Tive o primeiro contato com o trabalho da Thina Curtis por volta de 2009 através do seu zine Spell Work. Em 2011 tive a oportunidade de entrevistá-la em e tal material se encontra nesse link http://fetozine.blogspot.com.br/2011/08/thina-curtis-e-sua-arte.html. Abaixo mais um bate papo com essa grande figura do underground brasileiro:
1) Você começou com a Fanzinada em 2011. Evento que celebra o fanzine e que viajou para vários lugares do Brasil. O que mudou de lá pra cá? Quais as diferenças mais visíveis na produção de cultura alternativa no país?
As pessoas voltaram a olhar para os Fanzines, outras a conhecerem e a produzir.Com certeza a qualidade e a estética visual. x
Hoje temos muitas feiras, eventos direcionados a zines e publicações independentes, Livros sobre Fanzines.
2) Você promoveu oficinas de fanzine na Febem e em presídio feminino em São Paulo. Nos conte essa experiência e qual a força da cultura alternativa na reintegração do presidiário à sociedade?
Uma experiência bem marcante e de transformação na minha vida.
O preconceito das pessoas em relação a mim por estar nesse tipo de instituição também fica associado a uma pessoa marginalizada e literalmente subversiva, ou seja, que tipo de professora e mulher é essa que vai dar aulas para bandidos. Trabalhei com meninos e meninas, mulheres. porém, ter trabalhado com jovens grávidas e com bebês foi algo que mudou e tocou algo dentro de mim.Só tendo esse tipo de experiência você nota o quanto nossa sociedade e injusta, preconceituosa, machista, racista e homofóbica.Através dos Fanzines essas crianças-mães tiveram seu primeiro contato de afeto, direitos, cidadania, empoderamento.
Por meio de simples recortes e diálogos entenderam um pouco mais sobre-viver a vida, e que existe possibilidades fora do crime e drogas.Com uma linguagem de fácil entendimento que não intimida o autor eles tiveram também o primeiro contato com arte, cultura e principalmente aprenderam a gostar de ler. Viram-se pela primeira vez capazes de pensar, se sentiram gente.
Por meio de simples recortes e diálogos entenderam um pouco mais sobre-viver a vida, e que existe possibilidades fora do crime e drogas.Com uma linguagem de fácil entendimento que não intimida o autor eles tiveram também o primeiro contato com arte, cultura e principalmente aprenderam a gostar de ler. Viram-se pela primeira vez capazes de pensar, se sentiram gente.
3) Você diz que acredita em "arte engajada, na arte militante, na arte sentida, na arte vivida". Pra uns arte liberta, pra outros aprisiona. Vivemos em um momento de propagandas declaradas contra os artistas e qualquer pensamento libertador. O que fazer no meio de todo esse caos?
A arte em si e uma provocação de sentimentos, eu faço parte de uma geração marcada pelas lutas e engajamento ideológico vividos na ditadura, venho de uma época que discos era proibidos por conter conteúdo improprio, ou seja, falar das condições politicas de um pais em ditadura, hoje todos falam o que querem abertamente, mais ninguém se escuta e se respeita, as pessoas reproduzem o que escutam e textos que nem leem ou entendem, em nome da moral e bons costumes, como será que Shakespeare foi visto quando naquela época fez seus textos anárquicos, Dostoiévski, Michelangelo, Caravaggio, ou um quadro clássico como o Nascimento de Vênus entre tantos outros pintores, sem falar dos poetas, músicos, escultores e outras formas de arte.
4) Como anda as mulheres na fomentação e produção de cultura alternativa? Quais nomes poderia indicar?
As mulheres como sempre estão fazendo tudo ao mesmo tempo, na cultura independente mais ainda! São tantas, Ana Paula Francotti, Aline Ebert, Julia Leonel, Ca Clandestina, Simone Siss, Amanda Doria, Titi Carnelos, Bethania Mariano, Jessica Balbino,Ligia Regina Lima,Ivone Landim,entre milhares de outras...
5) Poesia.
5) Poesia.
Alice Ruiz(sempre),Jurema Barreto, Dalila Teles, Rosana Banharoli, Janaina Moitinho
6) HQ.
Fabi Menassi, Aline Daka, Germana Viana
7) Música.
Ratas Rabiosas, Corujas de Gothan, Odisseia das Flores, Camila Fernandes (Wonder Dark)
8) Epitáfio.
8) Epitáfio.
A arte para mim e abrigo, apoio, vida e esperança.
9) Você, como arte educadora, com que olhos observa o momento atual que o Brasil está passando e de que forma influência nossa relação com as artes?
Creio que respondi um pouco dessa questão na terceira pergunta, porém nesse momento de crises atrás de crises, da arte ensinada nas escolas públicas não ser considerada uma disciplina, somente uma diversão é algo que somente é vista em supostas datas comemorativas para decorar escolas e salas, sabemos que a arte vai muito além disso, a arte é uma síntese dessas ambiguidades, a arte permite mergulhar em reflexões sobre a condição humana, olhar ao entorno e o que a sociedade impõe.
10)Por que ainda produzir, estudar e falar sobre Fanzines?
Fazer Fanzine não necessita de regras de estruturação para se fazer compreender e isso é mágico!
Qualquer pessoa pode produzir um Fanzine.
Temos muito ainda que se discutir e comentar, temos muito ainda para apropriar quando o assunto e fanzine.
"O pai das redes sociais” ainda tem um elemento diferenciado, a criatividade, o desejo de se fazer algo por experimentação sem seguir padrões, estéticas e justamente isso que fazem dos fanzines únicos.
Fanzines são essência.
Esse artefato simples que contem um cunho forte na educação, na arte e no conhecimento ainda tem muito a ser pesquisado e falado.
Pra mim é necessidade, faz parte de mim.
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