é muita loucura...
o aumentativo da fila do caixa
na pandemia
é caixão...
ninguém mais entende
o que acontece em brasília
política pública, cadê?
no dia-a-dia: balbúrdia
e aqui nessa ilha
o apê fala por si
blá-blá-blá sem ninguém
solidão...
e se o passarinho
lhe assoviar
pra pular a janela
não pode ser sério...
e se o traficante
lhe oferecer cloroquina...
qual esquina?
e se algum empresário
disser que você importa
tem trabalho de sobra?
me engana que eu gosto
e se o zapzap
afirmar que isso tudo
é mentira
instabilidades no espírito
a solidez dos fatos
o resguardo diário
espiral de mesmices
mil coisas pra se fazer
fake news de verdade
é granada
na mão do palhaço
ameaça constante
culpa aos pedaços
respostas pra tudo
vá ver se estou lá em cuba!
pula no próximo voo
pasárgada air-lines
por lá o amor é a vera
pergunte pro guglou
- será que nos vemos de novo?
é em vão
se eu disser
"você é tão linda de máscara"
- e se for?
vai rolar (se render)
aquele beijo de póque
toque entre cotovelos
e um baita romance
acontece
choramos à toa
por coisa pouca
lá fora é um caos
pedintes rasgando as roupas
índios dançando mambo
e os preços disparam
o alcool gel é 70
nunca mais lhe encontrei
entre as prateleiras
de cloro
no super-mercado
esses nossos rolos
de papel higiênico
ficaram na bolha
de sabão
em barra
pesada
ninguém mais paga nada
há o silêncio das registradoras
e as lágrimas
pingam
nos sacos plásticos
nos cartões de débito
há pessoas e assombros
embrulhos no estômago
os sonhos podem esperar
uma vontade de rir
do desejo da moda
uma nova onda
ter em casa
máquina de lavar compras
a geladeira espaçosa
cabe o mundo
em medidas restritas
é o resto do almoço
umas poucas misturas
pro dia seguinte
duas garrafas d'água
um chocolate já pela metade
dentro do pote de sorvete
um cérebro congelado
em papel alumínio
um estoque de palavras
que ficam guardadas
feito pólvora seca
voltimeia isso explode
estampido
que faz pipocar
coração...
saudades sem suor
amor à distância
"eu te amo" no skype
esse troço
isso num existe
se quiser me ligue
só peço que não me convide
pra conhecer sua covid
pode ser que eu aceite
loucura é sempre
sem limites
mas são tempos magros
me relaciono sem carnes
já me basta uma alface
os legumes
daqueles mais baratos
é jiló que chama, né?
tempo amargo
de papo de agro é pop
me poupe
o brasil é de todos
- isso é onde?
imagino lá longe
corridas e jogos
pra fora de quatro paredes
alongamentos
sem travesseiros
sem cobertores
cada vez que entrar
no chuveiro
inventar cachoeiras
no vaso de flores
floresta amazônica
em amostra grátis
e fazer muito exercício
dobrar mais
outros mil origamis
isso tão produtivo
- até que sextou!
olha quanto boteco vazio...
sequer
um golinho pro santo
um boêmio em resguardo
uma vez por semana
cerveja, tegê e traçado
mas beijos e abraços
às traças
de vez em quando
uma vontade de chorar
parece meme
esse tanto de gente nas ruas
isso é muita loucura...
eu
às traças
de vez em quando
mais velho
Tio Maneco, e as crianças?
um bilhar com Aldir
Belchior transbordando no copo
isso é sempre
uma vontade de chorar
.
evoé molho!! algo de livre resiste nessas nossas desaventuranças - paciência - se a casa cansa, escrita avua! evoééé!
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