sexta-feira, 15 de março de 2013

AO AMIGO DA POESIA ELÉTRICA PRIMITIVA SELVAGEM



(Por Diego EL Khouri)

A Edu Planchêz

De que estrelas caímos um de encontro ao outro?
Nietzsche

Amigo, tua poesia me encara sem nenhum  pudor
livre de qualquer nota final
uma aurora que pouco se mexe
 cores primitivas em um denso céu
me encontram vestido
de um cinismo que mareja olhos
uma boca trincada de ódio
assim me encontra essa aurora
em pleno estado de  êxtase
me trás de volta a infância
num jato de guerra perdida
maculando corpos ingênuos
com porra e palavrão

a tempestade é vida
 carinho elétrico
na paisagem sombria
conexão abstrata com o perigo
o soneto mais belo
todo mar
toda vertigem - poesia

 "a cura está no entregar-se ao outrem,
nas bandeiras vermelhas do barco que ora avisto"
assim  tua voz me grita

só nas esquina, garrafa sempre a mão
eis me novamente nu
as portas da mente abertas
 fogo  me queima a alma
e  ferve como demônio numa panela de delírio gasto

mijar em frente ao santuário
colhendo margaridas esquálidas
é festa que se ergue em meu peito
sublime tentação
morder fetos impedindo a comensuração do ser

a cura está em ferir
possuir todo paraíso que não existe

somos amantes da poesia
que grita, xinga, berra ,vomita

num espaço de sois embriagados
num  barco qualquer sem destino
clown melancólico num teatro simples
delacroix e seus movimentos firmes
queimando a vida mais que qualquer  grito

um silêncio que se faz poesia
crimes na ampulheta sorrindo
a quietude dos instintos
cântico ditirâmbico que nunca se extingue

sinto a face fugindo
e
vindo

o corpo subindo
e
 caindo

aparecendo
e
 sumindo


as chagas de cristo
distribuídas numa chacina
em qualquer avenida

bodisatva na areia

meus olhos te persegue
encaixado nas suas mulheres
que são minhas também

rubens zachis nos acompanha
nessa noite esfumaçada
na antiga jacarepaguá

estivemos muitas vezes na lapa
só para contemplarmos as  pernas
que aparecem sumindo
em saias rodadas com as machas cruéis da faca sem corte
 beleza que atordoa e alivia

(a dor no estômago...
parece fim dos tempos)

vem e me dá a receita
desses teus remédios, edu planchêz
mesmo sabendo que nunca os usarei
me dê a receita e me mostra o caminho

meus pés debilitaram pelas convulsões
que hora em Goiânia não mais sofro
não dessas dores e sim as outras...

ah essas não tem cura, meu amigo!

me conta como saíste da loucura
para voltares ao belo êxtase
me conta logo, amigo

estou perdido...  mais uma vez perdido
multifacetado numa loja de espelhos
a glande em uma das mãos
a outra no queixo

me vejo em mil faces, mil vidas
bebê em nova moradia

traços de infância

meus pés agora andam
numa poeira cósmica de amor

voltarei em breve à tua casa

na mochila levarei:
 livros, discos, estrelas, desejos
cigarros, maconha e poesias

não me verás como um homem
que vomita massa envelhecida
e sim alguém que abraça em desespero
e senti a vida como nenhum outro sentiu

assim me verás, assim te verei

cabeça erguida sem medo de revelar

o aluguel  mais uma vez vencido
o nome no serasa e na delegacia
e principalmente, principalmente
as exuberantes feridas
que há nove anos exibo na barriga.

2 comentários:

  1. esse é um daquele poemas que a gente lê e fica com os olhos marejados de emoção, que nos carrega no turbilhão das paixões pela pureza das verdades certeiras lançadas ao vento que trai a noite e que revela toda profundidade de uma alma forte e libertária.

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