quinta-feira, 28 de novembro de 2019

O REENCONTRO COM O GRANDE ARTISTA CÉSAR RODRIGUES

Por: Diego El Khouri

Dentro da minha jornada nas artes visuais o artista professor César Rodrigues tem uma importância tremenda na construção da minha identidade artística. Aquele tipo raro de professor que consegue arrancar de nós mesmos aquilo que está escondido no mais íntimo de nosso ser. As reflexões que ele propõe por meio das cores, da semiótica e da morfologia da imagem sempre se mostram fora das caixas convencionais e cada conversa com o Cesar é um novo universo que se apresenta. Lembro quando eu o conheci (por volta de 2008 /2009) no Cep em Artes Basileu França (na época eu estudava nessa instituição o curso técnico em Artes Visuais) logo percebi o quanto sua abordagem artística pedagógica é diferente. Ainda vou escrever alguns relatos com mais detalhes sobre esse período. Vale a pena levar a luz tais aprendizados e momentos. Dia 23 de Novembro desse ano de 2019 o encontrei novamente. Soube que os professores do Centro Livre de Artes (nova escola de artes na qual ele leciona) iam expor seus trabalhos na galeria 588 Art Show (local que eu já expus algumas vezes). No mesmo dia eu ia participar de um sarau, na qual fui incumbido de organizar, na Habite Coletivo no Jardim América em Goiânia (GO), local que também estou expondo meus quadros ao lado da Jéssica Motta. Eu e outro poeta e artista visual (o Rupestre Santos) passamos na exposição antes do sarau. Conversamos com o César que lembrou um fato interessante (e que também um dia pretendo escrever sobre esse acontecimento de forma mais detalhada): enquanto no Basileu França desenvolvíamos atividades específicas (importantes no meu processo pictórico) em casa eu desenvolvia um trabalho totalmente diferente. No final do curso no Basileu os alunos foram convidamos a expor seus trabalhos no prédio do mesmo. O professor me pediu pra levar o que eu andava criando em casa. Levei uma obra pintada com meu próprio sangue e a moldura com pedaços rasgados da bíblia (creio que o amigo Ivan Silva tenha fotos dessa obra que se perdeu no tempo). Tenho muito ainda pra falar sobre essa pintura e o desenrolar de todo esse acontecimento (e como se perdeu por aí pretendo reproduzir em algum momento essa arte desaparecida). A obra do Cesar também merece um capítulo à parte. Discutimos muito sobre todas essas questões. Por hora precisava registrar esse momento importante.





Título: Universo Particular
Técnica: Acrílico sobre tela
Dimensões: 100 x 100 cm
Artista: César Rodrigues

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

AFIADAS

Por: Carina Castro

bem sabemos manusear facas
nem sempre na cozinha, meu bem
também riscamos chão
pontiagudas
lâminas afiadas
embainhadas na coragemedo
nem sempre armas brancas
afiamos a língua na pedra
estirada qual kali
mais cortante que a aresta do papel
aveludado capim cidreira
vento frio da madrugada
e o inconfundível sabor
que vem a boca
não mais delírios de buñuel
no brilho que espelha
confunde cegueira tua
rasgar de raios ou lancinante mirada?
§

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

***********************************************************


Por: Mário Cavalcante

O homem em seu caminhar. O bicho em seu caminhar. A sombra em seu caminhar. O libanês em seu caminhar. O caminho. O bicho, animal. O Líbano. O Brasil. A sombra. O caminho. A instituição. O instituído. O louco. A poesia em seu caminho. A pedra no sapato. O caminho é uma pedra. A loucura atira... A pedra, o louco, o sonho, a dor, o momento. A história, o louco, a pátria, o pária, a saudade, o caminho daquele que marcha sozinho. O Diego El Khouri.

domingo, 10 de novembro de 2019

DA CALMA E DO SILÊNCIO

Por: Conceição Evaristo

Quando eu morder
a palavra,
por favor,
não me apressem,
quero mascar,
rasgar entre os dentes,
a pele, os ossos, o tutano
do verbo,
para assim versejar
o âmago das coisas.

Quando meu olhar
se perder no nada,
por favor,
não me despertem,
quero reter,
no adentro da íris,
a menor sombra,
do ínfimo movimento.

Quando meus pés
abrandarem na marcha,
por favor,
não me forcem.
Caminhar para quê?
Deixem-me quedar,
deixem-me quieta,
na aparente inércia.
Nem todo viandante
anda estradas,
há mundos submersos,
que só o silêncio
da poesia penetra.

__________________________
 “Poemas da recordação e outros movimentos”. 

Belo Horizonte: Nandyala, 2008.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

DIEGO EL KHOURI, ME ESCUTE

Por: Edu Planchêz 


angustiado, eu o bastião da fé,
o que arranca as rolhas das garrafas de porcelana
com as garras do olho da cara,
com as garras do olho do cu

choro não e choro, mas não reclamo do tempo,
das algemas quebradas, dos pela-sacos desses dias,
dessas noites medievais, onde não sou o centro,
o sumo do limão siciliano

eu antena de temporais
antenas da cara do gato,
da cara do cão, do lobo destruidor de presídios,
do bob dylan jim morrison
múltiplo e único dessas pálidas páginas

e continuo sendo verme,
aracnídeo, crustáceo maldito por querer,
e eu quero, mais que quero porque sou cada vez mais desejo,.
portal aberto na fenda das vozes

eu edu planchêz de tantas teias,
de tantas pertubações expostas latentes,
acho que sou livro,
instrumento distribuindo choques

terça-feira, 5 de novembro de 2019

UM CÉU DIÁFANO

Por: Rogério Skylab

Uma nuvem diáfana percorria o céu
seguida por muitas outras.
E eram tantas que pareciam ilhas
flutuantes a singrar mares.

Iam ao sabor dos ventos
até formar um continente,
cuja língua todos conheciam
e era um bálsamo para os ouvidos.

Assim ele ia divagando
enquanto a ambulância não vinha.
E já nem sentia suas pernas esmagadas

sobre o calor insuportável do asfalto.
Um pivete aproveitava para roubá-lo
e ele para mirar o céu diáfano.

#0480 PRAIEIRA PICHAÇÃO

Por: Glauco Mattoso

A praia nordestina sua cor
turistica perdendo vae, fetiche
frustrado. Quem mais querem que se lixe
com isso? O morador? O pescador?

Emquanto falta a alguem o que suppor,
alguma venenosa lingua -- Vixe! --
fallou que foi navio do "Greenpiche"
da mancha de petroleo o causador.

O povo, de mãos nuas, limpa a praia
que dessas negras ondas ficou cheia.
Nenhum moleque experto que alli caia
livrar vae sua pelle, nem a alheia.

Um delles seu pé limpa, até que saia
tudinho, pela mão que lhe tacteia
a sola: mão dum cego que, cobaya
fazendo-se, addemais, a massageia.

(4/novembro/2019)
///

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

POR MÁRIO CAVALCANTE

Diga-me o que é justo nesse mundo? É somente isso que temos pra hoje?
Entre notícias de tédios e jornais incendiários, há derramamento de desesperanças em jardins coloridos e selfies enquadradas em padrões de business
Eu noctívago de convulsões e engasgos insones, saborosas ansiedades q empanturram ansiosos bocejos...
Sangue sobre o asfalto e o solo, os corpos diversos daqueles q estão à margem da velha obtusa ordem do opressor
A vergonha em espantalhos sob vernizes de igualdade
Sonâmbula repetição de um toque, tão superficial e maquinal, muito mais q um algoritmo, são corpos q ardem em fogo, que queimam, que sofrem, que apaixonam, e não se encaixam nesse projeto de mundo que é uma solidão de simulacros fantasmagóricos em suicídios
Pausa. Inconteste. O destino da humanidade. Humanos sem destino.