quinta-feira, 27 de março de 2014

CORAÇÕES VALENTES OU O POETA DO APOCALIPSE DE AGORA


(Por Fabricio Machado)



Essa dor que te rasga é também o amor que te impulsiona, essa dor que te dilacera é também o amor que te direciona...a força que aciona vem da impotência que te faz onipotente, rebelde poeta que rasga os véus da moral postiça desse mundo canibal, onde a cobiça nos quer humilde para sermos o prato principal.
Atravessa o hades sem medo, a Arte é sua espada sangrenta de sentimentos, suculentas são suas indignações ó digno guerreiro das estações.
Deus onipotente, adentra inteiro na vulva da vida, sem lambuza e goza poesia, se derrama feito cachoeira, mas querem te ver nos bueiros ?
Gosto da tua Arte operante que te revela não prepotente mas que te aponta como o poeta que afronta o muro, dando tudo de si para libertar-te e aos outros, que vivem nos esgotos sonhando com os oceanos ?
Baratas amedrontadas rastejam silentes, não são elas também diamantes ?
Seu gemido exuberante entra pelas janelas abertas dos que já não usam ouvidos, abrem o coração.
Nunca se cale ó abutre de fogo que rumina pérolas, não importa que te compreenda os muitos, mas que alimenta aos poucos, aos raros, aos loucos, aos baratos que andam em andrajos, mas que seus valores reais são caros, corações de ouro ?
Mas e os porcos ? Não sei quem eles são...porcos de porão, piscinas cheias de ratos, senhoras de salto alto, homens de terno sem ternura, carros desfilam na ruas, sábios fogem para o mato, malucos pegam a estrada, florestas viram prédios, idade média ? Oriente médio ? El Khouri é mais um cara ? Nós somos a cura ? O que nos sara ?
O que nos separa ? O que perdura ?
O mundo é um máquina, um trem desgovernado, quem é o maquinista ? O que ele sabe ? Alguns buscam respostas em extraterrestres, em outras planetas, se iludem, jornais, camisetas, modas são vendidas, desviam a atenção dos que não querem ser culpados...
Alguns buscam respostas nas instituições religiosas, que culpa tem o diabo ?
Alguém bate mesmo o martelo ? Outros culpam os políticos, não deixam de voltar as urnas, são meninos do estado, até os mais revoltados que se anulam, não vão a luta ideológica, constroem o muro, mera coincidência ?
Ô poeta onipresente, deu a resposta, sabe o caminho, que bom que o mostra, não está sozinho, está em Deus, é o deus onipotente se auto conhecendo, se dando para si, se dando e se fodendo para esse gente, por essa gente, carregando nas costas o peso de si mesmo, rasgando-se o ostra para que a pérola brilhe como um farol, chamando pelos seus, pelos eus perdidos no mar da superficialidade, clamando que sejam eles também deus e deuses, clamando que sejam audazes, que se embriaguem com doses ousadas de consciências que vão de encontrando, se moldando pelos escombros, crescendo com os próprios tombos, voando mesmo quando estão entrando pelos ralos, algo maravilhoso existe, algo maravilhoso está acontecendo, janelas estão se abrindo, estão sendo explodidas, paredes estão criando vidas, não oprimindo, mas abrindo horizontes, o destino do mundo não está definido, alguns de nós estão a cor dando ao mundo, colo rindo aos nossos sonhos, colo dando ao nosso sono, o Amor não dorme, a poesia não dorme, enquanto descansamos a Poesia e o Amor dão asas as pedras, dão vidas a paredes que vão se tornando o horizonte...monte sua bomba poderosa, desmonte todas as janelas, destrua toda a ilusão, que sua bomba psicológica dê fim a lógica manipuladora, que todas as janelas caiam, que toda a miséria começando nas almas se dissipem, dispersem as nuvens de gafanhotos, que se quebrem todos os asfaltos, mesmo em andrajos temos asas, somos anjos, homens, parte do Uno, somos plenos quando rompemos com as janelas de separatividade, sejamos todos um só olho e cada um seja um brilho distinto da grande Luz...
Gosto dos seus textos porque neles há muito ego, não mascara isso, assim se desfaz do ego e se ergue rumo ao todo, emergindo em forma de uma luz rara que revela um caminho, um diamante louco sendo lapidado pelas as garras do grande dragão, doando sua dor ao grito incessante por LIBERDADE...
A liberdade em seu peito arde se plasmando em Arte, buscando se libertar para fora...O GRITO....

Carinhosamente ao Artista Diego El Khouri...


///

sábado, 22 de março de 2014

BLUES ENCHARCADO




(Por Diego El Khouri)

O panteão celta caminha para o oeste
Vestindo-me de vinho brindo
Bem vindo outono mirífico!
            Samira Hadara


envolto em vestes, cetim branco - bem cuidado -
nenhum rasto de sujeira, sangue, medo ou maus tratos
essa roupa é o mundo que me guarda
me protege embrulhado num sonho mágico
nas carícias impostas, nos beijos quentes de outrora
na viagem sem rumo do presente perdido

essa é a roupa que me guarda
me livra de mim mesmo
e me rouba o que já faz parte de mim
e nem eu mesmo sei...
essa roupa me esconde a volúpia
que me enlouque dia e noite
o desejo constante de ser outro
de ter outra, outra forma de agir
(agir pra não cair)

essa roupa é o mundo!
nosso mundo, “jardim de acácias”
de prédios, escolas  e fábricas

“a deusa se ergue vestida de folhas
encerra-se um ciclo”
a matéria bruta da poesia

voltar a  ver a alvorada...
o solstício, a doce manhã
a bebida após o almoço
cigarro após o orgasmo...

“inframundos”, Freguesia
mais um instante, aqui, jacarepaguá
rio de janeiro
vinte e dois de março de 2014
cidade das noites embriagadas
das alucinatórias paisagens
onde danço o meu blues encharcado
de álcool e sacanagem

rio de janeiro
cidade puteiro,
(contraditória imagem)

rio de janeiro

- cidade do rio de janeiro -

um momento, um momento,
cadê meu isqueiro?

sexta-feira, 21 de março de 2014

DIA MUNDIAL DA POESIA

Sou avesso a datas mas...

Por coincidência nasci no Dia Internacional da Poesia e pra completar a coincidência as minhas irmãs, que são gêmeas, nasceram no dia do meu aniversário, quando eu fazia 2 anos de idade. Doideira isso rss



segunda-feira, 17 de março de 2014

BARATA ROCKER EM: REFLEXÃO

(Por Diego El Khouri)


ANTOLOGIA VELOSO




Para comemorar o Dia Nacional da Poesia a Editora Veloso lançou uma antologia poética e fui um dos selecionados. Abaixo om link para comprar o livro, a foto da capa e meus  poemas:

http://livrariaveloso.lojaintegrada.com.br/







Abaixo os meus três poemas selecionados para a Antologia Veloso:


TAL QUAL CORDA BAMBA


eu atravesso oceanos
na calda de ninguém
mamute que destroça cimento
nos dentes de marfim no ouro de alguém
eles são fuzis
fezes
sangue coalhado de criancinhas famintas
acolhidas pelo crack
lembro muito bem
aquele  inverno de 2004
porres incompletos, beijos frívolos
Rimbaud sobre a mesa
e paredes
muitas paredes
se fechavam cada dia mais
pela masturbação proferida a ti
naquelas madrugadas
de torcicolo brutal
eu agarrando estrelas
numa minúscula cama suja de sêmen e bílis 
tal qual corda bamba
cometas em festa comum

ah madrugada!!
o que poderia dar a ti
se de mim roubaste tudo?
lamentaste a sina bandida
que és
levaste tudo embora
inclusive meus crimes
e as dívidas de mercado
para sucatear meus sonhos
que viraram cicatrizes na barriga
e apendicite supurado

são inconfundíveis
os olhos dessa terra
 esses meninos nos sinais
a implorar migalhas
que a sociedade atropela

corpos descartados
deixados de lado
minoria nojenta
fede e tritura
qualquer pensamento
de libertação

ah madrugada
dos sonhos impossíveis
trouxeste a quimera que pedi?
quero sexo em ventre e alma
a tentação me veja como alvo

e me beije a face mil olhos
de  vulcão, tempestade, estrelas
é tudo a mesma coisa
o mesmo cheiro

pelos, entranhas
língua na língua
descobrir teu corpo
alimentar tua sina

ó madrugada linda
que clareia meus olhos
és amor e paixão
misturadas com fogo e pele

nos marcaram como gado
trataram de espalhar nossas dívidas
 nos apunhalaram pelas costas
e rasgaram  nosso tratado
vilmente sem repeito algum
a nossa história

madrugada insonsa
covarde
as palmas de minha mão
cobrem orelhas
ajoelhado no centro da cidade
uma chuva torrencial
lava meus cabelos e minha alma

não há motivos para acreditar
no pai nem no estado
me fala a luz dos semáforos
repleta de mentiras e sonhos

não creio em inferno ou pecado
a poesia comportada
muito menos em gêneros comprados

porta voz das portas escancaradas
e venenos tóxicos
eu desafio as regras lambendo  feridas
desconexas 
do outro lado da moeda (!!!)
(ninguém me ouve, ninguém me vê)

assim espero.

(Diego El Khouri)


AOS POETAS QUE AQUI CIRCULAM


já me vi dentro desse colo abafado
na subtendida palavra
até o útero onde me abrigo e embriago
cada gota de pecado
quero a tentação do meu lado explorada
cintilante paisagem
permaneço sereno em seus olhos apaixonados
não me vendo ao acaso
faço do meu tempo, da minha história
uma viagem inimitável
(atitude inevitável)
Abro os braços...
tá vendo de camarote, ó linda paisagem?
(olhares ríspidos, conveniências, miragens)
 e a hipocrisia que escapa de alguns poetas
que a cada dia transformam seus poemas-porradas
em meras bonitinhas palavras.

(Diego El Khouri)

DENTRO DE TI


Fazes de meu corpo casulo.
Teu ventre minha coberta.
Pele branca, nudez pronta.
As línguas se lambuzando.

Depois tuas pernas no meu ombro.
Com os seios vai beijando.
É linda a madrugada de setembro.
Nossos corpos se encaixando.

Sorris um sorriso parecido com pranto.
Pranteia a lua, a tarde vai se pondo.
Somos dois amantes à deriva.
Nossos quadris se entrelaçando.

Com um leve toque de mãos
tomba a noite (a noite) e o dia insano.
Fazes de mim objeto estranho.
Dentro de ti eu vou entrando.

Finda a existência.
Eu morri e bem sei que também morrestes.
És de uma beleza sem precedentes.
Tu vais se lambuzando no meu leite.

Boca e língua, pele e pelo, pelo e pele.
A nossa cama está repleta.
Estrelas, vozes e desejos.
És linda, lasciva... Ah, és perfeita!

Mordes no pescoço, solto os braços.
Te aperto contra o ventre.
Continua os movimentos contínuos.
Essa é a nossa ginástica, essa é a nossa agonia.

Tu agora de bruços.
Bunda pra cima, boca pra baixo.
Com um apelo super apaixonado
vou devassando teu íntimo.

Não há mais vozes e sutilezas.
 Deitada na cama, tu és uma princesa.
Tuas pernas trêmulas, voz rouca.
Roubamos o infinito para nossa surpresa.

* * *

Meu corpo deixou de ser casulo.
Teu ventre não é mais coberta.
Volto para casa pálido e sozinho.
És linda, porém a noite é mais bela.

(Diego El Khouri; Maio, 2009)

MACONHEIRO DE GOIÁS MATRIX



(Por Edu Planchêz )

 à Diego El Khouri

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Maconheiro de Goiás Matrix,
acabei de pitar um para abrir os canais haitecs,

os vencidos peixes da notória noite Jack
London Kerouac Tequila,
as trancas ruas do chão

Daqui da favela pitbull projac,
lanço nada porque nada tenho para lançar,
apenas sinais, símbolos,
letras emaranhadas,
as labaredas do velho cachimbo da paz

Indo a Goiás velha, indo a Goiás vulva,
indo e vindo na puta maldade
de nunca deixar de chover
invenções sobre as câmaras nada ocultas
da tumba do sábio faraó amargo
de Rauzito e seus Panteras

Maconheiro de Goiás do Rio da puta
que pariu a gente nessa terra estrangeira,
nesse aglomerados de morros,
vales e montanhas samba,
funk ( de lata?), de fuziladas neves...

É nessa porra de desenho que nos encontramos
com Jordano Bruno e Aliester Crowley
apenas para foder estrelas,
apenas para babar o mundo
com nossas palavras entorpecidas

sexta-feira, 14 de março de 2014

FANZINADA EM HOMENAGEM ÀS MULHERES

Vai aí minha contribuição para o evento Fanzinada organizado pela Thina Curtis dedicado ao Dia das Mulheres:












quinta-feira, 6 de março de 2014

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SAMIRA HADARA


                    I

fui percorrendo a íris desnuda de sua alma
beijos elétricos a distância correm 
profundezas de carne do céu que cai
emergi de teu ventre em êxtase
doce mulher que me embriaga
sinto pulsações sacanas atravessarem meu peito
tijolos tijolos de barro despedaçados
trincam na noite selvagem dos sentidos

eu te beijo e me beijo
nos beijamos, a felicidade grita
queremos mais que orgia
o mundo paralisado num gemido
testes nucleares, miséria
repressão, perdas, nada mais existe

eu e você parados calados excitados
com as pedras do amor lançadas no universo
que é vertigem sublime na gota da noite-chuva
amor repentino nas praias lindas
jatos de esperma pintura feminina na cama
moldura que beija corpos
apaixonados nos entregamos.

                    II


observo os retratos renascentistas
que pairam minha mente na sua mente
nos olhos da sua boca
língua no pescoço
e toda densidade viva que mora em teu seio

não me calo, não nos calamos


opostos cometas do lado oposto

embarcamos à via insana dos amores
que se entregam a existência que se abre
borboletas azuis, nova fase

In a silent Way de Miles Davis

no rádio-fogo do desejo
observo janelas, portas
talheres na louça
a poesia amassada no bolso
que berra a todo instante
embora tapem os ouvidos
e não se lancem (covardes que são)
aos doces perigos
que a jornada deflagra

mas nós não (!)


sóis embriagados 

lambendo seio
em teu colo permaneço

meus 27 anos flutuam qual correnteza

que se escapa do chão
27 anos para agora te amar em êxtase
 venerar como deusa
beijar como puta
lançar  dados a esmo

 (tu, minha musa)


pois somos lindos cometas

amando sem pudor
afastados do mundo
nosso mundo
eu e você
ninguém mais.

(Diego EL Khouri)

///


TEMPESTADE II

À Samira Hadara, minha tempestade


Meu sol seu sol
ar que respiro
inebriado em suas coxas
                                     grossas
nessa calça de ginástica
que caminha pela sala
mais um trago-humano
vem acolher-me
para longe do tédio

mais uma dose de morfina
paralisa sentidos
mais uma noite em seu colo
raio e tempestade na boca
 nos seios fartos de volúpia
nos cabelos trevosos da noite
nas nádegas de delícias suicidas

meus pés teus olhos

fogo insano debaixo da porta
entra sem pedir licença
vodka com maracujá
choque, coito, sono
conversas ao ouvido
palavrões
sêmen descendo lábios
após bela ejaculada
nos hemisférios surreais
que espadas cortantes anunciam
e participam da festa

eu e você
abarcados, abraçados
no limite estreito da morte
em  profunda combustão
no cerne da questão
não dar ouvidos a cegos
moralistas de passaporte

(eles não sabem  nada)

"eu nado até você
até seu mundo"

insisto e procuro
no seu corpo
marcas que se foram
me  encontro agora nelas

seu ventre pulsa
meu falo fala tudo
ergue massa corpórea
com bombadas mil
fortes e firmes
como um devasso cria

beat/on the road

Goiânia/ Rio de janeiro
- Freguesia

não se lamenta
nem pensa
feche os olhos e vem (!)

já que meus braços
erguem suas pernas
até sua face
para em cima de ti
entrar e ficar e sair e entrar

       entrar e ficar e sair e entrar
  entrar e ficar e sair e entrar                  
                        entrar e ficar e sair e entrar
                              entrar e ficar e sair e entrar
            entrar e ficar e sair e entrar                    
                        entrar e ficar e sair e entrar
entrar e ficar e sair e entrar...

......
...........
...................
.....................................
     
                               o que sobra após a tempestade?
                               eu e você... nada mais.


(Diego El Khouri; 28, 04, 2013)

ÊXTASE-DAMASCO (PÉS ENTREGUES A NOVOS PASSOS)


pela longa estrada dos amores
a cereja translúcida, a maçã-tesão
o aroma bucólico-íntimo
se lançam em meus lábios
todas as vezes que passo
nas raízes brutais
das voluptuosas carnes
que se transformam em fogo
tempestade poética
toda dança que incita
e excita
as estradas dos amores
num campo aberto de delírio

o êxtase-damasco
no vermelho lábio, quente
entre as pernas da musa
floresce mil campos de flores
que se fazem cama, orgasmo
 para a cristalidade dionisíaca do amor

musa fatal que me faz ser poesia
e  cria luzes orgíacas nos olhos vermelhos
dentro da íris diáfana
no calor intenso
que o sol  já queimou

me esquenta em teu colo
esfrega tua vulva em minha face
a poesia me atravessou de fato
farto estava do mundo comum

e rompi  céus,  estrelas
lancei do mapa o rato ordinário

aquele que me travava os passos
se perdeu nas zonas banais
(verme sem rumo)

cá estou dentro do teu corpo
encaixado e louco

você dentro de minha mente
rainha intensa

quero te sempre nua
nesse banquete a dois

 ardendo em febre
sempre seu bardo louco
questionador do mundo

“ a lira do delírio cambaleia
entre os fantasmas”
da velha fantasia

ouço os passos alucinados
de john coltrane, nick drake,  miles davis
e a explosão báquica de lautreamónt
que se confunde com desregramentos rimbaudianos

vejo muito além do que a maioria vê
o despertar filosofal
a sabedoria dos que atravessam pontes
vento suave, tempestades terríveis

só há carros barulhentos na minha alma
carros que berram e poluem,
serei o cego que dirige
e ultrapassa feridas em alta velocidade

a corrente ígnea que se rebentou
me sonda, sempre à espreita...
observa fagueira
os barquinhos de papel
que lanço ao mar
rabiscados de poesias inúteis
e algumas frases roubadas

“longe o alvo, e perto a seta”
sua poesia resgata o felino
que há em cada um de nós
gladiadores sem nenhuma ordem
(sociedade-rivotril)

o arrepio na nuca-vertigem
é porque estou aqui
e você está aqui

desnudos na freguesia
no seu quarto desnudo
nas maçãs quentes do desejo
chupando sem medo
a beleza sublime-infernal
que há em teu seio           

CIDADE-VERTIGEM


A melodia interminável - a gente perde a margem, e entrega-se às ondas.
Nietzsche 

cidade-vertigem que abriga braços
 seu silencio acalma a paisagem
suas cores excitam poemas
seus traços convertem  espaços
músicas febris, algumas mesas
lado a lado com os papos
de bêbados sorridentes da noite
que não se cala nem por decreto.

minha poesia (bomba cruel minoritária)
feita para encantar corações
se faz na loucura
da luta da vulva no falo
no beijo que outrora roubei
nas mil e uma faces da morte
do prazer que vem sem medo.

A língua vibra 
e não me calo

ariano atroz de olhos firmes
a boca seca esconde um crime
no inconformismo sem uniforme
nas bandeiras que um dia queimei
e em tudo aquilo que posso e o eu que não posso
cravar meus dentes  na sombra da morte
"no eterno meio dia"

os olhos estão vivos
olhos que um dia viraram sangue
alma coagulada em delírio
corpo de fome, bílis fugitiva
filas,filas filas, filas, filas

 desqualificados pais
andam
ainda você não sabe

eles andam e não te falam

minha fome de vida é prazer
vi palavras, rimas dispersas
 lançadas em finos cadernos 
o jazz volúvel encorpado,sua cara embriagada
no meio do pátio
a música dissonante do amor

e te amo aberto em delírio
na cidade-vertigem
te amo sem nenhum cinismo
em ti encontro abrigo

te amo
e me encontro bandido
amantes devassos amigos

te amo
em constante vício
na cidade-vertigem 

tempestade em cápsulas de fogo
dançando em volta da fogueira
te amando sem pudor, meu amor
que é febre que não acaba
na cidade-vertigem

              (bocas unidas -

 você:

       meu
            amor

 você
                      meu abrigo). 

24,04, 2013

///

FLUXO FEBRIL




"Os vinhos têm pernas e andam trôpegos às encruzilhadas". 

Marcos Alves Lopes

creio que páginas em branco
esquecidas num barco perdido
é  o veneno contemporâneo
dessa geração que não se entrega

viagens aos confins do infinito
para conhecer  almas
sem ponto, vírgulas ou fim
caminhar,  caminhar
caminhar e seguir

bêbado além da conta
bridando o amor encontrado
meu olho no olho  tece planos
necessita amar de verdade

livres bêbados poetas
no rastro do fogo
raio, tempestade
o tudo e o nada
palavras cruzadas
espalhadas no quarto

a vida é água que passa
numa corrente elétrica selvagem

estrelas nos bares berram
vociferam palavras de não ordem
a dança do mundo escuro me acompanha
luzes de neon também

O que você disse? o que você fez?

dúvidas ecoam

no rabo das santas escolhas
garçonetes de argila penetram línguas

olhos deitados na lua

o bardo canta e ouve

ó porcos poetas
que possuem tolas palavras
a boca coberta de desejo
não conhece prisão

não temos tempo
para pontos e vírgulas

não queremos parar o mar
não podemos esconder o sol

o amor, magia indefinível,
sabe contemplar as flores
e aquecer terremotos

amor, magia sagrada,
misto de pureza e sacanagem
seu ventre opaco me  embriaga

as costas escoradas no muro
fumando mais um cigarro
óculos escuros olhando pra cima
foto preto e branco
uma cena bonita

 reflexão, pensamento
o amor surge após estremecimentos

agora vejo, agora sei

não conheço, não entendo

agora sinto, agora vejo

agora vivo, agora quero

palavras rasgadas no quarto
bebidas enfeitando a mesa

palavras de não ordem
gritaria  e sossego

modigliane, caravaggio,lautrec
estão dependurados no teto
ao lado da hemoglobina sempre viva
de rimbaud e bocage
e algumas granadas e metralhadoras
no assoalho da casa

a rua:
caminho maior da exaltação conquistada

religião prenso na fumaça
e passo para o lado

as tintas ainda na calça
de frente ao cavalete

também há o amarelo nos dedos
 o vermelho no falo

samira linda, te quero
nas esquinas, salas, quartos e cozinhas
e no túnel obsoleto dos pensamentos
corporais, imaginativos

ser um contigo
como o vento é para o pássaro
as cores para o pintor
o delírio para o louco

  poesia-furação
é aquela que pari
 delinquentes cabeças
solitárias

unidas no fluxo febril
das buscas extravagantes

tenho falado
pensado
prensado
analisado

caindo na vida
feito pedra que rola
 emerge das cinzas
fênix
ave-fogo-tesão

olhos vestindo sangue
que bombeia

acorda agora e veja
meu corpo nu do seu lado.

(Diego El Khouri; 06, 05, 2013)

///