quinta-feira, 6 de março de 2014

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SAMIRA HADARA


                    I

fui percorrendo a íris desnuda de sua alma
beijos elétricos a distância correm 
profundezas de carne do céu que cai
emergi de teu ventre em êxtase
doce mulher que me embriaga
sinto pulsações sacanas atravessarem meu peito
tijolos tijolos de barro despedaçados
trincam na noite selvagem dos sentidos

eu te beijo e me beijo
nos beijamos, a felicidade grita
queremos mais que orgia
o mundo paralisado num gemido
testes nucleares, miséria
repressão, perdas, nada mais existe

eu e você parados calados excitados
com as pedras do amor lançadas no universo
que é vertigem sublime na gota da noite-chuva
amor repentino nas praias lindas
jatos de esperma pintura feminina na cama
moldura que beija corpos
apaixonados nos entregamos.

                    II


observo os retratos renascentistas
que pairam minha mente na sua mente
nos olhos da sua boca
língua no pescoço
e toda densidade viva que mora em teu seio

não me calo, não nos calamos


opostos cometas do lado oposto

embarcamos à via insana dos amores
que se entregam a existência que se abre
borboletas azuis, nova fase

In a silent Way de Miles Davis

no rádio-fogo do desejo
observo janelas, portas
talheres na louça
a poesia amassada no bolso
que berra a todo instante
embora tapem os ouvidos
e não se lancem (covardes que são)
aos doces perigos
que a jornada deflagra

mas nós não (!)


sóis embriagados 

lambendo seio
em teu colo permaneço

meus 27 anos flutuam qual correnteza

que se escapa do chão
27 anos para agora te amar em êxtase
 venerar como deusa
beijar como puta
lançar  dados a esmo

 (tu, minha musa)


pois somos lindos cometas

amando sem pudor
afastados do mundo
nosso mundo
eu e você
ninguém mais.

(Diego EL Khouri)

///


TEMPESTADE II

À Samira Hadara, minha tempestade


Meu sol seu sol
ar que respiro
inebriado em suas coxas
                                     grossas
nessa calça de ginástica
que caminha pela sala
mais um trago-humano
vem acolher-me
para longe do tédio

mais uma dose de morfina
paralisa sentidos
mais uma noite em seu colo
raio e tempestade na boca
 nos seios fartos de volúpia
nos cabelos trevosos da noite
nas nádegas de delícias suicidas

meus pés teus olhos

fogo insano debaixo da porta
entra sem pedir licença
vodka com maracujá
choque, coito, sono
conversas ao ouvido
palavrões
sêmen descendo lábios
após bela ejaculada
nos hemisférios surreais
que espadas cortantes anunciam
e participam da festa

eu e você
abarcados, abraçados
no limite estreito da morte
em  profunda combustão
no cerne da questão
não dar ouvidos a cegos
moralistas de passaporte

(eles não sabem  nada)

"eu nado até você
até seu mundo"

insisto e procuro
no seu corpo
marcas que se foram
me  encontro agora nelas

seu ventre pulsa
meu falo fala tudo
ergue massa corpórea
com bombadas mil
fortes e firmes
como um devasso cria

beat/on the road

Goiânia/ Rio de janeiro
- Freguesia

não se lamenta
nem pensa
feche os olhos e vem (!)

já que meus braços
erguem suas pernas
até sua face
para em cima de ti
entrar e ficar e sair e entrar

       entrar e ficar e sair e entrar
  entrar e ficar e sair e entrar                  
                        entrar e ficar e sair e entrar
                              entrar e ficar e sair e entrar
            entrar e ficar e sair e entrar                    
                        entrar e ficar e sair e entrar
entrar e ficar e sair e entrar...

......
...........
...................
.....................................
     
                               o que sobra após a tempestade?
                               eu e você... nada mais.


(Diego El Khouri; 28, 04, 2013)

ÊXTASE-DAMASCO (PÉS ENTREGUES A NOVOS PASSOS)


pela longa estrada dos amores
a cereja translúcida, a maçã-tesão
o aroma bucólico-íntimo
se lançam em meus lábios
todas as vezes que passo
nas raízes brutais
das voluptuosas carnes
que se transformam em fogo
tempestade poética
toda dança que incita
e excita
as estradas dos amores
num campo aberto de delírio

o êxtase-damasco
no vermelho lábio, quente
entre as pernas da musa
floresce mil campos de flores
que se fazem cama, orgasmo
 para a cristalidade dionisíaca do amor

musa fatal que me faz ser poesia
e  cria luzes orgíacas nos olhos vermelhos
dentro da íris diáfana
no calor intenso
que o sol  já queimou

me esquenta em teu colo
esfrega tua vulva em minha face
a poesia me atravessou de fato
farto estava do mundo comum

e rompi  céus,  estrelas
lancei do mapa o rato ordinário

aquele que me travava os passos
se perdeu nas zonas banais
(verme sem rumo)

cá estou dentro do teu corpo
encaixado e louco

você dentro de minha mente
rainha intensa

quero te sempre nua
nesse banquete a dois

 ardendo em febre
sempre seu bardo louco
questionador do mundo

“ a lira do delírio cambaleia
entre os fantasmas”
da velha fantasia

ouço os passos alucinados
de john coltrane, nick drake,  miles davis
e a explosão báquica de lautreamónt
que se confunde com desregramentos rimbaudianos

vejo muito além do que a maioria vê
o despertar filosofal
a sabedoria dos que atravessam pontes
vento suave, tempestades terríveis

só há carros barulhentos na minha alma
carros que berram e poluem,
serei o cego que dirige
e ultrapassa feridas em alta velocidade

a corrente ígnea que se rebentou
me sonda, sempre à espreita...
observa fagueira
os barquinhos de papel
que lanço ao mar
rabiscados de poesias inúteis
e algumas frases roubadas

“longe o alvo, e perto a seta”
sua poesia resgata o felino
que há em cada um de nós
gladiadores sem nenhuma ordem
(sociedade-rivotril)

o arrepio na nuca-vertigem
é porque estou aqui
e você está aqui

desnudos na freguesia
no seu quarto desnudo
nas maçãs quentes do desejo
chupando sem medo
a beleza sublime-infernal
que há em teu seio           

CIDADE-VERTIGEM


A melodia interminável - a gente perde a margem, e entrega-se às ondas.
Nietzsche 

cidade-vertigem que abriga braços
 seu silencio acalma a paisagem
suas cores excitam poemas
seus traços convertem  espaços
músicas febris, algumas mesas
lado a lado com os papos
de bêbados sorridentes da noite
que não se cala nem por decreto.

minha poesia (bomba cruel minoritária)
feita para encantar corações
se faz na loucura
da luta da vulva no falo
no beijo que outrora roubei
nas mil e uma faces da morte
do prazer que vem sem medo.

A língua vibra 
e não me calo

ariano atroz de olhos firmes
a boca seca esconde um crime
no inconformismo sem uniforme
nas bandeiras que um dia queimei
e em tudo aquilo que posso e o eu que não posso
cravar meus dentes  na sombra da morte
"no eterno meio dia"

os olhos estão vivos
olhos que um dia viraram sangue
alma coagulada em delírio
corpo de fome, bílis fugitiva
filas,filas filas, filas, filas

 desqualificados pais
andam
ainda você não sabe

eles andam e não te falam

minha fome de vida é prazer
vi palavras, rimas dispersas
 lançadas em finos cadernos 
o jazz volúvel encorpado,sua cara embriagada
no meio do pátio
a música dissonante do amor

e te amo aberto em delírio
na cidade-vertigem
te amo sem nenhum cinismo
em ti encontro abrigo

te amo
e me encontro bandido
amantes devassos amigos

te amo
em constante vício
na cidade-vertigem 

tempestade em cápsulas de fogo
dançando em volta da fogueira
te amando sem pudor, meu amor
que é febre que não acaba
na cidade-vertigem

              (bocas unidas -

 você:

       meu
            amor

 você
                      meu abrigo). 

24,04, 2013

///

FLUXO FEBRIL




"Os vinhos têm pernas e andam trôpegos às encruzilhadas". 

Marcos Alves Lopes

creio que páginas em branco
esquecidas num barco perdido
é  o veneno contemporâneo
dessa geração que não se entrega

viagens aos confins do infinito
para conhecer  almas
sem ponto, vírgulas ou fim
caminhar,  caminhar
caminhar e seguir

bêbado além da conta
bridando o amor encontrado
meu olho no olho  tece planos
necessita amar de verdade

livres bêbados poetas
no rastro do fogo
raio, tempestade
o tudo e o nada
palavras cruzadas
espalhadas no quarto

a vida é água que passa
numa corrente elétrica selvagem

estrelas nos bares berram
vociferam palavras de não ordem
a dança do mundo escuro me acompanha
luzes de neon também

O que você disse? o que você fez?

dúvidas ecoam

no rabo das santas escolhas
garçonetes de argila penetram línguas

olhos deitados na lua

o bardo canta e ouve

ó porcos poetas
que possuem tolas palavras
a boca coberta de desejo
não conhece prisão

não temos tempo
para pontos e vírgulas

não queremos parar o mar
não podemos esconder o sol

o amor, magia indefinível,
sabe contemplar as flores
e aquecer terremotos

amor, magia sagrada,
misto de pureza e sacanagem
seu ventre opaco me  embriaga

as costas escoradas no muro
fumando mais um cigarro
óculos escuros olhando pra cima
foto preto e branco
uma cena bonita

 reflexão, pensamento
o amor surge após estremecimentos

agora vejo, agora sei

não conheço, não entendo

agora sinto, agora vejo

agora vivo, agora quero

palavras rasgadas no quarto
bebidas enfeitando a mesa

palavras de não ordem
gritaria  e sossego

modigliane, caravaggio,lautrec
estão dependurados no teto
ao lado da hemoglobina sempre viva
de rimbaud e bocage
e algumas granadas e metralhadoras
no assoalho da casa

a rua:
caminho maior da exaltação conquistada

religião prenso na fumaça
e passo para o lado

as tintas ainda na calça
de frente ao cavalete

também há o amarelo nos dedos
 o vermelho no falo

samira linda, te quero
nas esquinas, salas, quartos e cozinhas
e no túnel obsoleto dos pensamentos
corporais, imaginativos

ser um contigo
como o vento é para o pássaro
as cores para o pintor
o delírio para o louco

  poesia-furação
é aquela que pari
 delinquentes cabeças
solitárias

unidas no fluxo febril
das buscas extravagantes

tenho falado
pensado
prensado
analisado

caindo na vida
feito pedra que rola
 emerge das cinzas
fênix
ave-fogo-tesão

olhos vestindo sangue
que bombeia

acorda agora e veja
meu corpo nu do seu lado.

(Diego El Khouri; 06, 05, 2013)

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Um comentário:

  1. Te amo pra sempre, te amo em migalhas, em pedaços, em cheiro a
    distância, te amo por toda morte, pela sua morte , pela minha morte e quando o dia aquecer e a sorte me sorrir te amo para não te amar, te amo para te encontrar.

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