não falo de mim mesmo
falo do tempo que alastrou raízes
e me levou a esse gosto miserável
insípido dos poetas
que nada dizem
pois a palavra é um verso infinito
sem métrica e destino
que vive ao léu cheirando destroços
primavera maldita
que não volta
perambulo em becos e bares
todo mundo sabe
dentes cerrados
calça surrada
os passos ouvem
a fala falo
que vai em ti
esbarro teu tempo no meu tempo
teu corpo no amor
que cresce a cada milésimo de segundo
explodindo Artaud
e toda poesia-delírio
de séculos de resistência
pois a palavra insisti infinito
na miséria
eu e meus drinques
bodisatva safado
de asas quebradas
anjo esquecido
que linda manhã de dezoito de janeiro
devassa me excita!
nas escadas
dos girassóis sombrios
que perpetuam pensamentos
você vê
a miséria sempre ao lado
longe perto distante
demônio ultrapassado
você não vê a luz radiante
que perfura corações otários
empregos idiotas
validam vidas em vazio contínuo
oração é feita pra cair
quero pernas abertas
e não essas pequenas regras
destinadas ao tédio
a iniquidade da prisão
quero nem que seja a força
minha saúde e cinismo
expostas mais do que ferida
você se perdeu
nos palácios
que a imaginação moldou
e agora sem medir esforços
a lucidez e vertigem querem compulsivamente
o caos que
transita cá dentro
querem meu delírio
o carnaval que toda noite anuncio
cicatrizes na barriga
que 2004 me dividiu
querem e querer
é uma palavra
morta nesse mundo antiquado
quero e não quero
ao mesmo tempo
no mesmo tempo
no tempo
quero
e não quero
sou ator-fingidor
filho da puta
nietzsche bebeu
o caos cá dentro
no centro do sentimento
que nunca é centro
eleva em cima em baixo
inferno , paraíso
tragédia, glória, fracasso
estava aqui ali
tudo junto, misturado
ninguém certo, ninguém errado.
Muito bom.
ResponderExcluirAbraço
Valeu, Daniel!
ExcluirAbraço