terça-feira, 31 de maio de 2011

AO CACHORRO MALDITO

(Por Diego EL Khouri)

(Ao Marcos Alves Lopes)

Da merda que Marcos fala
a merda pura
e concentrada
é merda real e abstrata
essa merda que ele fala.

Merda com feijãosinho preto
cagada em noites de luar
e desejo.
Merda com pedacinhos de milho
mastigada pelo seu próprio filho.

Merda que fala Poesia
aquela que ele chama  Vida.
Na chama que chamisca o dia
Merda pendurada
do lado de uma solitária pia.

Ó Merda que vos fala
ó Merda que ele fala
ó Merda que eu falo
semelhante ao meu falo.

Falo que não fala o que falo
que eu cago e cago na lata
cagar porçãosinhos de amor
do cú desabrochando a flor.

Merda assim merda assada
a Merda que o Marcos fala
é poesia abstrata
terreno profético dos dias
essa merda cantada.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

RADIOCARBONO - OS ENTEADOS DO SAMBA


 (Por Diego EL Khouri)
Num mergulho obsessivo continuo no rasto da cultura alternativa. Dessa vez entrevistei a banda goiana Radiocarbono, que lançou há poucos meses o cd Enteado do Samba. Uma banda com uma pegada forte calcada nas misturas, junção contínua que nada mais é que o signo da arte contemporânea.




http://www.myspace.com/radiocarbono

Por que Radiocarbono?

Henrix Ramos responde:


O nome vem justamente dessa brincadeira de misturar música com a técnica de mensuração de idade orgânica. Explico. Como as referências dos integrantes da banda são muitas e variadas, pensamos num nome que remetesse a essa pluralidade musical, e que ao mesmo tempo mostrasse essa questão filosófica calcada no uso de vários estilos para a criação de outro. Não temos a pretensão de afirmar que nossa música é original e única, mas podemos dizer que buscamos transformar nossas influencias em algo que caminhe para isso.
 
A música contemporânea não está ligada mais na pureza dos estilos. As junções são válidas. Há porém  um sentindo além de musical misturar o rock com o samba, dois estilos não populares na cidade em que vivem conhecida como terra do sertanejo?

Douglas Mcarthur responde:

Acho que além do musical podemos citar o lance cultural que envolve os estilos que são referência pra banda. Nosso trabalho tem essa mistura cultural no dna. Na verdade, acho que somos uma bacia de misturas indefinidas...hehehe...
 
A poesia permeia todas as músicas da banda.  Quais as suas referências poéticas e musicais?

Pinguim Barreira Responde:

 Referências tenho muitas, mas as letras desse disco foram criadas com teor alcoolico elevado de Kafka, Doors, Metallica, RHCP, pitadas de Ariano Suassuna, Nação zumbi, Bezerra da Silva, um pouco de Luís Fernando Veríssimo com pequenas doses de frevo, coco, maracatu e samba de raiz.
Nossas letras falam dos dramas e alegrias do cotidiano. É uma espécie de poesia concreta sem muito valor retórico. Quando escrevo, simplesmente penso no desenrolar da cena daquilo que estou passando pro papel. É um processo que não consigo explicar muito. Aliás, é mais fácil fazer do que explicar.

Hoje no Brasil existem muitos espaços para uma banda tocar?

Danilo Almeida responde:

 Acho que sim. Hoje os coletivos estão muito mais integrados e engajados em permitir a circulação das bandas. O toque no brasil por exemplo, abriu muitas oportunidades pra gente. É lógico que não é só criar o perfil lá e esperar contato. É preciso correr atrás também, porque nada vem sem muito trampo, pode ter certeza.

Qual a relação da Radiocarbono com outras bandas alternativas?

Taiguara Franco resoponde:

Nossa relação é muito boa, nunca tivemos problemas rsrsrs.
Falando sério, temos muito respeito e admiração por várias bandas (muitas mesmo, não dá pra citar e correr o risco de deixar alguém muito bom de fora). Entretanto, temos mais afinidade com a galera do Chimpanzes de Gaveta e do Umbando, por sermos mais amigos e tal.
   
Numa entrevista que fiz com o poeta Robisson Sete, da extinta banda mineira chamada Juanna Barbera, ele disse que é complicado tocar numa banda, pois banda de rock é casamento sem sexo. Como então se dá o convívio com os membros da banda?

Douglas responde:

 A comparação é boa hein..rsrsrs...Rapaz, nossa principal intenção sempre foi se divertir fazendo o som que gostamos. Antes de montarmos o projeto, já éramos todos brothers das antigas, estudamos juntos, tocamos em bandas diferentes, dividimos palcos. Nos conhecemos há mais de 10 anos e, em toda e qualquer relação saudável há discussões, opniões diferentes e coisas desse tipo....Mas administramos sempre da melhor maneira. 

O cd Enteado do Samba que gravaram tem alguma relação com o  cd Estudando o samba do Tom Zé? Nos fale desse trabalho.

Pinguim responde:

Em primeira instância, não fizemos isso propositalmente. Mas os moldes para a mistura que acabamos por fazer foram lançadas ali, sob a batuta escarlate e debochada do Tom.
O disco na verdade, é fruto de 3 anos de ralação. Correria pra descolar a grana. Correria pra descolar contatos. Correria pra descolar shows. Putz, a correria foi pesada. Mas no final valeu muito a pena, porque a gente gostou muito do resultado. Achamos que ficou muito a nossa “cara”. Todos os timbres, todos os efeitos, todas as palavras... tudo foi pensado pra ficar do jeito que a gente sempre sonhou pro primeiro disco.
 
O que cada um da banda gosta de escutar?

Danilo responde:

Ah muito variado cara. Nossa escola é o Rock'n Roll, é fato, mas ouvimos muita coisa desde MPB, Samba e paradas regionais até o indie, progress, dub, metal, punk, hard core... tem muito som bom espalhado por essas vertentes...
 
Quais os planos futuros?

Henrix responde:

Agora estamos engajados em circular com o disco, já fizemos goiás e minas, em agosto tem Palmas no Tocantins. Enfim, estamos nos articulando para rodar e mostrar nosso trabalho. Mas sem deixar de lado as composições novas (e tem muitas viu...). Já temos as músicas do próximo disco praticamente definidas. O plano é iniciar o processo de gravação ainda esse ano.  
 
O que acham dessa onde de modismos como emo e restart que massificam a mídia fechando espaço pra outros artistas?

Douglas responde:

Cara, é uma onda adolescente que logo vai passar, eu espero...rsrsrs...Não curto o estilo, as músicas, as bandas....parece um um sertanejo só que mais colorido, algumas guitarras a mais e cabelo propositalmente rebelde....Mas acho que independente do estilo, tudo que está massificado pela mídia soa igual, é tudo muito parecido...Se quiser ouvir coisa realmente boa e diferente, tem que dar uma passeada pelo cenário underground. 

Pra terminar, qual o bar mais próximo?

Taiguara responde:

 rsrsrs...Não bebemos mais, depois de amanhã fará dois dias.....

sábado, 28 de maio de 2011

ESTÔMAGO SEM RUELA

Numa noite melancólica, durante um porre homérico, quando tudo se mostrava cinza e sem sentindo, eu e  meu amigo e músico, poeta, desenhista Ivan Silva, conversamos e de forma natural filmamos esse nosso delírio. A voz arrastava de ambos devido o álcool excessivo e a voz ressecada pelo cigarro é resultado explícito nessa filmagem que me causa às vezes repulsa e até nojo. Pronto! Vejam nossa nudez!!!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A ENTREVISTA NO OBSERVAR E ABSORVER

A entrevista que fiz com o ativista e artista carioca Eduardo Marinho gerou inúmeros comentários no blog dele. Ele pegou a entrevista do Molho Livre e copiou no seu Observar e Absorver. Vejam as opniões interessantes que surgiram no blog dele referente a essa entrevista:

http://observareabsorver.blogspot.com/2011/05/entrevista-postada-no-blog-molho-livre.html#comments

quarta-feira, 25 de maio de 2011

MOVIMENTO PASSE LIVRE - GOIÂNIA




                                                                                            

E mais uma vez a passagem de ônibus aumentou....

terça-feira, 24 de maio de 2011

NOITE POÉTICA

 
SARAU EM SANTO ANTÔNIO DE GOIÁS, NO PRÓXIMO SÁBADO (28/05). POETAS CONFIRMADOS: NEY GONÇALVES, ANNA ALCHUFFI, DIEGO EL KHOURI, KAIO BRUNO, MARCOS LOPES, LUIZ DE AQUINO, ANA CRISTINA, CARLOS BRANDÃO E OUTROS. O PONTO DE ENCONTRO SERÁ EM FRENTE À IGREJA CATÓLICA, CENTRO DE SANTO ANTÔNIO, ÀS 22 HORAS. EM SEGUIDA, PARTIREMOS À MARAVILHOSA CHÁCARA DE NEY GONÇALVES. TRAGA SEUS POEMAS E SUA BEBIDA, A ENTRADA É FRANCA.

CONTATO: 8487-7672 - Marcos Alves Lopes


domingo, 22 de maio de 2011

GURU UNDERGROUND (AO KAIO BRUNO)


(Por Diego El Khouri)

Caminhas pelas veredas do escuro
trazendo a luz do futuro.
Tudo permanece no obscuro
quando o mundo se perde no seu rumo.

Poeta sem meias palavras
tua arte pura e escrachada
revela toda tua alma.
Alma que evita a calma
e se perde no sonho que cura e salva.

Poeta que não se cala e ralha
de frente aos medalhões da arte
trazendo aquilo que nos falta,
espécie de pokémon evoluindo a alma.

Poeta transgressivo difundindo arte
produtor das rebeliões palpáveis,
brincando com todas as necessidades,
poeta badalado, VOCÊ NÃO SE CALA??!
-- Quero a arte subvertendo a alma.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

DOBRA O CORPO DE SI E DO SINO DO CORPO DO HOMEM

(Por Ulisses Aesse)

(Nas vísceras padece um homem pegajoso)


Dobra o corpo do sino neste imenso

mundo
imerso no caos
e te prendes ao amor
fecundo que fenece
nestas névoas-flores de espinhos.

Amarás a quem?


Em sinônimo de sigo mesmos

ou no fundo andrajoso dos outros?

Fenece nos olhos imersos

— ilhados em lágrimas —
feito céu maravilhado
ou de um corpo em cio.

(Descobre a ti mesmo)


As horas em cristais

estigmatizam com doçura
as arestas do tempo
e no bate-bate de cores
amarás como ama a ti mesmo
no campo lindo e oblíquo de
teus seios.

Amarás a quem?


Em sinônimo de sigo mesmo

ou no campanário que destila
a vida de quem te ama?

(Fenece como pedra imolada

nos abismos dos corpos)

Amarás feito verdura no verão

à espera do sol que a frutifique
e a maravilhe
— em cachos —
como peixes que carregam
doçuras nas barbatanas de (amar-te)!

Amarás a quem?


Neste domínio de poucos,

concentrando a ilusão
de ser no tempo
rumo ao vento
com opacos seres nas mãos.

No corpo encontrarás fagulhas

que submergirão e ascenderão
em brasa o calor do teu amar-te.
Lubrificarás o ódio que tens em ti
e só em ti frutificarás.

Tu te prendes ao amor amado?


Nas flores fenecem os espinhos.


Amarás a quem?


(Nas vísceras, tortuoso,

padece um poeta em fiapos,
e o céu e o mar destinam seu ser)

Ameaça-te a não ouvir

o sino, também,
é grande o desgosto pelos
dings-dongs que acolhem
em nosso peito
e no revérbero do sol a pino,
todo jovem
padece a sino.

E no caminho simples prende-te

ao tempo trazendo no mesmo
a estranheza das almas
e aos elos que traduzem
em dois versos antigos:

Amarás a quem neste mundo

imerson em caos e abismo?

Dobra o corpo de ti e do sino

ao corpo do homem e alegra-te
em ofertar-te,
soltando risos
livres pelos lábios.

E pergunta a ti mesmo:

A quem amarás?

Ave, geral.

De bando e raça (a vida roça
a vida de amar-te)

No fundo do reflexo de (olhar-te)

como quem olha nas vísceras
um homem em andrajos
a amofinar-se em desejos

Dobra o corpo menino

ao amor ubíquo
e sibile a todos e a ti mesmo:
Amarás a quem
neste mundo de abismos?

E por trás do homem

o silêncio caminha
sem si e sem pernas
para (amar-te),
sem tempo e sem ódio,
o lado do silêncio de agora,
o lado do amor de amanhã.

Amarás a quem,

neste tempo de espantalhos?

quarta-feira, 18 de maio de 2011

SÓ PEDRADA?

 (Por Cecília Fidelli)

- Poema para Diego EL Khouri -

Na dança da vida,
súbitas alegrias,
súbito mal estar... mal estar.
Somos sempre atingidos na alma.
Alguns episódios parecem verdadeiras torturas. 
Podem durar muito, muito tempo.
Mas, só o tempo tem autonomia arrojada,
para exterminar mágoas e rancores.
Toda situação dá tréguas
depois de estremecer.
Que bom que nos mantemos perto demais da realidade.
Que bom que temos tempo.
Os acontecimentos chegam decisivamente.
Advirto-o sobre manter vivos os sonhos, incansavelmente.
Também é importante nos mantermos surdos
às coisas que não podemos, por hora, desvencilhar.
Chuta o balde, evoca a loucura, faz poesia

****

Felicidade de mais uma grade poetisa me homenagear em versos. Fico grato a todos vocês que me dedicaram poemas. E viva la poesia!!!




segunda-feira, 16 de maio de 2011

JORNAL QUÍMICO



 Esse é o zine de estréia de Ivan Silva. Para adquirir o exemplar da primeira edição é só solicitar no email: 

isrbaixo@hotmail.com

O blog para acompanhar a arte desse poeta é:  

http://atunalgun.blogspot.com/

Entrevistei o Ivan Silva aqui no Molho Livre certa vez. Aí está o link:
  http://molholivre.blogspot.com/2011/02/ivan-silva-o-sr-malzdreams.html

domingo, 15 de maio de 2011

TITÃS

 IGREJA

 (Por Nando Reis)

Eu não gosto de padre
Eu não gosto de madre
Eu não gosto de frei.
Eu não gosto de bispo
Eu não gosto de Cristo
Eu não digo amém.
Eu não monto presépio
Eu não gosto do vigário
Nem da missa das seis.
Não! Não!
Eu não gosto do terço
Eu não gosto do berço
De Jesus de Belém.
Eu não gosto do papa
Eu não creio na graça
Do milagre de Deus.
Eu não gosto da igreja
Eu não entro na igreja
Não tenho religião.
Não!
Não! Não gosto! Eu não gosto!
Não! Não gosto! Eu não gosto!

sábado, 14 de maio de 2011

ALMA

(Por Diego El Khouri)

luto contra a maré que me molha o rosto
as convicções que me movem a alma
os dias devoram, trincheiras gritam
o dinheiro que ganho mesmo pouco me envergonha
nas noites turbulentas me perco na bronha
fomes e miséria do meu lado na minha boca molhada
rindo uma garganta seca da última batalha
SOU SÓ
granito na areia movediça do acaso
acaso eu to vivo ou sinto os sentidos me cortar a face?
a face me levar pra mata
sozinho o infinito xinga  albergues de aljôfra subteendidas
em inúmeras máscaras que me mata
 na mácula do dessabor caminho
                                      VOCÊ ESTÁ COMIGO?
                                       VOCÊ ESTÁ COMIGO?
quem me move nessa terra triste num beijo amigo?
sinto você nua como o abismo
você solidão sem roupa de linho,  elegânica
sem paz
sem um minuto de paz.
Agora é isso: a doença me lavando a alma,
a barriga inchada,  cigarro na face
que empunho vil
frouxo e sem graça
clown embriagado
que dança nas esferas subliminares
necessito de novos ares
venha Rio de Janeiro
preciso fugir dessa louca cidade!
Conexões, tubos, válvulas, ferros, chapas, fábricas, concretos, bombas, gaxetas, parafusos, porcas, arruelas, discos de corte, pistola de pintura, registros,  equipamentos, máquinas, 
MÁQUINAS, MÁQUINAS, MÁQUINAS, MÁQUINAS MÁQUINAS, MÁQUINAS , MÁQUINAS, MÁQUINAS
me aniquilam a cara
fatiam a alma
me roubam a paz.
Que paz?

quarta-feira, 11 de maio de 2011

EDUARDO MARINHO E SUAS REFLEXÕES

(Por Diego EL Khouri)

Eduardo Marinho: artista e  ativista que faz da sua arte função. Um dos artistas que estive em contato  no Rio de Janeiro e que tenho o orgunho e a felicidade de conhecer. Diz aí Eduardo:

                     http://observareabsorver.blogspot.com/

Qual a função da arte?


Cada artista é que determina a função da sua arte. A arte passa pelo filtro da personalidade de quem a materializa e adquire um bocado do seu corpo abstrato, ou seja, seus sentimentos, suas idéias, seus desejos, seus objetivos, sua visão de mundo, suas opiniões e tantas coisas essenciais que fazem parte do ser.

Eu escolhi, pra minha arte, a função de sensibilizar, esclarecer, conscientizar, causar reflexões, questionar valores. Na verdade eu escolhi isso pra minha vida, aos dezenove anos. Nem sabia, ainda, que chegaria a viver de arte.”Vou dedicar minha vida a causar reflexão, a fazer pensar...”, foi o que eu disse, há trinta anos.  Quando comecei a fazer arte, mesmo – não artesanato, de que vivi muito tempo –,  já tinha uma certa vivência e já sabia o que dizer, enquanto seguia aprendendo. Esse aprendizado não termina, é o tempo todo, a vida inteira. É preciso estar atento. Enquanto se aprende, se ensina.





 O que tem a dizer daqueles que  te consideram um individuo que se sente  incomodado pelos ricos?


Não sou incomodado pelos ricos, raramente chego perto de um. O que me incomoda é a ostentação grosseira, o excesso, o desperdício. Toda a miséria que vejo se deve à concentração constante de riquezas, terras, rendas, valores, recursos e poder na mão de poucos, o que traz privilégios às minorias, locais, regionais, nacionais e mundiais. Considero a humanidade uma grande família, é assim que sinto. Mesmo o perverso, o bandido, o delinqüente é um irmão meu, perdido em baixas vibrações, cada um com seus motivos. Não posso ostentar riquezas, nem desejá-las (os que vivem em função de grana e privilégios não podem acreditar nisso), diante do quadro social de miséria e ignorância pra tantos, idosos, crianças, homens, mulheres, a quem se nega os direitos mais básicos por um Estado controlado por poucos riquíssimos miseráveis de espírito.



Se interessar pelo marxismo e odiar os marxistas. Explique essa sua afirmação.


Gostei do marxismo, quando o conheci, porque ali encontrei explicações pras situações que via, de diferenças aberrantes, na minha sociedade. Eu estava numa faculdade pública, em Vitória, e comecei a participar dos movimentos estudantis, ainda na ditadura. Eu não disse que odeio os marxistas. Disse que achei os marxistas péssimos, mas só posso me referir aos que conheci e convivi. E achei péssimos, porque sabiam da estrutura social mas não sabiam falar uma língua que se possa entender. Juntando com a arrogância de conhecer a verdade (reparei que o olhar é muito semelhante ao de um crente fanático), de entender tudo, de querer guiar os outros, tornou o convívio bem ruim. Hoje ainda acho que quem se considera revolucionário deveria conviver com a população, com humildade, e aprender não só a sua língua, como seus costumes, sua sabedoria, seus valores, sua criatividade.  



“Você diz que enquanto não houver estrutura partidária no país não haverá democracia”. De que forma se consegue isso em nossos tempos tão sem esperança?


 Não existe tempo sem esperança. Sai por aí e cê vai ver. Observe os sinais. A fúria dos dominantes vem do desespero. A mídia cada vez está mais desmoralizada, está se formando uma mentalidade de oposição às mentiras cotidianas, muitos movimentos onde antes não havia. Gente conscientizando, contestando valores. Ainda raros, ainda exceções, claro, a humanidade ainda é como um garimpo, muito cascalho, terra, lama, pra cada pedrinha preciosa, pra cada pepita de ouro. Mas há uma diferença fundamental entre o garimpo mineral e o garimpo humano. A preciosidade humana contamina, pega, se alastra.

A estrutura partidária, eleitoral, farsesca, “vende” candidatos como produtos, maquiados e orientados por marqueteiros. Claro que tratam o povo como imbecil, e de fato o povo sofre um processo de imbecilização, há gerações. Sabotou-se o ensino público, destruindo-o literalmente, controlou-se o ensino privado, voltando-o para o “mercado” e tornando-o competitivo e racionalista, e a mídia faz o resto do serviço, encontrando a maciez cordata da falta de instrução e de senso crítico. Os políticos, em sua esmagadora maioria, são reles fantoches, manipulados pelos seus financiadores de campanhas, grandes empresas e empresários e banqueiros riquíssimos. Como pode haver democracia se o povo mal sabe ler umas frases? Como, se a população não tem acesso a informações reais? Democracia, aqui, só se for entendida como a “cracia” do demo.



A mídia hoje é o maior inimigo da sociedade?

Não. É apenas funcionária de luxo dos verdadeiros inimigos das populações. Encarregada de imbecilizar, suprir as carências emocionais, distorcer a realidade de modo a que não se possa entender ou enxergar, desestimular a reflexão sobre o mundo, a vida e a sociedade, conduzir a opinião pública, atacar os movimentos de resistência, reivindicação, denúncia ou defesa da população e induzir ao consumo compulsivo, ligando valores sociais, pessoais, emocionais e afetivos à posse, à ostentação e ao consumo.



Acredita na influência divina no seu processo de criação?


Influência divina é um pouco demais, pra mim. Se a gente nem conhece o universo, boiando nessa bola mineral, em torno de uma estrela-anã, em meio a uma galáxia de cem bilhões de estrelas, que é uma entre 200 bilhões de galáxias contadas desde a antigüidade, até onde os telescópios de alta tecnologia podem alcançar – e o infinito que existe fora do alcance – como é que pode conceber um criador, um ente supremo do universo? O ser humano é um animal pretensioso, não tem a humildade de assumir sua própria incapacidade de compreender a totalidade. Daí as explicações religiosas, cada uma chamando pra si o privilégio da “verdade” e excluindo todas as outras da paternidade divina.

Descendo deste pedestal, percebemos o relacionamento com o invisível, constante e permanente, através do corpo abstrato, do ser. Consciente ou inconscientemente, estamos todos em relação com as freqüências que sintonizamos, sofremos influência e influenciamos, por nossa vez. Muitos dos meus trabalhos, sinto que foram feitos com participações outras, que não defino, nem preciso definir.



 “O poder real está acima da política".  Explique isso.


 Há muito tempo os donos do poder real, o econômico, perceberam como controlar o poder aparente, o político. Arrasando com a educação pública – para que o povo seja ignorante – e controlando as comunicações – para que a população seja alienada – a política se subordina à riqueza de poucos, que financiam as campanhas eleitorais com regras publicitárias – “vendem-se”  candidatos como se fossem produtos, com imagens calculadas,  mensagens vazias de conteúdo e caprichadas na forma. O poder real é exercido no escuro do mercado financeiro, nas corporações de banqueiros internacionais, nas reuniões dos magnatas das indústrias de armamentos, laboratórios farmacêuticos e outras mega-empresas transnacionais, decidindo as políticas públicas que serão impostas às marionetes políticas. Ao povo, resta assistir a farsa dos bonequinhos, com poucas condições de perceber os fios que os controlam. As políticas públicas são resolvidas entre poucos particulares, sem participação de nenhum eleito – a não ser, claro, e se houver necessidade, como informante ou consultor. No estado de letargia política a que somos induzidos, não percebemos os crimes lesa-povos diários.



Você rompeu com vários valores que seu meio considerava importante. A que se deve essa coragem?


 Não há coragem. Nem rompimento com os valores. Simplesmente fui, aos poucos, percebendo as mentiras por trás dos valores vigentes e eles foram, gradativamente, desaparecendo dos meus valores pessoais. Eu não tinha nada para substituir esses valores, apenas dúvidas, então ficou um vazio à espera dos resultados de uma procura que se acentuou quando tirei das minhas costas o peso da situação social privilegiada, para procurar, por meus próprios meios, uma razão pra essa existência. Não pude achar tais razões para a coletividade, mas encontrei para a minha existência pessoal, no princípio da solidariedade ao grupo humano, à coletividade.

As pessoas têm um medo implantado de viver sem “garantias”, sem perceber que isso é fonte de angústias e frustrações. Por isso, é comum eu ouvir que “larguei tudo”, que “abri mão de privilégios”, papos sobre coragem, etc. O que houve foi uma enorme necessidade interna, clamando por uma razão além desse vazio de objetivos, pois buscar privilégios, conforto material, garantias e facilidades, além de me parecer pouco pra querer de uma vida tão passageira, me obrigaria a uma vida de merda, sem sentido. Na verdade, quando fiquei sem nada além de uma mochila nas costas, senti um alívio sem comparação, uma leveza e uma liberdade de movimentação e procura que nunca tinha sentido antes.





E o fanzine Pençá com Fabio da Silva Barbosa? Nos fale desse projeto.


O Fabio tem uma enorme vantagem. Ele entrou na faculdade de jornalismo com vivência de base, conhecia o sistema, trabalhava com radiologia em hospital público, conhecia a falcatrua dos serviços chamados “públicos” e tinha a visão de mundo formada pela realidade da maioria. Isso, com seu temperamento e seu caráter, tornou-se uma fortaleza onde as pressões acadêmicas pela mediocrização pessoal não puderam entrar. O jornalismo se tornou, nele, a expressão da liberdade de expressão. Por isso, ele ficou pelas margens, mas com instrumentação acadêmica para exercer o trabalho jornalístico como ele deveria ser, em regra.

O Pençá nasceu, se bem me lembro, num dos porres que tomamos em algum boteco aqui por perto. Depois, como se fosse um plano autônomo, o Pençá começou a andar, meio aos trancos e barrancos, até o terceiro número. No momento está em hibernação, devido a vários acontecimentos da vida, e pretendemos que se torne aperiódico, para termos mais liberdade. Afinal, nem ele, nem eu temos facilidades na vida – é o preço para manter o respeito próprio, sempre na expectativa de que a situação melhore, pelo menos no meu caso. No dele, acho que ele espera que o mundo se acabe em podridão, na sua visão de que “o ser humano é uma merda”. rs



O que tem a dizer sobre o governo querer desarmar novamente a população?


Isso é jogo de bastidores, teatro no pior sentido da palavra. Os interesses que sustentam esse movimento nem me interessam. As forças de segurança cada vez mais atacam a população. São forças de contenção popular, travestidas de segurança pública. Eu me solidarizo com os bons policiais que têm, em seu coração, a crença de garantir a paz e a segurança de todos – eles acabam deixando a corporação, desiludidos, ou pedem pra ficarem nos serviços internos ou, ainda, se tornam amargos e céticos, aguardando o momento da aposentadoria para esquecer tudo. Pobres vidas dilapidadas, pobres sensibilidades destruídas, pobres humanidades enganadas, brutalizadas e corrompidas.



Revendo sua vida, existe algo que não faria de forma alguma?


Claro. Muitas. Não mandaria ninguém atirar, quando me apontasse uma arma. Não teria filhos antes de ter, pelo menos, onde morar. Não chamaria um juiz de corrupto em público, com o dedo na cara dele. Não demoveria nenhum crente da sua crença. E muitas outras coisas, embora só tenha me arrependido, mesmo, dessa última. O cara largou da família – sua mulher permanecia crente e revoltada com ele -, saiu viajando pelo nordeste e foi morto por policiais, em Alagoas, que o viram vendendo seus anéis de prata e pedras preciosas e o roubaram, antes de matá-lo. Amarguei uma culpa sem tamanho.


segunda-feira, 9 de maio de 2011

MUGO - A PORRADA DO ROCK


 (Por Diego EL Khouri)





Há inúmeros elementos que nos remetem a perceber se uma banda continuará tocando ou não. Às vezes é a tendência da época, o mercado, outras vezes as contradições, o meio onde vive, e em outros casos o talento é a chave primordial para a sustentação de sua arte. Mugo é uma banda que permanece pelo talento explosivo e pela característica de sempre se renovar sem perder a pauleira de sempre.  Augusto Scartezini, o guitarrista da banda Mugo, esse goiano mergulhado totalmente no rock, me concedeu uma entrevista. Aí está:

http://www.myspace.com/mugobr


Fazer música e sobreviver dela é complicado. Agora fazer rock n’roll numa cidade conhecida apenas por exportar sertanejo, é mais complicado ainda. Como mesmo assim  lutar por algo tão destoado de seu meio?


 Na verdade, apesar de Goiânia ainda ser a capital sertaneja do Brasil, temos aqui uma cena de rock muito forte e que exporta pro Brasil inteiro um rock muito potente e muito bem feito, que aos poucos vem mudando a cara da nossa cidade, através de suas bandas e produtores que tem lutado bastante para mudar esse rotulo de nossa cidade! 


O nome Mugo é equivalente a Ogum, escrito de trás para frente. Qual a relação que a banda tem com esse orixá e o candomblé?

Ogum é o orixá dos metais, que fabrica suas próprias armas para a guerra e também para outros fins, é conhecido como o orixá guerreiro, assim como todos nós somos! Apesar de não sermos ligados ao culto, nos identificamos com essa característica do orixá, e por isso o nome da banda!

Há críticos que afirmam que uma banda alternativa quando vai atingindo o sucesso vai perdendo o veneno e ficando cada vez mais pop. O que tem a dizer sobre isso?

 Eu acho que isso é uma coisa natural, afinal, se uma banda vai atingindo o sucesso, ele está se tornando popular (pop), mas isso não quer dizer que seje ruim, uma diferença é a banda ficar mais popular e outra é ficar popular e mudar seu som, o que acontece com muitas bandas, que mudam seu som pra ficar realmente mais comercial, mas bandas de verdade, ficam, de certa maneira, pop, sem perder seu veneno!

Hoje quais são os principais objetivos da banda?

 Hoje temos como foco lançar nosso segundo disco, que vai começar a ser gravado no dia 15 de maio de 2011 no estúdio Da Tribo em São Paulo pelo produtor Ciero, que ultimamente gravou Claustrofobia, Krisiun entre outras bandas, depois do lançamento vamos divulgar o máximo possível, não só no Brasil, mas também na gringa, através de tours e utilizando sempre a internet para divulgar todo o nosso trabalho! 

Como vê a cena musical hoje?

 Pra quem realmente gosta de música, busca por bandas que estão na ativa fazendo novos trabalhos, que lançam seus trabalhos por meios alternativos, eu creio que a cena está muito boa, com bandas que estão cada vez mais lançando trabalhos muito bons, como por exemplo no Brasil: Macaco Bong, Black Drawing Chalks, Claustrofobia, entre várias outras, além das bandas gringas que estão na ativa como Parkway Drive, The Mars Volta, Deftones, quem procura acha coisa MUITO boa sendo feita atualmente na música, para todos os gostos, agora, pra quem escuta as rádios e assiste a MTV, a coisa ta feia, e muito!

Cantar em inglês tem como objetivo alcançar mais pessoas ou acreditam que o rock n’roll sem o sotaque gringo perde sua essência?

 Na verdade a gente compõe nossas músicas em inglês por uma questão de sonoridade e afinidade com o som, afinal, desde sempre escutamos nossas bandas favoritas cantando em inglês, então, pra nós é bem mais “normal” cantar em inglês do que em português. Além disso também, o inglês é a língua mais falada em todo o mundo, então é mais fácil as pessoas entenderem nossas letras assim, do que se cantarmos em português, é importante para nós que  muitas pessoas escutem as músicas e entendam nossa mensagem em qualquer lugar do mundo!

Quais as referências musicais da banda?

 Nós somos 4 integrantes que viemos de 4 escolas diferentes, porém, achamos nessas 4 escolas os pontos em comum que formaram o MUGO. Nossas influências variam entre Pantera, Lamb Of God, Parkway Drive, Belvedere, Madball, Job For a Cowboy, Suicide Silence, Deftones, August Burns Red, entre várias outras bandas que fazem nossa cabeça e que nos dão inspiração para fazermos o nosso som!

Mugo ao vivo e no cd tem a mesma carga explosiva e impactante. Como manter essa energia toda?

Paixão pelo que fazemos, é tudo! Apesar dos berros e o peso da música, a gente faz tudo isso por que ama, e damos muito valor, então, procuramos sempre transformar tudo isso que sentimos pelo nosso trabalho em energia para sempre estar impactando quem está nos ouvindo em casa ou no show, porque ver as pessoas assistindo ao nosso show, e delirando junto com a gente não tem preço, e isso move a gente a sempre dar o sangue nos palcos e fazer o nosso melhor ali para aquelas pessoas, sejam elas dez ou dez mil!

Pra terminar, qual a função da arte?

A função da arte é expressar alguma coisa através da música, pintura, teatro, seja como for! A arte, seja ela da forma como for, é a melhor forma de expressão para qualquer um que queira mostrar aquilo tudo que se passa na sua cabeça, por isso, o que é arte pra um, pode não ser arte para o outro, a verdade, é que apenas o próprio artista realmente entende a sua arte, independentemente disso, a arte, seja ela qual for, alegra e lava a alma das pessoas que a admiram!