segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

VERA FISCHER

 (Por Diego El Khouri)

Vera Fischer sempre será bela
mesmo que suas entranhas ardam
vinagre e alho com catupiri.
Sua beleza é eterna como o vazio.

Assim a concebo na minha mente
ao lembrar de minha infância
quando as escondidas ligava a TV
para vê-la pelada na tela.

A mais bela das mais belas
estilizadas criaturas da mídia.
Seios e bunda e elegância.

Ser místico de um fascínio imponderável.
Com  a mão direita no desejo
lembro de minha infância horas a fio no banheiro.

sábado, 29 de janeiro de 2011

JUNHO

( Por A wild blumen)

Seu amor
cresceu como lombriga
Parasita,
prejuizo, canseira
Sugou meu
sangue
Esvaziou minha
carteira
Nada a
declarar, não quero briga
Com sua
nova alma gêmea
Que não sei
onde acaba a teta
E onde
começa a barriga
Ciratura
horrenda
Como tua
alma
Sempre a
venda.

MUSA

(Por Diego El Khouri)

Sou poeta porque és a musa
que embriaga meus versos.
Anjo de volúpia – nua sempre –
tua virtude resume-se ao seio e a bunda.

És puta, és deusa, és rainha.
Anjo encarnado de inocência.
É carência o que leva-me aos teus beijos
que tem gosto de Morte e veneno.

A existência é um invólucro sereno.
Penso com o que há de mais carnal
exposto nessa calça que arrebenta.

És puta, puta, és bela.
Quem move e gira a Terra.
Estamos no mesmo barco, minha bela.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

SONETO

(Por Diego El Khouri)

Sou poeta porque és bela.
Tens  em teus olhos o Eterno.
Anjo de Sodoma, do regresso,
quero-te nua na janela.

Espírito de Byron, sou o pecado
nu revestido em poesia.
Desejos, ventres, noites e alegrias
fixados, perdidos em teus olhos embriagados.

Perfeita em tua própria imagem.
Miragens de volúpia, sombra e luz.
Pus despejando em tenras paisagens.

Sou o desejo de tê-la comigo.
Cabelos encaracolados da cor de luto.
Te admiro, pois és a única beleza desse mundo.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

ALAN LETTIERI - O POETA DAS RUAS,O FILÓSOFO DAS CALÇADAS

foto: cidade de Pirinópolis-GO

(Por Diego El Khouri)

"Eu tenho medo de morrer e deixar as pessoas que me amam e gostam de mim, e de não fazer tudo o que quero, de me esquecerem, mas sei que mesmo morrendo estarei no coração de todas que são especiais, que valeu a pena viver perto delas. O resto é nada, é bosta."
Alan Lettieri


Alan Lettieri Vargas. Um poeta nato. O filósofo do cotidiano. Tive o prazer de conhecer esse rapaz em Pirinópolis no final do ano de 2010. Apesar da pouca idade ele já passou por tudo: Prisões, drogas, quase morte, amores, poesias e viagens diversas. Numa noite de porre num bar de Goiania resolvi entrevistá-lo, aliás, não seria bem uma entrevista, e sim um bate papo totalmente informal que coloco aqui na íntegra. Como uma metralhadora tentando se controlar, o nosso Neal Cassady brasileiro, nos conta de sua nova fase de vida:

Qual a diferença do Alan de ontem para o Alan de hoje?
Antes eu não era nada. Eu to começando a ser alguma coisa. Começando a juntar os cacos e me equilibrar. Eu decidi ser uma  pessoa diferente de todas. Antes eu rejeitava as verdades. Eu sempre quis e sempre tive minhas opiniões , mesmo fazendo coisas que não eram tão certas, reconhecia o erro e às vezes cometia o mesmo erro sempre, hoje tenho minhas opiniões e meus ideais e estou indo atrás disto cada vez mais!
Por que você costuma dizer que tem dois caminhos: a loucura e a insanidade?
 a loucura é o jeito de cada um viver como se fosse o último dia, mas sem sair da realidade, e insanidade é você acabar com a própria vida, usando drogas lícitas ou ilícitas, achando que esta vivendo intensamente, mas isso não é viver intensamente!
Pra você o que é ser livre?
Ser livre é você dominar suas ações, ter liberdade de sair de casa, de fazer o que quiser, ter liberdade total de expressão e  dominar seus sentimentos. Você sai de casa e ela vai estar lá, no mesmo lugar,  ser livre  então  é você principalmente  ter opiniões diferenciadas da massa. Você estar fora do resto.
 O que de bom e ruim as drogas lhe proporcionaram?
De ruim foi meu corpo ficar fraco pelas tantas vezes que embarquei a fundo em coisas loucas. Minha mente vem fortalecendo mais e mais buscando o que é certo e errado. Mesmo eu usando tô lúcido pra saber o que quero. Hoje não preciso de mais nada, apenas ser feliz. Exemplo: certo dia eu estava na casa do meu tio e além dele estava meu irmão e a amiga dele. No fim da noite meu tio perguntou se eu estava bêbado. Eu respondi, “como poderia estar bêbado bebendo oito litros de coca-cola?! Falei então que eu consigo ser feliz sem drogas e sem álcool.
Como você, totalmente urbano, um poeta do asfalto, vive em Pirinópolis, uma cidade cercada de florestas, montanhas e cachoeiras?
Eu gosto de natureza e ar livre. Passo horas na cachoeiras sozinho.  Eu viajo em pensamentos como se tivesse fumado uma maconha. Muitas pessoas dizem que sou louco , na verdade eles tem inveja porque eu consigo usufruir as coisas belas da vida sem precisar sair da realidade.
Depois de enfrentar tantas vezes a morte, como você vê a vida?
Hoje eu vejo  vida de outra forma. Desperdiçava muito tempo na ilusão. A loucura do uso exagerado de entorpecentes por medo de encarar os problemas da realidade leva a um abismo que pode ser tarde demais  às vezes, às vezes  também não (risos).
Pensa que dessa maneira vai encontrar o que quer?
Acho que sim. Vou descobrir com o tempo. Estou apenas começando.
Fale de alguma loucura que já cometeu.
É dificil citar uma. Eu já  de fiz tudo  que você pensar.
E sobre o amor o que tem a dizer?
Um dia eu li que “o amor só vem mais tarde e que é privilégio dos mais velhos”. De certa forma eu me sinto mais velho.
 Qual o motivo de abandonar tudo, toda sua rotina comum, e mudar para tão longe de vez? Cansado da vida ou procurando ela?
Não é mudando pra longe. Vou tentar começar a construir a vida que demorei a reconhecer. Vai ser muito dificil, mas espero não estar enganado sobre isso.
Qual seu nome artístico?
Chuck Norris.
Ahaaha por que Chuck Norris?
Porque ele pode tudo, ele vence tudo.






terça-feira, 25 de janeiro de 2011

EU INDICO

Esta aí pra quem quiser baixar o livro desse magnífico poeta mineiro. Robson Sete e seus "13 Poemas ácidos no bolso da calça"

Capa http://www.4shared.com/document/R2YtfBVQ/13poemas_capa.html

Miolo http://www.4shared.com/document/oV_ju6CE/13poemas_miolo.html


E  o carioca Fabio da Silva Barbosa mostrando a real face do jornalismo na "A Saga do Jornalismo Livre - Escritos desordenados":

http://www.4shared.com/get/R2YtfBVQ/13poemas_capa.html;jsessionid=EE7ABB176C5E042BE46D6696C4859AE7.dc285

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

SARAU EM HOMENAGEM A CLARICE LISPECTOR

O primeiro Sarau Letra Livre do ano, que acontece no próximo dia 30, prestará homenagens a uma das mulheres mais importantes da literatura brasileira: Clarice Lispector


http://letralivrego.blogspot.com/

O Sarau Letra Livre acontece no último domingo de cada mês no Café Cultura (bar) do Goiânia Ouro. Depois de completar 2 anos, o projeto passará por algumas mudanças e também ganhará alguns aliados. "Em 2011 vamos levar mais a sério as homenagens que faremos no Sarau, pois elas são muito importantes e até norteiam as apresentações", explica o produtor Kaio Bruno Dias.

O primeiro Sarau Letra Livre do ano acontece no próximo dia 30 e presta homenagem a uma das mulheres mais importantes da literatura brasileira e mundial: Clarice Lispector. Além de apresentações de poemas e declamações de textos inspirados na escritora, estão previstas performances teatrais e uma exposição fotográfica com fotos de vários momentos da vida de Lispector.

domingo, 23 de janeiro de 2011

CADA UM NO SEU...

(Por Diego El Khouri)

Fácil faço falo
não te satisfaço
sócio fóssil dócil
sou escravo do ócio
torto torta todo
deus é a mácula do povo
fato talo tarado
minha mão tem pelo no saco
cato calo me acabo
o medo meu grande pecado
pato safo calado
cada um no seu quadrado
no seu quadrado
no seu quadrado
cada um no seu quadrado
cada um no seu quadrado.

sábado, 22 de janeiro de 2011

CECÍLIA FIDELLI


(Por Diego EL Khouri)
Essa é a grande curitibana, mestra da poesia, a incrível Cecília Fidelli dando seu recado:
 Quem é Cecília Fidelli e onde ela se agrega no campo da poesia?
 Sou Cecília Fidelli.
Poetisa e editora do REVIRAGITA POESIA.
Pertenço a várias instituições culturais do país,
tenho artigos e poemas publicados em vários jornais do Brasil,
participações em várias coletâneas e
convidada especial em vários livros de poesia.
Prefaciei o livro POEMAS DOMADOS SOB O SIGNO DA LUA
do poeta, músico e escritor de Brasília ANAND RAO
e tenho várias publicações independentes,
com o apôio da INFELIZMENTE EXTINTA -
SOCIEDADE DOS POETAS ALTERNATIVOS - do poetamigo
Marcos Franco - Vila Mariana - SP.
Recebí algumas homenagens e premios com
A POETISA DO UNDERGROU BRASILEIRO em
1998, 1999 e 2000.
Sou eloquente, contundente.
Falo de alegrias, sem omitir sofrimentos.
Gosto de ler e de escrever.
Curto Rock and Roll e MPB.
Não tenho ídolos.
Elvis Plesley, Lennon, Elis Regina, Gonzaguinha, Cazuza... já se foram.
Minhas preferências: Paulo Leminski, Mário Quintana e Pablo Neruda.
Aqui estou para relatar sentimentos e mostra as Cores da Alma.
Aliás, uma de minhas publicações oficiais é o livro CORES DA ALMA.
O outro livro: COISA NOSSA - Os dois... esgotados.
Venha, participe.
Vamos estreitar laços poéticos.
Paz e Poesia sempre, em nossas vidas.

  
Acredita que poesia sempre será uma arte para poucos?
 Não, eu não acredito nisso.
Um dia, todos terão direito e acesso à Educação em nosso país com igualdade
e isso fará uma verdadeira revolução em todas as mentes e as levará
ao hábito da leitura em geral. Por si próprios vão buscar mais conhecimento
o que trará novos comportamentos.
Infelizmente, caminhamos em passos lentos nesse sentido.
Talvez eu não esteja mais aqui para ver, mas acredito nisso.
Arte é função ou apenas entretenimento, como diz Lulu Santos?
Não. Função não.
A não ser para os Paulos Coelhos da vida que viam vender livros
no mundo inteiro e têm o apôio da mídia.
Poesia é vocação.
A poesia, a prosa e outras manifestações literárias chegam devagarinho,
vão cativando de mansinho, exprimindo em metáforas ,
em outras formas criativas.
Talvez seja entretenimento para alguns.
Muitos leitores descobrem afinidades com os autores.
No meu caso, por exemplo, ninguém ignora que eu "falo" mais que a boca.
Pra mim, tudo é motivo pra escrever.
Revigoro alguns,  causo constrangimentos em outros emitindo
sensações adversas diante de meus poemas.
E é bom saber que de um jeito ou de outro
faço com que alguns corações palpitem mais aceleradamente.
Como afirmou o escritor argentino - Júlio Cortázar,
" Escrever é uma luta contínua com as palavras.
Um combate que tem algo de aliança com as palavras".
Vivo "viajando" observando a vida,
vivo intensamente e transcrevo minhas emoções.
O que te empurrou para a poesia e a fez uma poetisa de tanta personalidade?
 Eu sempre escreví, desde a alfabetização.
Escrevia crônicas para o Jornal O Estado do Paraná,
lá pelos idos de 91, 92... mas tive que vir morar em S.Paulo.
Aí, cadê espaço pra ilustre desconhecida da metrópole?
Foi quando tive a idéia de transformar trechos de crônicas em poemas.
Em Curitiba eu frequentava muito a Biblioteca e a Feira do Poeta.
Lá conhecí alguns Alternativos Culturais e Fanzines.
Passei então a publicar o meu próprio alternativo,
o Reviragita Poesia e distribuir por aí, via postal.
Novos autores  e leitores foram surgindo e o
intercâmbio era inclusive com outros países como Itália e Cuba.
Era fantástico! O entusiasmo, só crescia.
Em suas poesias você aborda diversos temas, desde o amor até a morte. Schopennhauer dizia que “O amor é a compensação da morte.” Você também tem essa visão em relação ao amor?  Ele sempre vai  estar aliado a morte?
 O amor não é uma compensação da morte nem de nada.
Até porque, eu só acredito na morte do corpo físico.
Deus é eterno, sempre existiu e sempre vai existir.
Nós somos imortais.
Aí está a diferença.
Não faria sentido passarmos por aqui e sermos simplesmente extirpados,
digamos, sem alguma compensação.
Não o amor.
Ele é essencial.
Todo mundo ama alguém em algum momento da vida ou
alguma coisa, nem que seja um objeto e leva
para a espiritualidade, vai com a alma ou com a inteligência
como queira chamar.
Cada um de nós é uma centelha divina.
Tal seria.
Deus não "funciona"  à base de trocas.
Ele não precisa da gente pra nada.
Acredita em inspiração, ou literatura é apenas um trabalho constante com as diversas formas da linguagem,  de técnica e gramática?
A literatura pura é inspiração desprovida de interêsse pessoal,
diante de nossas fraquezas, diante de nossas impotências,
diante de nossas indignações.
Uma missão.
Consequentemente, um trabalho constante, árduo.
Aproxima ou afasta, pode realmente influenciar...
A responsabilidade de quem escreve é muito grande.
Eu tenho consciência disso.
Linguagem de técnica ou gramática é uma particularidade de cada um.
Como eu não me preocupo com isso
nunca parei pra pensar no assunto.
Eu quanto muito, às vezes, vou ao dicionário, buscar uma palavra,
um sinônimo mais bonito, mais poético.
Me preocupar com isso seria uma divisa, um lema.
Cada um na sua, não?
Eu nunca precisei de temas, mas de motivos.
Seria penoso demais deixar de lado a espontaniedade.
Seria como se tivesse idéias fixas.
Seria hipocrisia, dissimulação.
Um momento que te marcou profundamente.
 Foi quando publiquei meu primeiro livrinho, COISA NOSSA.
Era um sonho.
Hoje não vejo assim.
Uma publicação, lá no fundo, é bem uma vaidade,
uma realização pessoal mesmo.
Alcancei um certo desprendimento.
Aquela satisfação ficou pra trás, depois que atingí o alvo.
Mais ou menos isso.
O Brasil é um país de poucos leitores ou principalmente de poucos escritores?
Como diz minha amiga gerenciadora do blog
poesiaeoxigenio.blogspot.com - "O Brasil ainda será  um país de leitores."
Aliás, uma, de nossas afinidades.
As produções literárias estão aí.
Avançam.
Teremos leitores sim.
O homem vai vencer essa fase de materialismo.
As germinações de sentimentos, vão dar flores.
Trazemos dentro de nós o desejo de progresso, a evolução.
Os mais atrasados vão acabar se libertando lentamente.
Os instintos estão apenas subjugados.
Vão reconhecer a importância do amor com responsabilidade
como lei maior e buscar por sí só os prazeres da alma.
O que é a liberdade segundo sua ótica pessoal?
 Costumo dizer e tenho convicção, que é consciência tranquila.
É nos ajudarmos uns aos outros, nos aperfeiçoarmos
na arte de aceitar o outro como é, do jeito que vem,
do jeito que está.
Ser sincero consigo mesmo, respeitando pra ser respeitado.
O segredo, a ciência, é  não manter o coração vazio,
cheio de egoísmos.
Qual autor ou autores  que você recomenda e qual se arrependeu de ter conhecido?
 Não recomendo nenhum autor em especial.
Leio Mário Quintana, Paulo Leminsky e Pablo Neruda de vez em quando.
Ah! E Helena Kolody também.
Cada leitor tem que descobrir por si só com que autor se identifica.
Seria uma negligência da minha parte indicar.
Gosto não se discute.
Nunca me arrependí de ter lido esse ou aquele.
Os que considero desinteressantes ou menos nobres, descarto.
O que não considero bom pra mim pode ser bom para os outros.
E vice-versa.
Particularmente considero as tendências às condutas
e certos conceitos de entrelinhas.
Você acha que a internet vai acabar com o livro impresso?
 Diria que não.
Eu, por exemplo, adoro me ligar num bom romance
na beira de um quiosque na praia ou na beira do rio.
Não abriria mão disso.
E me permito, porque tenho o privilégio de morar no litoral Paulista.
Não vou dizer que isso me santifica, mas que purifica um pouco...
É assim que me sinto mais perto do Criador.
Um isolamento voluntário que se não me dá respostas,
pelo menos estimula as reflexões.
 
Uma poesia sua para terminar.
 Purgação.

Instantaneamente o tempo vira.
A nuvem aveludada e a brisa fresca
se unem, se concentram
visivelmente enfurecidas,
despejando água ácida,
que cai rápida
e a gente nem imagina
que as folhas verdinhas
não se deixam pender.
Um cenário de faxina.
A natureza se faz cartunista
e como a arte, pinta,
literalmente
o ápice ou
o fim de vidas.
Mas o mundo há de acabar,
num lindo dia de sol,
deixando gravados
amor e tragédias,
quem sabe
em quantos álbuns
de família .

Cecilia Fidelli.

Diego, muito obrigado pelo interesse pelo meu trabalho.
Quero deixar o end do meu blog.
- www.ceciliafidelli.blogspot.com
Sou sua fã.
Paz e Poesia,
Cecília Fidelli.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

AS(SIM)

(Por Diego El Khouri)

Poesia é assim
uma viagem sem fim
sim sim sim
poesia é assim
uma viagem sem fim.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A PUTA VIRGEM

(Por Diego El Khouri)

Era noite. Uma noite como outra qualquer. O tempo transcorria rápido e o relógio dependurado na parede da sala batia como um soco n'alma.

As virgens sombras dos delírios recaiam sobre a morbidez ultrajante das janelas trancafiadas. O calor era intenso; as vozes apavoradas dos uivos que se seguiam na vasta escurdidão da noite tardia assustavam até mesmo os mais incrédulos, e o vinho era o último consolo na madrugada.

Saibam porém que nunca tive medo; tinha recostado no meu leito de marfim a meretriz dos insanos devaneios, e com ela inevitavelmente me perdia e vencia minhas inquietações dessa alma um tanto errante.

- Sugava de seus lábios a angústia e de seu ventre o enlevo e no seu branco seio me embebia de loucura.

Meu corpo estremecia exataldamente ao toque lascivo de luxúria, e todos problemas, remorsos e desafetos pareciam viver distantes, muito distantes de meu humilde aposento que agora fervia como fogo em brasa. Era a desconstrução tempestuosa da realidade.

Sobre seu corpo lívido mais um gozo externecia meu insaciável apetite que reclamava ferozmente a ausência do amor e assim... assim mesmo entre suas entranhas... eu dormi.
Uma fina chuva de outubro começara e nós dois (seres pequeninos, ridículos e mortais) descansávamos em nossos translúcidos devaneios, e o cheiro forte do sexo continuava impregnado em nosso corpo febril, mesmo quando o dia timidamente se aproximava.

Despertei...

Levantei da cama semi-nu; preparei o café, esquentei umas duas torradas, olhei as horas e percebi que ainda era muito cedo para trabalhar; fiz a barba, lavei meus músculos cansados, li o jornal, vesti a roupa, coloquei meus óculos que me davam um certo ar de intelectual; observei... admirei mais uma vez a forma nua e voluptuosa que ainda delirava em seus sonhos de rainha, e saí: "Ora, era preciso também ganhar dinheiro!"

Ao longo dos dias aquela desgraçada sutil beleza penetrava em meus pensamentos, e mesmo se quizesse afastá-la de minha cabeça a imposição inebriada de suas coxas era algo incontrolável.

Lembrava constantemente de Sigmund Freud, o pai da psicanálise, e tentava arrancar do fundo de suas teorias a chave desse meu desejo compulsivo por aquela bela mulher. Sartre, Aristóteles, Epicuro, Emmanuel Kant... Nada! Filosofia nenhuma era capaz de explicar as loucuras que me levavam sempre ao seu encalço que muitas vezes era regido por uma repulsa interna e até um nojo estranho - o seu sexo "puro" de ninfeta e nauseabundo de puta me encantava, inconsciente, mas me encantava. E mesmo passado tantos anos, volta e meia me invande a mente o princípio de todo esse relacionamento cercado de mentiras, intrigas e prazeres escandalosos.

Tudo começou na noite de vinte e alguma coisa de... de... não, não em lembro exatamente o dia e muito menos o ano, lembro apenas que tal evento acontecera em meados de outubro a uns quinze anos atrás. A senhorita Desirré, famosa puta da vida boêmia de Paris que chegara há tempos no  estado de Goiás, logo tratou de abrir seu "estabelecimento comercial" na capital, que tinha como melhor produto jóias raras: vagabundas de brio, grandes deusas do prazer. Logo a cafetina francesa me apresentou uma menininha que desde o início me chamou a atenção; a jovem se chamava Marisa, uma moça criada no interior de apenas vinte e um anos de idade. Era uma irresistível tentação para um homem que beirava os quarenta e cinco. A ninfeta exibia um corpo delicado, branco e puro como a aurora, seios fartos que pareciam derramar leite, olhos distintos e penetrantes, cabelos negros como a noite, lábios vermelhos que lembravam nitidamente a cor do epcado, nádegas volumosas e envolventes. Ah! Como ela me enlouquecia!

Foi necessário apenas uma noite longa de orgia para me sentir irremediavelmente preso a esta musa diabólica e cada dia mais, cada movimento erótico de seu corpo, cada beijo ardente, cada toque caudaloso em meu ser me levava lentamente à morte, mas não era uma morte física e sim moral (...). A partir daí não envolvi com mais ninguém... - Ah, que ironia!... Como uma garota frágil pôde bagunçar a vida de um coroa tão careta e experiente?!

Depois de meses nos encontrando naquele antro de perdição, Eu - um romântico energúmeno - a instalei no meu querido lar e pela primeira vez senti o gosto real do amor.

Ao seu lado eu me sentia no papel de uma criança desprotegida, usurpando palavras doces no ar, brincando de ser feliz. Ela era a minha mulherzinha.

Vivemos juntos lindos dias. Apesar do meu trabalho árduo e estressante eu encontrava forças para dar-lhe muito carinho. Embora nossa relação fosse baseada exclusivamente no sexo o meu desejo perambulava por áreas transcendentais e sublimes do paraíso. Ela era um anjo. Um doce de pessoa. Ah, ela era a minha namoradinha e eu a amava muito!

Certo dia resolvi sair mais cedo do escritório e chegar em casa para lhe fazer uma grata surpresa. Caminhava nas estradas azuis do meu coração rumo à felicidade, olhava atento ao caos que reinava a metrópole conturbada, enxergava a uma certa distância as crianças nas calçadas imundas pedindo esmola, mas nada me aborrecia e a cada segundo que me aproximava da minha querida dama o meu peito dançava freneticamente e a respiração por momentos, um tanto ofegante. A sensação de tê-la logo perto de meus lábios me alegrava. E depois de alguns (eternos minutos) eu... cheguei.

- Nossa! Até que enfim cheguei em casa... Amooorr...

- O-o quê...?

- Quem é esse barrigudo aí na porta, Camila??!

- C-C-Camila???! Marisaaa!!!!!

Aquela prostitura ordinária estava em minha cama se contorcendo nas voragens do amor com um rapazote desgraçado, eu podia ver os dentes dele cravado em suas costas que a pouco eram só minhas, podia ainda ver ouvir os gemidos saltando de sua boca ingênua, seu corpo se afogando no membro hermético do moleque, os dizeres tolos que provavelmente minhas orelhas de abano já tinham registrado, seu sexo fatigado com os movimentos ininterruptos do amor...

Louco, incontrolável com a cena que acabara de ver, apanhei rapidamente a arma que se insunuava sobre o criado-mudo do quarto, gritei mais uma vez, eu estava extremamente agitado, minhas mãos tremiam muito, o suor escorria da testa corria como um dilúvio bíblico, as lágrimas escapavam de meu rosto como o último desespero de um homem apaixonado, lancei meu olhar de fúria ao rapaz que ainda se encontrava nu sobre o meu leito contaminado e xinguei, xinguei, xinguei repetidas vezes àqueles dois bandidos.

Segurei o gatilho, ainda tremia muito, mirei no belo crânio da jovem meretriz, veio em minhas tristes memórias toda uma vida malfadada presa a uma indústria medíocre e sem graça. Marisa (ou Camila, não sei mais sua verdadeira identidade) gritava compulsivamente pedindo perdão, que nunca mais faria aquilo, que me amava muito, que eu era o homem de sua vida... essas besteiras que a gente só diz quando é pressionado a dizer.

Friamente apontei minha arma em cada parte de seu corpo lascivo, lembrei de nossas sublimes noites pornográficas, olhei ao redor do quarto escuro, saboreei cada lembrança ardente de nosso recente passado, guardei em mim cada parte quente de sua figura feminina: suas nádegas, entranhas, seios, boca, nuca... TUDO (!), tudo descompassadamente volitava em minha alma. Mirei novamente meu trinta e oito em sua face pálida, segurei o gatilho copiosamente e vagarosamente, bem... bem lentamente... fui apertando... apertando... apertando... apertando o gatilho... e dancei um tango!!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

DO BLOG PERESTECA

É uma honra para mim ver no blog do grande poeta, contista e chargista Alexandre Mendes, a sua visão em relação a minha arte. Acompanho esse grande escritor desde a época do fanzine O Berro que ele fazia junto com Winter Bastos e Fabio da Silva Barbosa, zine que saiu em livro pela editora Independente. Tive a honra de conhecê-lo pessoalmente na minha ida ao Rio de Janeiro no final de 2010. Aí vai o texto que ele dissertou sobre minha arte e a poesia que  publicou. Para conhecer sua obra é só acessar o blog http://peresteca.blogspot.com/:

Diego El Khouri

(Por Alexandre Mendes)

Apresentação

  Ele é poeta, zineiro e artista plástico. Suas poesias me fazem viajar em dois sentidos opostos: Algumas, me levam para o passado. Outras, para o futuro. Tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, na última vez em que esteve por aqui, no Rio de Janeiro. O breve contato que tive com o cara, me deixou uma certeza: Sua produção artística nasce do seio de suas convicções sobre o mundo. A lapidação do seu trabalho é feita através do grande intelecto, que me deixou transparecer.
BLOG:
molholivre.blogspot.com

A seguir, Diego El Khouri nos deixa uma palhinha do seu trabalho, com uma poesia que nos faz refletir sobre o anseio de modificar o pensamento arcaico, camuflado de contemporâneo, desafiando as instituições caducas de nossa sociedade.


CONFESSIONAL


 Por: Diego EL KHouri
 
Eu quero ser a Morte e a ferida.
O veneno e a vacina.
Em vez de curar cutucar a ferida
no lombo de Deus, em nome da anarquia.

Eu quero ser a angústia e o pecado.
Quem está de "cara" e quem está chapado.
Ser a dor em suas maiores gradações.
A flor imunda que alimenta nações.

Eu quero ser o filho e o espírito.
A puta e o puto cínico.
O síndico do inferno e também do paraíso.

Ser um escravo de um burocrata louco.
Entrelaçado na divindade, encaixado num porco.
... Mas na verdade sou isso tudo e mais um pouco ...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O HABITANTE DE PÁRSAGADA

Vídeo "O Habitante de Pasárgada", sobre o poeta Manuel Bandeira. O documentário faz parte do DVD "Encontro Marcado com o cinema de Fernando Sabino e David Neves".

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

ERVILHA DA FANTASIA

Filme produzido pelo cineasta Werner Schumann em 1985 sobre o grande poeta Paulo Leminski:


<

domingo, 16 de janeiro de 2011

A CARRUAGEM DE DEUS

(Por Diego EL Khouri)

Nos contornos das coisas a forma abstrai
os ritmos em línguas impassíveis.
Ontem mesmo roubei um carro.
Possuir teu corpo parece imagem impossível.

Deuses aproximam-se da carruagem.
A viagem prossegue no ritmo do falo.
Te apertar contra meu peito...
Forte, rígido aniquilando paisagens.

Enquanto isso, fora do nosso mundo,
a chuva cai... corações afundam-se...
Certo é aproveitar o momento

que tua beleza propicia.
Meu nome é pecado. O teu é virtude.
Somos o lado de uma mesma moeda.

sábado, 15 de janeiro de 2011

SÉRIE "POEMAS VISUAIS DE BANHEIRO"



Essa é a série do poeta e músico Robisson Sete  e a ArtAttack em comemoração aos 2 anos do blog Hotel Sete.  Essa série de poemas visuais foi"exposta nos banheiros da cidade, nos bares, rodoviárias, pardieiros e casas de família". Para acompanhar esse grande poeta mineiro é só acessar seu blog ou comprar o seu livro, o “13 poemas ácidos no bolso da calça": http://hotelsete.blogspot.com/

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

??????????

(Por Murilo Pereira Dias)

Porque não posso dizer tudo o que quero?
Porque não posso chorar onde quiser??????
Porque não posso sair rindo sozinho??????
Porque não posso esquecer??????????????
quem é livre de um olhar????????????????
quem precisa de prazer??????????????????

quem quer ganhar dinheiro??????????????
quem quer trabalhar????????????????????
sentir o peso nas costas e continuar??????

pra quem perdemos a liberdade??????????
a quem devemos impunidade????????????
Sangrando em vão numa guerra santa!!!!!!!!!!

A paz pela morte
um sorriso por mais um dia
no paraíso mórbido
drogas consumidas em palavras repetidas

...o mais facil é o que custamos aprender
o impossivel é o que gostamos de ver....

...atração pelo desconhecido
somente uma curiosidade sem volta
um suicidio, um desprezo , um erro....
pobre auto piedade...monte a cruz
e pendure-se de cabeça para baixo.....

Demônio infeliz...pague o que deve!!!!!!!!!
Mar ao paraíso me leve!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Deus.....faça o que deve!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ViDa!!!!!!!!!!!!!!!! não me seja breve!!!!!!!!!!!!!!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

01:04 - DEPOIS DE UMAS HORAS DE REFLEX(AÇÃO) -

(Por Diego El Khouri)

Minha arte não expande pois falta capital. Anjos podres devoram as leis do acaso com suas presas de metal e  não tenho dinheiro. Escrevo uma, duas, dez poesias por dia e não tenho dinheiro. Me sondo, me investigo, me testo, me entrego e não tenho dinheiro. Amo uma, duas, três, um bocado de mulheres e não tenho dinheiro. Bebo pra cacete com minha garganta de deus possesso e não tenho dinheiro. Me como, me cuspo, me devoro e não tenho dinheiro. Minhas veias tilintam ao descaso do século e não tenho dinheiro. Me lavo, me sujo, me deito, me trepo e não tenho dinheiro. Sou feito fêmea com as molas da lascívia nas costas e não tenho dinheiro. Sou feito você e eu; de madrugada corvos beijam minha boca  e liquido as compras do Supermercado Real e agora sim, meus amigos desordeiros, eu não tenho dinheiro... e esqueçam fanzine, esqueçam... eu não tenho dinheiro.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

VICENTE JUNIOR - O POETA DO DELÍRIO


(Por Diego EL Khouri)


Vicente Junior. Grande poeta báquico, herdeiro direto de William Blake e Aldous Huxley. Um bardo polêmico e visceral com uma áurea profundamente mística. Quase um bodisatva. Esse goiano simples e complexo, me concedeu uma entrevista que aqui transcrevo. Dilatem os olhos e mergulhem no delírio poético e consciente de suas palavras:


 
Para começo de conversa, quem és tu?
Meu nome é Vicente Junior, conhecido artística e profissionalmente como VicentriX ou - o que tem sido mais comum - Vi. Romântico nato; sonhador convicto e libertário. Apesar de todo lirismo e amor pelo clássico, sempre fui adepto da contra-cultura, do faça-você-mesmo, da moderna personalidade contestadora; hora anarquista, hora revolucionário, hora ativista, mas - quase sempre - tudo junto. Um anticorporativista nato, irônico, cínico e apaixonado. Sou, em resumo, como certa canção diz, “amálgama de amores dançando a apatia”.

Ainda há espaço para a poesia, mesmo  nessa época tão fria e pragmática?

 Para a alegria dos poetas e sorte daqueles que “se esqueceram”, a poesia é – e sempre será – o prana que permeia todas as coisas e das quais faz parte, é a rede que sustenta o inconcebível, sem o qual o ser humano não consegue viver. O pensamento prático e frio que tem se tornado o estilo de vida (para não dizer, erroneamente, filosofia de vida) do mundo globalizado pós revolução industrial, por mais que pareça estar sufocando a arte, na verdade a está instigando. A poesia, a música, as artes plásticas e outras manifestações de arte são o canal encontrado por muitos para atingir subliminar ou descaradamente o consciente coletivo, levando mensagens que vão da busca pela verdadeira essência à revolução pessoal e social. A poesia, nesse contexto, se espalha de forma viral, como forma de comunicação entre os pensantes e, quando parece estar perdendo espaço, o está adornando.
Tua poesia que bebe na fonte do delírio e da purificação da alma, numa luta travada entre o lógico e o surreal, nos apontam vários caminhos tendo a filosofia, mais que a poesia, como o fio condutor primordial de sua arte. Dentro desse quadro, como ter um dialogo tão profundo e metafísico nessa sociedade onde as informações são tão velozes calcada apenas na busca material?

 Parte da resposta anterior inicia uma boa resposta para essa pergunta. O consumismo e a superficial necessidade de ter – em detrimento do ser – são hoje a grande inspiração (provocação) aos artistas revolucionários, pois alimentam de fúria o espírito libertário desses militantes multimídia. Daí, ser profundo é uma forma de afrontar a quimera da superficialidade divulgada, ser metafísico é um golpe na fronte dessa besta, é a tentativa de livrar o mundo da mítica ignorância. E a velocidade em que as informações transitam podem muito bem banalizar o conhecimento (o que não chega a ser ruim) e dissimular o pensamento com informações publicitárias fúteis e cruéis, mas facilitam a integração da “doença poética” que, apesar de aparentemente muda já canta aos de “ouvidos” atenciosos.

Quais os artistas que mais te inspiram e influenciam sua obra?

Sendo injusto com os nomes que não me vêm à memória agora, posso citar o mestre Virgílio, o grande símbolo do conhecimento Hermes, a filosofia socrática e os escritores de nossa era (ou bem à frente dela) como William Blake, Lord Byron, Hegel, Goethe, Manuel Du Bocage, Calil Gibran, Aghata Christie, Anne Rice, J.R.R. Tolkien, Krishnamurti, Olavo Bilac, Joaquim Manuel de Macêdo, João Cabral de Melo Neto, Nietzsche, Wilhelm Reich, Dostoiévski, Nicolai Dobroliubov, Julio Verne, Carl Sagan, Lima Barreto e muitos outros. Muitos pintores influenciaram o meu trabalho, porém os que mais me tocaram foram Van Gogh, Escher e Botticelli.

Devido a um ensaio que você elaborou na faculdade onde estuda, você se mostrou um conhecedor profundo, pelo menos em teoria, de drogas Psicotrópicas. Você tem a mesma visão que o William Blake, que os excessos conduzem à sabedoria e como Rimbaud que é preciso sempre estar bêbado para se produzir arte?

 Engraçado tu se lembrares disso. Nem eu me lembro.
Como estudante de design, faz parte do meu currículo estudar a percepção – em especial a visual. Nesses estudos pude comprovar que o cérebro humano é dotado de uma série de filtros (ou bloqueios) que servem para protegê-lo de uma realidade que a consciência talvez não suporte. Certas substâncias têm a capacidade de alterar a consciência, inibindo o efeito de tais bloqueios. Isso pode ser muito bem constatado no livro de Aldous Huxley As Portas da Percepção, onde ele registra a própria experiência com a administração da mescalina (peyote). Alguns outros métodos também conseguem promover essas aberturas, como privação de sentidos ou de sono, jejum, meditação, concentração e traumas. Mas o que posso dizer disso em relação à arte é que muito pode ser absorvido dessas psicoviagens, desde que certos métodos ou meios não sejam usados de forma irresponsável, para mera recreação. Os xamãs já fazem isso há muito tempo. É necessário, porém, que se compreenda que não é toda mente que está preparada para o choque que sofre o psiconauta. Sendo assim, bêbado ou exagerado, a poesia desabrocha no vislumbrar da realidade, mas cautela ainda é o verso de poetas sobreviventes.

Há uma certa alienação em sua arte perante os problemas atuais da sociedade. Essa negação se deve a quais motivos?

 A aparente alienação é, na verdade, um jogo de alegorias metafóricas. Cerco os problemas da sociedade com a argamassa de suas virtudes. A única coisa que nego é a imutabilidade: há metamorfose no meio, se houver transformação da consciência individual.

Como você chegou até a poesia?

Taurino de vinte e quatro primaveras, descobri a arte quando ainda criança, quando – ao contemplar a realidade pobre de minha infância – me dei conta de que o mundo não é lindo e que isso trazia certa beleza: era o advento da poesia. Crescendo em meio aos conflitos amorosos e financeiros dentro de casa, já refletia sobre o caráter mutável do mundo em relação à consciência. Medo, tristeza e desespero sempre me inspiraram a escrever, como se o mundo das palavras fossem o algoritmo de uma existência dentro da minha. E a descoberta da esquizofrenia do meu irmão catalisou o meu processo de mudança rumo ao abstrato, à “mente partida”.

Sei que é um cinéfilo  nato. Mesmo não estando tão implícito na sua poesia, em diversos diálogos você cita várias passagens de filmes. Fale um pouco sobre cinema, e quais os diretores que mais te inspiram.

 Adoro cinema e toda a poesia visual que impressionou o mundo ao aplicar dinâmica e lineariedade ao que antes era estática contemplativa. Porém observo com certa tristeza e decepção o caminhar suicida da Indústria (perfeita descrição de sua realidade, hoje) Cinematográfica rumo a se tornar – como todo o planeta – um universo vendido.
Não por originalidade, mas por ousadia e técnica, minha poesia se inspira muito nos irmãos Watchowski que dirigiram brilhantemente o zine-libertário-anarquista-ativista-não-impresso Matrix, que de forma subliminar esboça a nossa alienação coletiva. Tim Burton é um bom exemplo de como fazer arte sem subordinar sua criatividade. O tão aclamado Spielberg ainda habita muitas das perguntas que suas criações deixaram em minha memória. E não poderia deixar de citar o mestre Stanley Kubrik que, por razões obvias – no meu caso por Laranja Mecânica – se tornou um símbolo Cult do mainstream e do underground. Tem muitos outros, cujos nomes não consigo lembrar agora, mas aos não citados fica aqui a homenagem através de seus brilhantes títulos: 1984, Top Gun, Equilibrium, Cidade das Sombras, Ponte para Terabítia, História sem Fim, etc.

É possível viver só de arte?

 Sim. Aqui e agora, a arte não nos traria a subsistência necessária para sobreviver. Porém arte nos traz vida, promove em nós os sentimentos que superam de longe o mero entrar e sair do ar em nossos pulmões, nos faz enxergar mais longe. Na prática: viver sim, sobreviver – aqui e agora – , não.

As religiões em geral ainda estão mergulhadas num sentimento muito reacionário. Estamos no século XXI e as igrejas ainda se alimentam de um moralismo muito sectário. Importantes sacerdotes vão a mídia esbanjando discursos contra por exemplo, preservativos, mesmo sabendo a  quantidade de doenças sexualmente transmissíveis espalhadas por aí. Qual sua visão em relação as religiões e qual papel que a igreja tinha que desenvolver na sociedade?

Parafraseando um dos sobreviventes da queda de um avião, no filme O Vôo da Fênix, prefiro pensar que “a religião separa os homens, mas a fé em algo os une”. Não há muito o que falar sobre a religião, mas seu caráter de pregação do que é transcendental deveria impeli-la a praticar ações que auxiliem no processo de mudança sem preconceitos, sem limites morais unilaterais que na verdade são meros pontos de vista muitas das vezes.

Pra você o que é o amor?

É o vislumbrar da única liberdade.

Deus?

A inegável força que rege o universo e que é responsável pelas sinapses de tudo o que há na realidade. Longe de ser vingança ou interesse, é simplesmente força. A força.


A liberdade?

É a arte primeira. A poesia venal. A destruição do querer ser para a gênese do apenas ser.

Acredita em vida após a morte?

Não acredito no princípio terminativo da expressão. Creio em transformação, numa existência cíclica em diferentes formas e linear, após o toque urente da liberdade.

Para terminar uma frase.

 “Ninguém é mais escravo que aqueles que falsamente se acreditam livres” Goethe

terça-feira, 11 de janeiro de 2011