quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Cabelos de Fogo

 Por: Diego El Khouri


À Iasmin Ramos 


cabelos de fogo

raio elétrico místico 

         selvagem 

              translúcido

boca de jade, Iasmin

cheiro doce da manhã

cálida taça de prazer (...)


o que exprime  mais o infinito

do que o instinto

      e essa louca mania de  perigo?

 

o que é o delírio

senão essa manhã bêbada

que me entorpeço em ti?


em ti meu olhar segue febril

ardente, quente, estridente 

— vulcânica fome de amor 

pavio instantâneo , forte...  

                                            efervescente   ....


             ***




Título: Iasmin

Técnica: Óleo sobre papel

Dimensões: 22,5 x 20 cm

Artista: Diego El Khouri




terça-feira, 26 de setembro de 2023

Eduardo Tornaghi: o ativista da palavra

 Por: Diego El Khouri 


Hoje é o aniversário do ator e poeta Eduardo Tornaghi , um grande ativista da palavra. 


Participei de alguns saraus que ele promovia (e ainda promove ) no Rio de Janeiro. 


Um deles era a Pelada Poética que ainda acontece toda quarta feira no Leme e também alguns saraus pela Lapa. 


Um cara admirável, sensível  e incansável!


                contra o fascismo e pela poesia! 

                                        ********

      


 

        Gênesis

No princípio era o silêncio
obra prima de ausência

depois veio o Verbo
por fim o Verso

iscas de som em busca
de retorno à essência

o vazio
Silêncio

 


Na foto: Eduardo Tornaghi e Diego El Khouri no bar Toca da Formiga, Lapa, Rio de Janeiro, RJ; 2014



Na foto: Eduardo Tornaghi e Diego El Khouri no sarau Pelada Poética no Leme, Rio de Janeiro, RJ; 2014


CURRÍCULO


já soquei tijolo já virei concreto
já comi do bom e já pastei sem teto
já passei vazio já sonhei repleto
só me falta chorar pra ser completo
já banquei o bobo me pensando esperto
já fechei a porta e ainda restei aberto
já comprei a banca — já fui objeto
só me falta chorar pra ser completo
só plantei a dor achando ser correto
já tive razão mesmo sem estar certo
já me fiz sublime — já fui abjeto
já clamei por voz no pleno deserto
já me atrapalhei com tudo que é afeto
só me falta chorar pra ser completo






Condição Humana

Para organizar o pensamento
invento o tempo

Para guiar meus passos
crio o espaço

Por teu encantamento
me desfaleço

______

Epifania

Não conseguia entendiar-me
em meio à multidão
fugi dela

Não  conseguia enfurecer-me
em meio a mim mesmo
cheguei 

_______

Sonetilho

Sinto-me fora do mundo
Mentira. Não sinto nada
Sinto sim que estou imundo
Eu sentira a coisa errada

Estar sujo é estar imerso
Em tudo que é de mais real
Decantar o real em verso
Faz diverso o que era igual

Problema é não ser poema
O vazio que me rói
por mais que rebusque o tema

Sendo ele vazio se esvai
Some pra fora da cena
Só sobrando o que me dói 
____

Singularidade
_ Alumbramento

p/ Manuel Bandeira

Abriu-se um espaço no tempo
Abriu -se um tempo no espaço
Deu-se um silêncio no vento
Deu-se inequívoco passo

O espaço de tempo que é tempo
Bem antes de ser espaço
Expandiu  um ponto lento
Pulsando tornou-se  "eu faço"

E fez-se o universo imenso
E fez-se o calor do abraço 


Poemas retirados do Livro MATÉRIA DE RASCUNHO.
Edição do autor, Rio de Janeiro, 2011)









segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Em memória ao ator Nélio Fernando

Por: Diego El Khouri 


Sexta feira a noite... Em Aparecida de Goiânia (GO) um calor insuportável pousa nas construções  arquitetônicas e queima a epiderme seus raios brutais de setembro. Sexta feira escaldante... me chega no celular uma mensagem do amigo aliado Edu Planchêz Maçã Silattian: Diego , Nélio morreu... 

Pra mim foi um soco no estômago ler essa mensagem...

Engraçado que eu tinha passado o dia lembrando com saudade de uma certa noite na Cidade De Deus no Rio de Janeiro, época que morei nessa cidade babilônica ... Nélio , que era um grande ator, me levou para conhecer uma rapaziada nova de uma banda underground. Eles estavam afim de ajuda para desenvolverem um projeto cultural. Foi um momento muito agradável. Muito  mais conscientes, sagazes e talentosos que esses playboy que andam por aí... Entre conversas e baforadas me impressionei com a reflexão apurada desses jovens. Uma visão de mundo profunda e um desejo libertário de transformação imenso. Lembrei também a gente saindo desse local as 4 da manhã e caminhando a pé até Curicica, local que morávamos e do diálogo no trajeto.

Era realmente uma época muito louca. Me mudei para o Rio de Janeiro a primeira vez em 2012. Estava com intenção de nunca mais voltar pra Goiânia , um lugar que sempre achei um tanto inóspito para pessoas como eu. A viagem foi bem maluca a lá geração beat. Quase morri no caminho. Os detalhes daria um puta livro. Estava totalmente perdido ... e morar num prédio que tinha o Nélio (um grande ator e Clown), Edu Planchêz (puta músico e poeta, um dos maiores que já vi), a querida atriz Gisela Macedo (hoje ela reside na França) e Cars (baiano que fazia cinema na UFRJ) foram cruciais para recuperar minha saúde  física e psíquica.

Era realmente uma vivência louca. Arte o tempo todo, drogas, conflitos, ajuda mútua, imersões... numa noite a gente se apresentando no palco ao lado de Jorge Benjor e no outro mangueando pra conseguir alimentar.
  

***

Hoje é domingo. Noite escaldante de setembro. Comecei esse texto na sexta e  pensei esse tempo todo  como prosseguir esse relato . A vivência dessa galera, tudo que aconteceu , desde as loucuras da estrada e todo o resto e pensei que seria limitador demais resumir tudo que aconteceu nesses meses de  loucura criativa em poucas linhas. E realmente as vivências desse período daria  um puta livro! E mencionar por cima, como estou fazendo, não dá a dimensão de tudo que aconteceu. Uma existência louca e poética como poucos. Mas ainda penso em escrever um livro contando os detalhes dessa viagem toda. Talvez uma história em quadrinhos. Já tenho o título em mente, mas por hora estou envolvido em outros projetos de arte sequencial, mas ainda vou desenvolver essa história. Deixo , portanto, uma pitada do talento desse querido amigo que fez de sua vida arte e poesia apesar da marginalidade absoluta que ele viveu... e trago comigo as memórias desse período e que sinto necessidade de um dia registrar com mais detalhes para o público. Somos outsiders da galáxia de parnaso e foda -se essa panelinhas caquéticas que cagam regras!

"Paz entre nós e guerra aos senhores sempre!"

Em Memória ao Nélio Fernando:










segunda-feira, 18 de setembro de 2023

A poesia viva de Iasmin Ramos

Fim de tarde

Fim de tarde
Traz consigo o cansaço de um dia de trabalho
Talvez pareça exagerado
Mas somos feitos escravos
Os dias correm depressa
Você mal percebe
A beleza do mundo
Estando num escritório ou em um trabalho qualquer
Chega em casa
Não olha nos olhos da esposa
Grita com os filhos
(silêncio)
Liga a tv
Mexe no celular 
(vidas perfeitas na tela)
Abre uma cerveja
Agradece a “Deus” pela vida
(que vida?)
E espera o outro dia
De trabalho
E o fim de tarde
Sempre igual.

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Na escuridão eu me perdi
Me encontrei perdida
Em vigília
Ironia se encontrar estando perdida
O brilho que vem de dentro
Ecoar dentro de cada gosto
O resto das minhas vísceras 
Escarlate
De longe se vê o brilho nos olhos de quem sonhou
Um dia
Em se encontrar no mundo

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A beleza da vida pode ser claramente notada no encerrar de ciclos e início de outros.
Como todos os dias o sol nasce e vai embora,
Eu sinto vontade de desaparecer ao anoitecer 
Mas o dia traz de volta o peso de ser quem eu sou.
Toda noite para mim é uma morte (diferente)
E todos os dias eu renasço.
Já morri e nasci tantas vezes que não sei mais qual a minha verdadeira idade ou quando vim ao mundo
Ciclos terminam e recomeçam, mas algo me acompanha pela eternidade...
A lembrança dos seus olhos, dos seus beijos, do seu cheiro, da sua voz...
Um ciclo que já se findou, mas ecoa em mim, sempiterno.

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Dias frios
Ou quentes
Toques
Sabores 
Olhares
Perfumes
É demais te querer para mim?
A mesma distância que nos separa
Tem a intensidade do meu desejo por você.
Anos luz
Corpos
Nus
E o que resta é a saudade,
E a lembrança 
Que não passa
E o pensamento 
Que não cala

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O seu beijo tem sabor de cerveja
E é capaz de embriagar
Depois de uns bons beijos (lê-se goles)
A ressaca do outro dia só passa, com mais um 
Beijo

Me deixe em paz ou me dê você!

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Vazio e preenchimento

Os pensamentos vêm e vão
Inconstantes 
Como chuva de verão
Penso em você
E me sinto sozinha
Porque como algo que me preencheu um dia
Traz em sua ausência o vazio...

Me esvaziei de você
Mas aprendi
A me preencher de mim.

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domingo, 17 de setembro de 2023

Iasmin...

Iasmin, flor de jasmim

tempestade escarlate

(brisa  forte e suave)

o tempo que paralisa

monódico e bêbado 

a imensidão da galáxia 


exuberante paisagem

                      — miragem —

sua boca desce  e toca

a mente do poeta outsider

(constelação anárquica)


os vários corações

que trago em minha alma

se espatifam no ar (!)

explodem em complexo

                 ensejo

se tornam moléculas

delírios de poeta 


             e aqui

 em penumbra estrelar

de braços abertos

olhos embriagados

vertiginosos

imersos 


 te sinto

e te vejo


flor de jasmim

tempestade escarlate

atravessar meu peito

e nele fazer morada.


(Diego El Khouri, outsider da galáxia de parnaso)




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                                                          ***

Iasmin Ramos com as vísceras  e delírios poéticos da lisérgica punk Editora Merda na Mão :



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quarta-feira, 13 de setembro de 2023

WAR BRAIN - Noise Experimental Performático Poético

 Projeto: WAR BRAIN


EP: Noise Experimental Performático Poético

Estilo: Noise Experimental Performático Poético


Mais um lançamento Ruídos Absurdos

O selo de som extremo da Editora Merda na Mão 




 O pútrido projeto, War Brain, lança virtualmente seu terceiro atentado.  Desta vez são cinco ruídos insuportáveis registrando a primeira fase destes desgraçados, na época um trio, vociferando contra a moral e os bons costumes que nos matam de diversas formas, sem um dia de paz.

Quer saber mais sobre? Foda-se! Se vire! 


A obra é dividida em dois atos. O primeiro se chama Lado A e reúne as gravações desta primeira fase de insultos blasfemos, mantendo a formação Diego El Khouri, Murilo Pereira Dias e Fabio da Silva Barbosa. Cada um operando algum instrumento de tortura sonora, consegue trazer a destruição de tudo que existe. É um trabalho profundo, com a brutalidade e o inesperado temperando com o mais puro desgosto e desilusão.

O segundo ato se chama Lado B e continua o massacre auditivo, promovendo o encontro da brasileira War Brain com a holandesa Anonimuus Creature. Assim, o vocal infernal de Danihell Slaughter soma na mistura e o Lado B fica ainda mais perturbador e infame. A presença de Danihell também é percebida na escrita de parte das fétidas poesias encharcadas de morte e desespero. Declamação atormentada e um acompanhamento insano.


Para ouvir o EP na íntegra:


https://youtube.com/playlist?list=PLEBhB9jtXmRp_QS7OsU9vyTzpTHamXg8B&si=CQLNtpRr2RY1svJk




domingo, 3 de setembro de 2023

"O olho é a luz em repouso"

 






 

Título: O olho é a luz em repouso
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 100 x 70 cm
Artista: Diego El Khouri