segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

ENTREVISTA COM O POETA RAFAEL VAZ

Por: Diego El Khouri

Conheci esse poeta  nas estradas da vida. Além de poeta é performer e zineiro. Abaixo a entrevista que fiz com esse "bardo louco" (e nesse link endereço do seu bloghttp://poetarafaelvaz.blogspot.com.br/) :




1) Como foi seu início na poesia e de que forma a literatura modificou seu olhar como artista?

Sinto me muito feliz que em fim alguém perguntou coisas a mim. A poesia nasceu da necessidade do silêncio. Meu contato no começo era apenas pelos livros do Vinícius e do Drummond e do Bandeira. Eu era chato e preguiçoso para ler mais livros. Quando me mudei para Goiânia ao dezessete anos, me senti um animal fora da selva e teria um longo tempo de adaptação, então escrever foi uma forma de não enlouquecer nesse processo, influenciando depois muito no meu trabalho e linha de escrita. A literatura com certeza foi a causa de toda loucura que é minha vida pois foi justamente minhas leituras que abriram os olhos e hoje ter me tornado o que os outros chamam de pessimista. Acima de tudo a literatura no liberta de muitas amarras e uma inclusive é, contra nós mesmos.


2) Você transita entre Altamira (PA) (sua terra natal) e Goiânia (GO). Qual a diferença da vida artística nessas cidades e o que é preciso ser feito para a população ter acesso à cultura?

Se essa pergunta fosse feita há alguns anos atrás, eu diria tristemente que Goiânia é um outro mundo. Goiânia é um outro mundo. Mas Altamira hoje tem uma cena poética maravilhosamente movimentada graças aos meus amigos poetas daquela cidade, como os meus amigos Aline e Fabiano Vitoriano, que comanda um sarau mensal na cidade. Eu nuca pude exercer a função de poeta em Altamira, gostaria muito um dia. Agora em Goiânia o meu processo está todo ligado a partir do momento que saio de casa. Minha conexão com a cidade é essencial para meu processo de criação. Eu deixo partes de mim por todo lugar que eu vou em Goiânia. Eu acredito que a cultura precisa falar a língua do povo. A população quer saber primeiro se vai bem recebida, bem tratada. Sempre temos um pé atrás com quem nunca nos deu nada. Sabe como é, né?

3) Agora falando mais especificamente de Goiânia. O que tem a dizer dos saraus que ocorre na cidade e dos poetas que ultimamente estão em atividade e que se apresentam nesses espaços?

Já faz uns três anos que temos nos decepcionados com esta cena que sobe,desce (literalmente) nos tem apresentado a poesia goiana. Temos um grande poeta de um livro só. Velhos burgueses barrigudos que só tomam chá na nossa Academia Goiana. E jovens poetas que não conhecerão estes outros. Somos cada um por si e todos por um poema eterno. Saraus já não nos satisfazem mais. Goiânia funciona a partir de como os burgueses querem que vivemos. Estamos todos perdidos. E em meio a tudo isso, eu deixo um lambe, um poema, um grito. Precisamos ocupar todas as ruas. Quebrar nossas tvs. Exagerar de arte e poesia toda e qualquer pedaço de cidade.

4) A idéia de "interferência artística" na cidade modificando o espaço é uma de suas ações rotineiras levadas sempre aos extremos das ruas: lambe lambes, fanzines, poesias na rua, etc. Nos conte qual a função  que a rua tem no seu processo  artístico e qual a importância que esse tipo de vivência tem em sua vida.

  Eu sempre gostei de caminhar e isso me levou a conhecer toda cidade. Minha ação pela cidade sempre foi um pedido de socorro, um "olha pra mim!". E foi assim, que depois a conexão se tornou mais forte depois das experiências de morar na rua que ocorreram tanto no Rio como em Goiânia. A rua é cheia de histórias bem mais bonitas que essa que o sistema cria para gente. Conheci pessoas maravilhosas que um dia gostaria de encontrar. São tantos os lugares que interferir que gosto de sentir que sou um pedaço da cidade.


5) Nos fale sobre o seu  zine "O ano que perdi amando". 

No início do ano eu passei por uma crise muito forte e acabei queimando todos os meus papeis e trabalhos e documentos e tudo que carregava. Virei um um poeta do zero. Depois de certo período de tratamento eu enfim fui reincorporado ao mundo dos poetas, com poemas que acredito serem bem mais maduros que os que queimei. e assim nasceu "O ano que perdi amando", de uma desilusão amorosa carregada de luxúria. Mas essas histórias terminam mal que pra acaba amando. e como poete eu contei. É meu preferido porque é o tipo de poesia que me agrada.



6) Como você, estudante de artes visuais em licenciatura, encara o poder revolucionário da educação? De que forma pensa em contribuir nessa questão, ainda mais sabendo que vivemos em um Estado que manipula o ensino desde a base?

A Licenciatura tem sido uma grande surpresa pra mim. A educação é realmente transformadora e poucos de nós sabemos as armas que temos nas mãos. O Brasil é um país jovem e ainda temos muito para aprender. Acredito que devemos educar para tornar as pessoas mais críticas, observadoras e questionadoras daquilo que pedem para que sejam suas vidas. Os sistema vem apelando cada vez mais na imbecilização do povo e podemos está voltando para a década de 90. Todos os prédios públicos estão defasados e devemos cada vez mais trazer a escola pra rua, chegou a hora de os brasileiros se conhecerem.

7) Qual a sua opinião sobre a descriminalização e legalização da maconha?

Existem dois tipos de pessoas no mundo. Maconheiros e Caretas. Só quem crítica é quem nunca fumou. Procure um especialista contra e nunca achará. Eu fumo por causa da ansiedade, a maconha me deixa mais calmo e alegre, me permite não me matar. Penso demais. Cada vez mais as discussões vem tomando mais espaço e muitas pessoas já sabem ouvir os argumentos. Uma dica que posso dar é fumar ao ar livre, é a melhor forma. Legalização é importante para tentarmos desmembrar as redes de tráficos que nos colocar numa cena totalmente errada que é cada vez mais a negação de um povo que vive em torno dos centros urbanos. E mata muitos jovens que sonham apenas em ganhar um dinheiro pra ajudar alguém.


8) Como você pretende morrer?
Ultimamente venho pensando nisso. Já tive um nó em casa, mas percebi que não tenho coragem. Sempre pensei que só teria coragem com um tiro na cabeça, ouvi dizer que dura três segundos, isso eu aguento. Mas do jeito que sou, acho que um dia irei errar e bum! será overdose. kkkkkkk
Ps: Me enterrem pelado.
     
9) Uma grande imprudência.
Minha maior imprudência é não sacar as mulheres que me dão mole. Com certeza, as decepcionei. Espero que elas me deem outra chance.

10) Uma poesia de sua autoria.
por várias vezes questionei
meus poemas, minhas ações.
já quis parar.
a vida cheia de coisas boas,
maravilhosas, estava
em desvantagem contra
as coisas que os homens
faziam para controlar
sua vida.
o que você deve fazer,
o que você deve ter,
eu estava sendo engolido
por tudo isso.
por todos.
você senta na calçada
e espera que algo aconteça
e nada acontece
e você cria um deus
e reza a ele
e ele te manda esperar,
porque primeiro ele também
precisa existir, já que os homens
também o corromperam.
as horas passam
e sua vida não muda
e você não consegue se
mexer porque o mundo
já está pronto para te
dar o próximo soco.


Um comentário:

  1. Meu grande amigo Rafael Vaz.. sempre trazendo animação e proliferando o pensar... Craque com a bola no pé esquerdo e com as palavras amigas.. como poeta é ótimo, mas quem já teve oportunidade de acompanhá-lo em uma cerveja sabe que suas palavras saem suavemente... Um prazer acompanhar seu trabalho mesmo a distancia... Altamira sempre te espera

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