sexta-feira, 31 de maio de 2013

TÍTULO DO QUADRO: A MOÇA QUE SONHA

(Por Diego El Khouri)


O sonho do êxtase. A mesma cor da alvorada daquele dia que me impressionou. Desde então nunca vi nada igual. Aquela sensação foi única, intraduzível. A pintura tenta resgatar isso. O impossível. A moça dorme num sono profundo. Parece morta. Talvez viva. Viva ou morta? O sonho perdura. E a fantasia como fica? A cachoeira ao fundo. A água lava deformidades da alma. Higieniza as chagas. Ela ao fundo fica. Apenas o que se vê é movimento vertical. Um pouco distante da moça. Silêncio (...). Essa moça. Mãe-natureza, sonho, poesia. (Diego El Khouri)

terça-feira, 28 de maio de 2013

TÍTULO DO QUADRO: CLOWN



(Por Diego El Khouri)



Clown (identidade humana) no centro dos raios. Menino na roda viva do caos. A espátula ardente lançada sobre a tela de forma voraz, orgíaca, elétrica. Traços rápidos. Fusão de cores quentes e frias. Nietzsche dizia que homem se esconde atrás de máscaras. Os raios sensorialmente percebidos como cortes na pele, na alma. O menino que quer se libertar de um futuro medíocre. A espátula criando os raios como faca na carne. Gigantesco coração negro sustentando a cabeça. Um coração costurado bem no meio. A boca representando algo que os olhos desmentem. (Diego El Khouri)

segunda-feira, 27 de maio de 2013

TÍTULO DO QUADRO: O OLHO DE LÓTUS

(Por Diego El Khouri)


olho vivo de lótus no seio do universo. O vermelho da alvorada sempre presente. Tinta a óleo, colagem, desenho, pintura. O caminhante novamente representado. Cada quadro uma técnica diferente que trabalha a mesma ideia. Aquele que caminha para voltar (em pesamento, busca) e aquele que caminha para continuar (em passos, corridas). O olho-luz, o olho-d’água, o olho-amor, o olho-poesia. O olho é uma mão revestida de volúpia e sarcasmo. O olho te abraça e beija. O olho produz o escarlate do coração, o vermelho do desejo. A moldura em colagem representando o caos urbano em contradição com a meditação bucólica, a iluminação (o sonhado budhi). Mas Siddartha Gautama já dizia, “só há um tempo que é fundamental despertar. Esse tempo é agora”. (Diego EL Khouri)

domingo, 26 de maio de 2013

TÍTULO DO QUADRO: SOMA, PSIQUE, NOUS

(Por Diego El Khouri)



“O centro do centro do mundo, do meu mundo.” O corpo (soma) e a alma (nous) digladiando com a psique (mente). A psique-erupção, a psique-aurora, a psique- árvore da vida do sangue que pulsa e caminha sem cessar. O homem no centro do centro de si mesmo ,dentro e fora de seu mundo. O eterno caminhante. Filósofo-porrada, filósofo do martelo como Nietzsche dizia. A cidade ao fundo contrastando com o deserto caótico que reside no interior e cria inevitavelmente forma no exterior. Extremamente excêntrico, paradoxalmente reflexivo. Um coração derretido dentro de uma pequena jaula. Um coração gigantesco a observar o homem dono de sua existência. Em outras formas e visões o coração é o vulcão em erupção ao fundo que também é a árvore da vida que simultaneamente é o desespero interior e a sensação do indesejado fim. A moldura negra da tinta vacilante, uma moldura bêbada como é a própria existência. Uma vida que sonha equilibrar a psique ao lado do nous e soma. Se tornar um consigo mesmo. (Diego El Khouri)

sexta-feira, 24 de maio de 2013

SOBRE MINHA PINTURA

(Por Diego EL Khouri)

“A minha voz persegue o que os meus olhos não alcançam”. Através das inúmeras vozes que falam através do pincel, oriento o traço nas cores vivas que bailam desnudas na contradição da vida intensa, na excentricidade delirante dos sentidos e sobretudo na subversão poética dos costumes que é a raiz das artes plásticas no mundo contemporâneo. A minha pintura aponta para vários caminhos. As cores fortes e os traços rápidos (por vezes lento e tranquilo, porém este em menor escala) rompem o equilíbrio das formas para atingir um nível em que uma figura sobreponha a outra dando texturas grossas e infectadas de imagens na obra. Vejo algo belo. O trágico perdendo sua veste e penetrando em temas não muito explorados nem no mundo das artes como a religião, a fé, dogmas, tradições, teorias, etc. Isso está bem claro no quadro que intitulei “A Igreja, o Clero e o Prazer”. O moralismo e sua face contrária se beijando. A hierarquia perigosa da religião ainda com cores quentes num flerte sempre presente com o sépia e o preto. A aurora, o nascimento, a explosão. O vermelho e o amarelo em excesso. Nisso muitos quadros casam. A fase agora é “alvorada embutida na tela”. Prato cheio para acelerar a corrente sanguínea dos receptores atentos e ao mesmo tempo lançar na mente dos mais afoitos a volúpia que se comunica com diversos temas e ideias mesmo que não seja explicito em todos os quadros. Sartre já dizia que o espectador traduz o sentido da obra de acordo com que consegue alcançar tendo em vista suas próprias experiências. Cada pessoa deve ser autor de suas visões. Delacroix já dizia que “a execução na pintura deve sempre ter improvisação”. O fim não necessariamente deve ser igual ao começo. Mesmo antes de me formar alguns anos atrás na turma técnica de Artes Visuais Basileu França e expor em vários locais já produzia intensamente meus desenhos e quadros, vendia e participava de exposições. Agora o momento é das cores quentes, vibrantes, com pequenas camadas de nebulosidade e escuridão; o mistério na pele exposta. O paradoxo como raiz. Edifício em escombros – outra imagem contida nas telas. Disse numa entrevista que concedi em março de 2010 para Law Tissot do Rio Grande do Sul que grande parte do meu processo de criação “ é contra o sono, o marasmo e o pensamento reacionário” e que a “ arte tem que fugir do lugar comum e da mesmice.” Ainda concordo com isso, mas prolongo esse pensamento dizendo também que arte é a beleza plena andando na corda bamba sem medo algum. “É preciso dar o sangue”. Estar ligado com seu tempo. Ousar, sentir, subverter, implodir e explodir. Millet estava certo. Na arte não há espaço para covardes e minha pintura é o retrato vivo dos olhos que lacrimejam sem medo, do carinho terno das manhãs sem pudor e o beijo colhido na poesia feroz e delirante de alguns pensadores.


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título do quadro: A Igreja, o Clero e o Prazer
técnica: tinta a óleo

quinta-feira, 23 de maio de 2013

E ESSAS RUAS QUE NÃO SÃO AS RUAS DE 1928 E QUE SÃO AS RUAS DE 1928...



(Por Edu Planchêz )
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E essas ruas que não são as ruas de 1928...
e que são as ruas de 1928...
conhecem meus pés de madeira,
conhecem e desconhecem minha fama
de não possuir fama

Diz meu filho: " Edu, põe a roupa"
E eu ponho a roupa de todas as leituras
que fiz e que faço do que não deve ser lido
E tenho e tinha a missão de torcer
os nervos do planeta que me ignora,
e que por muitas vezes também ignoro

E vejo Jack Kerouac, Allen Ginsberg
e Diego El Khouri entrarem pela porta
que inventei na parede que existe
apenas na imaginação dos que negam a imaginação

Imagino ver uma grande bolha de palavras obscenas
( na compreensão menor)
despencar das nuvens sobre as casas,
sobre as pequenas famílias que se fecham
para as outras famílias que são também suas famílias

Estou no Brasil, no túnel do tempo,
na entrada e na saída
das correntes que controlam os oceanos
e os ares que sobem para além das últimas
camadas da atmosfera
Não sou um avião,
um homem, uma ave,
um roedor infiltrado nas costuras das roupas
dos seguem o apito das moedas,
dos que sobem no muro do progresso
protegidos por tanques

segunda-feira, 20 de maio de 2013

ILÍCITA VIAGEM


(Por Diego El Khouri)

hoje paralisei o mar
para nele extrair a essência do belo
mas não me viram
nem atravessaram portas, janelas
muito menos vagões de carga
ou caminhos possíveis
pois eu não existo, eles não existem
você não existe

Moléculas soterradas uma em cima das outras
nas cordilheiras que desabrocham amores
com nudez sem pecado
traduzo minha poesia
no engodo carnal
que o alimento produz

sou raio, sombra, tempestade
quem rouba o fogo, controla os elementos
herdeiro direto de Rimbaud
cliente compulsivo da ilícita viagem
amante ardente
bom bebedor de vinho
sou isso tudo
                     a luz, o sol

olhos vidrados que o mundo não conhece
tenho delírios que nem a viagem obedece
seguro a terra em minhas mãos
e o beijo molha ainda mais as vulvas
suspensas na paisagem do amor

estou aqui sentado
numa segunda-feira ensolarada
fumando mais um cigarro
de cueca e caneta em punho
observo estrelas que procuram
portas e janelas inexistentes
observo (...)
                        observo
o mar paralisado, as costas da terra cansada
e o beijo voraz na sua boca
que não acaba mais.

Rio de Janeiro, maio, 2013

sexta-feira, 10 de maio de 2013

SARAU EM SANTO ANTÔNIO DE GOIÁS


Acontece nesse sábado, dia 11 de maio de 2013 sarau de poesias em Santo Antônio de Goiás na casa do escritor Ney Gonçalves a partir das 21:00. Para mais informações, falar com o escritor Ney Gonçalves: (62) 8157-2926


Santo Antônio de Goiás

(Por Marcos Alves Lopes)

Na terra dos Antônios
terra fantástica dos poetas
Bacco tomará o rumo do além
E Apolíneo, mais uma vez
morrerá nos braços de ninguém

Na subjetividade do poeta
rumaremos à utopia
e Marx -lukács
serão nossa companhia

Sentados frente à frente
lado a lado ou em pé
que entre o primeiro Antônio


* Pintura: Baco
Autor: Caravaggio

quinta-feira, 9 de maio de 2013

AMOR DE MÃE / AMOR DE FILHO


(Por Diego EL Khouri)

À Sumaia El Khouri

Lua cristalina  que me embala
nas notas da nona sinfonia
no ramalhete colorido da nova estação
síncope manhã estrelar
borboletas nas crisálidas proteções 
anoitece nos momentos de febre
a verdadeira luz que deus criou

(algo  de asa e melodia...)

seus olhos de brilho colorido
e sorriso desbragado
que as quatro cantos do mundo
se ouve
é a poesia que só  se bebe 
em taças finas de amor
numa noite de cor especial


sem que saibam, a natureza
que nasci para criar e morrer,
é bela quando sentida 
porém nunca  quando explicada

sentir é mais que viver
viver é não subtrair

amor de mãe é infinito
voo rasante de rapina
as novas cores criadas na paleta
e a cor pulsante que nunca se extingue

amar a mãe  é navegar no infinito
sentir-se aconchegado
 no útero-abrigo
numa nostalgia melodiosa
na tênue teia da "arquiteta aranha"

"Madona
Que nos embala na manhã da vida"
o amor sem máculas
e sem crimes

te amo, filho estranho que sou,
na estranha  existência humana
cheia de tráfegos e acertos
te amo embevecido no milagre
que se cria a vida
como a teia da "arquiteta aranha"
e as flores que crescem
com a chuva que a dona de casa espalha
com ternura e alegria.

PERDIDOS NA NOITE


(Uma Conversa com o Amigo Diego El Khouri)
(Por Barata Cichetto)

Estamos todos dentro das mesmas noites perdidas
Onde todos os gatos são pardos e as gatas fedidas
Todas as mulheres são putas velhas incompreendidas
E são putas, são pardas e velhas, todas arrependidas.



terça-feira, 7 de maio de 2013

FETO


(Pintura e poema: Diego El Khouri)




nascido no parto da luz
embevecido em seiva
nos bucólicos jardins da alma
com as mãos sujas de tinta
esse poeta canta

a pictórica forma humana
os olhos robustos da esfinge
a velhas fotos de Carjat

derrubo portas, janelas, paredes
todas nasceram
para serem derrubadas

a gota de sangue
fez florir multicoloridas flores

agora bebo
mais um gole desse álcool

(conhaque 
na noite que queima)
cinzeiros e cigarros
aliados silenciosos


alados vermes
minha pistola na cara

engole essa bala, "rapá"
ela entra, penetra
emudece sua fala
paralisa o infinito
enquanto só o corpo cai

só o corpo cai
só o porco cai
só o copo cai
só o louco cai
só o torto cai
só o morto cai
só o tosco cai
só o fosco cai
só o ócio cai
só o fóssil cai
só o corpo cai
só o corpo cai
só o corpo cai
só o corpo cai
só o corpo cai
só o corpo cai
só o corpo cai
só o corpo cai
só o corpo cai
só o corpo cai
só o corpo cai
só o corpo cai...

segunda-feira, 6 de maio de 2013

FLUXO FEBRIL




(Por Diego El Khouri)


"Os vinhos têm pernas e andam trôpegos às encruzilhadas". 
Marcos Alves Lopes

creio que páginas em branco
esquecidas num barco perdido
é  o veneno contemporâneo
dessa geração que não se entrega

viagens aos confins do infinito
para conhecer  almas
sem ponto, vírgulas ou fim
caminhar,  caminhar
caminhar e seguir

bêbado além da conta
bridando o amor encontrado
meu olho no olho  tece planos
necessita amar de verdade

livres bêbados poetas
no rastro do fogo
raio, tempestade
o tudo e o nada
palavras cruzadas
espalhadas no quarto

a vida é água que passa
numa corrente elétrica selvagem

estrelas nos bares berram
vociferam palavras de não ordem
a dança do mundo escuro me acompanha
luzes de neon também

O que você disse? o que você fez?

dúvidas ecoam

no rabo das santas escolhas
garçonetes de argila penetram línguas

olhos deitados na lua

o bardo canta e ouve

ó porcos poetas
que possuem tolas palavras
a boca coberta de desejo 
não conhece prisão

não temos tempo
para pontos e vírgulas

não queremos parar o mar
não podemos esconder o sol

o amor, magia indefinível,
sabe contemplar as flores
e aquecer terremotos

amor, magia sagrada,
misto de pureza e sacanagem
seu ventre opaco me  embriaga

as costas escoradas no muro
fumando mais um cigarro
óculos escuros olhando pra cima
foto preto e branco
uma cena bonita

 reflexão, pensamento
o amor surge após estremecimentos

agora vejo, agora sei

não conheço, não entendo

agora sinto, agora vejo

agora vivo, agora quero

palavras rasgadas no quarto
bebidas enfeitando a mesa

palavras de não ordem
gritaria  e sossego

modigliane, caravaggio,lautrec
estão dependurados no teto
ao lado da hemoglobina sempre viva
de rimbaud e bocage
e algumas granadas e metralhadoras
no assoalho da casa

a rua: 
caminho maior da exaltação conquistada

religião prenso na fumaça
e passo para o lado

as tintas ainda na calça
de frente ao cavalete

também há o amarelo nos dedos
 o vermelho no falo

samira linda, te quero
nas esquinas, salas, quartos e cozinhas
e no túnel obsoleto dos pensamentos
corporais, imaginativos

ser um contigo como o vento é 
para o pássaro
as cores para o pintor
o delírio para o louco

  poesia-furação 
é aquela que pari
 delinquentes cabeças
solitárias 

unidas no fluxo febril
das buscas extravagantes

tenho falado
pensado
prensado
analisado

caindo na vida
feito pedra que rola
 emerge das cinzas
fênix
ave-fogo-tesão

olhos vestindo sangue
que bombeia

acorda agora e veja
meu corpo nu do seu lado.