(Por Diego EL Khouri)
Beti Tim, Nua Arteira, Nua Estrela. Vários nomes para designar essa artista que transita por inúmeros campos da arte visual. Sua arte carregada de erotismo assusta e choca os reacionários, embriaga os mais delirantes e surpreende os pensadores. Eis abaixo a entrevista que fiz com ela:
1) fale sobre seu início na pintura, quais
artistas marcaram a sua formação e porque Nua estrela em
vez de Beti Timm.
Meu início nas artes foi muito cedo. Desde menina já desenhava. Durante a
adolescência senti se acentuar minha arte e tomar um linha definida, que
seriam as figuras humanas, mais precisamente a nudez feminina. Esse foi um
período conturbado e turbulento na minha arte. Sofri repressões por parte de
minha mãe que dizia que arte não tinha futuro. Passei então a desenhar
escondida, e tendo como inspiração, as revistas Grande Hotel da época, que
tinham um conteúdo repleto de mulheres sensuais expressadas em desenhos. Sendo
assim não tinha nenhum artista que me motivasse, porque não tinha acesso ao mundo
das artes. Fui norteada pelo instinto. Depois disto houve uma interrupção de
uns 30 anos e somente em 2008 retomei minha arte e com força total. Me inspirei
principalmente em Milo Manara, de quem até hoje ainda bebo desta fonte da arte
erótica.
Primeiramente
passei a usar Nua Arteira devido a uma oficina de grafite, Arte Urbana que fiz
recentemente e precisava de uma assinatura pequena para usar nas ações de rua.
"Nua" porque desenho, pinto o nu feminino e "Arteira"
por ser irreverente na minha arte. Nua Estrela surgiu depois que o Faceboock
desativou o meu perfil de Nua Arteira, e então optei por Adequar o Estrela e
não fugir do tema. Mas assino minha arte apenas como "Nua".
2) O que te motiva a produzir e
como é seu processo de criação?
Sou
movida pelo instinto, pela fixação de me expressar através da arte. A arte para
mim é como um vício. Preciso diariamente sentir, manusear as tintas ou mesmo
lidar com os lápis e com tudo referente a arte. Meu ritmo de produção considero
frenético, talvez devido a lacuna que tive no passado. Sinto a necessidade de
recuperar esse período perdido. E como sou autodidata, passo a pesquisar
sempre, buscando novidades, suportes diferentes, técnicas atuais que eu possa
usar. O tempo pra mim na arte é pequeno e frágil. E minha criação está sempre em frequência acelerada.
3) Se
você tivesse de classificar sua arte, como a definiria?
A
celebração do corpo feminino unindo a ardente sensibilidade visual da mulher
com olhar lúbrico e conquistador do homem. Uma ode ao voyeurismo, uma vassalagem
à luxúria.
4 ) Na
sua opinião, como anda o mercado de artes plásticas no Brasil?
Ainda
limitado, muito restrito aqueles que têm contato afetivo ou econômico com os
marchands e donos de galerias de arte ou responsáveis pelo gerenciamento dos
espaços públicos de exposição. Inexiste uma política estatal abrangente para
estimular o descobrimento e o florescimento de novos talentos.
5) Você
consegue viver somente da sua arte?
A exceção de um pequeno grupo de privilegiados, viver exclusivamente
do trabalho artístico ainda é uma quimera em nosso país.
6) Sua
arte está povoada de imagens intensas cheias de volúpia, num erotismo tão
intenso que reacionários chamariam de indecente ou imoral. Pra você
há alguma diferença entre pornografia e erotismo e qual a linha tênue que
separa esses dois abismos?
Este
é um dos meus maiores "problemas" na minha arte. Sou constantemente
atacada, ofendida por grupos anônimos que desqualificam minha arte, chamando-a
de obscena, ofensiva aos bons costumes. Mas passei a ignorar tais
manifestações, justamente por crer que o imoral, o indecente está na visão
obsoleta e ultrapassada de quem assim pensa. Não vou mudar minha arte em
virtude de uma minoria que se diz ofendida e incomodada. Para mim não há
diferença entre a pornografia e o erotismo, a não ser o uso do bom gosto,
fugindo da vulgaridade. Portanto a linha tênue que separa os dois é o bom
gosto. No entanto arte é arte, não importando como seja expressada.
7) De
alguma forma a literatura e o cinema interferem em sua arte? Falo isso devido a
postura dramática que vemos em alguns de seus trabalhos.
O meu trabalho é
resultado das minhas vivências emocionais e culturais. Desta forma a literatura
e o cinema influenciam o meu trabalho.
No
campo literário destaco, entre muitas outros livros, o Amante de Lady Chatterley,
de DH Lawrence, as obras de Jorge Amado, Anna Karenina, de Leon Tolstoi, As
Relações Perigosas de Chordelos Laclos e, por último mas não menos importante,
Madame Bovary de Gustave Flaubert. Aliás, como ele eu poderia dizer: Madame
Bovary c´est moi. Os quadrinhos de Milo Manara, o trabalho de Guido Crepax,
Robert Crumb e Carlos Zéfiro também são fontes de referência.
8) Qual sua maior imprudência?
Até
hoje não cometi nenhuma imprudência quanto a arte. nesta área tudo é viável. Só
tenho algumas restrições quanto aos editais para exposições que participei e
não responderam as minhas expectativas.
9) Ainda
vivemos sob o símbolo da contracultura?
Creio
que sim. A verdadeira arte deve sempre navegar contra a corrente, chocar o
bom-mocismo vigente; subverter a moral estabelecida, expor sonhos e desejos
ocultos, recalcados, e, no meu caso específico, revelar o esconderijo onde
habita o prazer da carne. Arte é subversão.
10) Diga qualquer coisa pra
terminar.
Sou
uma pessoa que respiro arte. A arte é como um vício maldito. Não encaro a arte
como terapia. Quanto mais inquieta, arredia estou mais produzo. Na arte todos
os meus delírios são externados e meus demônios exorcizados, ou entram em
parceria comigo. Preciso da arte para sobreviver, para alimentar meus devaneios
e minhas aflições internas. Minha arte é inquieta e crua, equilibrando-se entre
o lúdico e o real.