de estereótipos e de qualquer tentativa de opressão masculina à nossa vida, à nossasexualidade e aos nossos corpos. Estar no comando de nossa vida sexual não significa que estamosnos abrindo para uma expectativa de violência, e por isso somos solidárias a todas as mulheresestupradas em qualquer circunstância, porque foram agredidas e humilhadas, tiveram sua dignidadedestroçada e muitas vezes foram culpadas por isso. O direito a uma vida livre de violência é um dosdireitos mais básicos de toda mulher, e é pela garantia desse direito fundamental que marchamos hojee marcharemos até que todas sejamos livres.
Somos todas as mulheres do mundo! Mães, filhas, avós, putas, santas, vadias...todas merecemos respeito!
Carta Manifesto Marcha das Vadias – Brasília Reproduzida pelo Fórum Goiano de Mulheres – AMB (Articulação de Mulheres Brasileiras)
Apoiado! Esse é um movimento fantástico que merece todo respeito e apoio! Marchemos vadias!
ResponderExcluirO pior é que quando esses "caras" chegam na grande mídia se acham os "donos da verdade" e a crítica "deles" vale, a do povo não!
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