Abaixo os meus três poemas selecionados para a Antologia Veloso:
TAL QUAL CORDA BAMBA
eu atravesso
oceanos
na calda de ninguém
mamute que destroça
cimento
nos dentes de
marfim no ouro de alguém
eles são fuzis
fezes
sangue coalhado de
criancinhas famintas
acolhidas pelo
crack
lembro muito bem
aquele
inverno de 2004
porres incompletos,
beijos frívolos
Rimbaud sobre a
mesa
e paredes
muitas paredes
se fechavam cada
dia mais
pela masturbação
proferida a ti
naquelas madrugadas
de torcicolo brutal
eu agarrando
estrelas
numa minúscula cama
suja de sêmen e bílis
tal qual corda
bamba
cometas em festa
comum
ah madrugada!!
o que poderia dar a
ti
se de mim roubaste
tudo?
lamentaste a sina
bandida
que és
levaste tudo embora
inclusive meus
crimes
e as dívidas de
mercado
para sucatear meus
sonhos
que viraram
cicatrizes na barriga
e apendicite
supurado
são inconfundíveis
os olhos dessa
terra
esses meninos
nos sinais
a implorar migalhas
que a sociedade
atropela
corpos descartados
deixados de lado
minoria nojenta
fede e tritura
qualquer pensamento
de libertação
ah madrugada
dos
sonhos impossíveis
trouxeste a quimera
que pedi?
quero sexo em
ventre e alma
a tentação me veja
como alvo
e me beije a face
mil olhos
de vulcão,
tempestade, estrelas
é tudo a mesma
coisa
o mesmo cheiro
pelos, entranhas
língua na língua
descobrir teu
corpo
alimentar tua sina
ó madrugada linda
que clareia meus
olhos
és amor e paixão
misturadas com fogo
e pele
nos marcaram como
gado
trataram de
espalhar nossas dívidas
nos
apunhalaram pelas costas
e rasgaram
nosso tratado
vilmente sem
repeito algum
a nossa história
madrugada insonsa
covarde
as palmas de minha
mão
cobrem orelhas
ajoelhado no centro
da cidade
uma chuva
torrencial
lava meus cabelos e
minha alma
não há motivos para
acreditar
no pai nem no
estado
me fala a luz dos
semáforos
repleta de mentiras
e sonhos
não creio em
inferno ou pecado
a poesia comportada
muito menos em
gêneros comprados
porta voz das
portas escancaradas
e venenos tóxicos
eu desafio as
regras lambendo feridas
desconexas
do outro lado da
moeda (!!!)
(ninguém me ouve,
ninguém me vê)
assim espero.
(Diego El Khouri)
AOS POETAS QUE AQUI CIRCULAM
já me vi dentro desse colo abafado
na subtendida palavra
até o útero onde me abrigo e embriago
cada gota de pecado
quero a tentação do meu lado explorada
cintilante paisagem
permaneço sereno em seus olhos apaixonados
não me vendo ao acaso
faço do meu tempo, da minha história
uma viagem inimitável
(atitude inevitável)
Abro os braços...
tá vendo de camarote, ó linda paisagem?
(olhares ríspidos, conveniências, miragens)
e a hipocrisia que escapa de alguns
poetas
que a cada dia transformam seus
poemas-porradas
em meras bonitinhas palavras.
(Diego El Khouri)
DENTRO DE TI
Fazes de meu corpo casulo.
Teu ventre minha coberta.
Pele branca, nudez pronta.
As línguas se lambuzando.
Depois tuas pernas no meu ombro.
Com os seios vai beijando.
É linda a madrugada de setembro.
Nossos corpos se encaixando.
Sorris um sorriso parecido com pranto.
Pranteia a lua, a tarde vai se pondo.
Somos dois amantes à deriva.
Nossos quadris se entrelaçando.
Com um leve toque de mãos
tomba a noite (a noite) e o dia insano.
Fazes de mim objeto estranho.
Dentro de ti eu vou entrando.
Finda a existência.
Eu morri e bem sei que também morrestes.
És de uma beleza sem precedentes.
Tu vais se lambuzando no meu leite.
Boca e língua, pele e pelo, pelo e pele.
A nossa cama está repleta.
Estrelas, vozes e desejos.
És linda, lasciva... Ah, és perfeita!
Mordes no pescoço, solto os braços.
Te aperto contra o ventre.
Continua os movimentos contínuos.
Essa é a nossa ginástica, essa é a nossa agonia.
Tu agora de bruços.
Bunda pra cima, boca pra baixo.
Com um apelo super apaixonado
vou devassando teu íntimo.
Não há mais vozes e sutilezas.
Deitada na cama, tu és uma princesa.
Tuas pernas trêmulas, voz rouca.
Roubamos o infinito para nossa surpresa.
* * *
Meu corpo deixou de ser casulo.
Teu ventre não é mais coberta.
Volto para casa pálido e sozinho.
És linda, porém a noite é mais bela.
(Diego El Khouri; Maio, 2009)
Tanta liberdade tu clamas e tantas vidas vc reclamas... Roberto Piva poderia ler isto...Eu fiquei (como sempre) paralisado, sem argumentos ou palavras depois de ler isto.; Qual seria seu amor mais intenso: Pintura, poesia... vida como arte e vice versa... Parabéns ...
ResponderExcluirAs poesias são densas de uma intensidade que ultrapassa qualquer dimensão, Também não creio em inferno ou pecado.
ResponderExcluirLágrimas de emoção no primeiro poema onde vc diz
"ah madrugada
dos sonhos impossíveis
trouxeste a quimera que pedi?" I
isso tocou profundamente a minh'alma que chora sobre mim e não entende a vida,