quinta-feira, 29 de setembro de 2016

ESPAÇOS

Por: Diego El Khouri

Arabescos de nuvens azuis
néctar divino dos deuses
magnólias translúcidas de afã
ósculo visguento da noite
ruínas epidérmicas de prazer


ondas sonoras uivando
um beijo, um grito, abraço
espaços multicoloridos
— tempestade, orgasmo —


e essa fome que não passa?
a triste namorada caminha
bebendo o mesmo marasmo


e essa fome que não passa?
bebês-alpistes invadem a madrugada
janela aberta, escancarada
o olho vivo, imaculado.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

ABISMOS E PARAÍSOS

Por: Diego El Khouri

Sou um homem sem especialização nenhuma, sem profissão, ritos ou dogmas. Talvez a minha falta de autenticidade e talento me faça ter uma relação diferente com as artes. Não sou o único que trata dessa incapacidade –
a "impotência que dá forças". Tom Zé mesmo retrata isso muito bem quando se coloca, não só no contexto histórico (lembrando de sua importância no tropicalismo e sua volta triunfante pelas mãos do David Byrne do Talking Heads) mas também frente a frente ao seu processo criativo. Costumo dizer que meu trabalho é uma espécie de laboratório. Por isso essa necessidade de experimentação: as inúmeras linguagens (poesia, artes plásticas, cartuns, ensaios, aforismos, fanzines, etc). Não tenho cursos, faculdades, autenticidade e muito menos talento. Sou uma sombra, um transeunte pulsando poesia. Com as mudanças significativas que ocorreram na Europa entre os séculos XVIII e XIX, em especial a Revolução Industrial, com o fim das manufaturas e a máquina cada vez tendo um espaço de destaque, obrigou o homem a se especializar em uma coisa só e o tempo impôs essa “mecanização” do indivíduo culminando com a necessidade de “especialização”, essa característica que está além de meu campo de visão ( o time is Money). Não estou alheio a esse mundo e como muitos historiadores também considero os avanços tecnológicos do século XX e XXI como a terceira etapa da Revolução Industrial. O computador, a internet são exemplos disso. Estou ligado no meu tempo e não tem como fugir. Meu passado punk não me deixa desmentir. Mas o fato é que a vida “errante dos poetas”, a existência como uma “viagem inimitável”, a “transgressão dos sentidos”, “os confins da noite” e todo tipo de mergulho, foi e está sendo minha grande fonte de criação. A fragmentação e o dizer “sim à vida mesmo diante de todos seus problemas” que os beats e simbolistas proclamaram (não esquecendo que Nietzsche começou isso tudo), a “distorção psicodélica” do expressionismo alemão, a teoria do inconsciente de Freud, as drogas, a subjetividade do nonsense, a ligação desde sempre com as minorias, a cultura das ruas, os desajustados de toda espécie, moldaram (e vem moldando) meu trabalho. Numa época de total competição, onde “é necessário” pisar na cabeça do próximo indireta ou diretamente, e “vencer na vida” a qualquer custo é implantado através de ideias mesquinhas ausentes de solidariedade, andar contra a maré é para poucos. Não vejo “heroísmo” nisso e sim incapacidade de ser diferente, de agir de outra forma. Na altura da vida, uma existência intensamente sentida, onde experimentei de tudo (ou muita coisa), mergulhado em “abismos” e paraísos”, lutando contra essa falta de talento, me encontro no curso da estrada, e mesmo com tudo contra, a poesia sempre esteve ali, diáfana, forte, presente, em chamas. É pra ela que devoto minha atenção. É nela que mergulho minhas chagas e alegrias. A gênese do delírio.



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terça-feira, 27 de setembro de 2016

CAFÉ FILOSÓFICO - A CRISE DA ARTE



A arte - Viviane Mosé, Enrique Diaz e Marcos Chaves 

Café Filosófico
Como a filosofia pode nos ajudar a enfrentar a crise contemporânea


O que é ser artista? O que é a arte dos dias de hoje? Como a arte se expressa numa sociedade como a nossa, que se transforma tão rapidamente, com o avanço da tecnologia, com as descobertas científicas e que ao mesmo tempo, se questiona sobre os seus valores, seu futuro? O mundo reinventa a arte ou a arte recria o mundo?

Quais os desafios da arte no mundo contemporâneo? Como as artes plásticas, o teatro, a poesia convivem com a tecnologia, e os novos meios? O lugar do teatro; Os destinos do livro; a computação gráfica; o (des)limite entre as artes; o direito autoral; expectativas e ansiedades sobre o mundo contemporâneo.

Nesse Café Filosófico Viviane Mosé convida o ator Henrique Diaz e o artista plástico Marcos Chaves para um debate sobre os desafios da arte no mundo contemporâneo.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

CURRÍCULO

Por: Eduardo Tornaghi


já soquei tijolo já virei concreto
já comi do bom já pastei sem teto
já passei vazio já sonhei repleto
só me falta chorar pra ser completo
já banquei o bobo me pensando esperto
já fechei a porta e ainda restei aberto
já comprei a banca - já fui objeto
só me falta chorar pra ser completo
já plantei a dor achando ser correto
já tive razão mesmo sem estar certo
já me fiz sublime - já fui abjeto
já clamei por voz no pleno deserto
já me atrapalhei com tudo que é afeto
só me falta chorar pra ser completo

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Na foto: O ator e poeta Eduardo Tornaghi e o artista plástico Diego El Khouri em um sarau no bar "Toca da Formiga" na Lapa, Rio de Janeiro. 2013.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

4 POEMAS DE CLÁUDIO WILLER

"Cláudio Willer (São Paulo, 2 de  dezembro de 1940) é um poeta, ensaísta, crítico e tradutor brasileiro. Como poeta, Willer distingue-se pela ligação com o surrealismo e a geração beat. Ao lado de Sergio Lima e Roberto Piva, é um dos únicos poetas brasileiros a receber menção do periódico francês La Bréche - Actión Surrealisté, dirigida por André Breton em fevereiro de 1965."




SOBREVIVEREMOS
(RUÍNAS ROMANAS)


Quantos poetas já não estiveram aqui
quantos já não escreveram
sobre a ofuscante aniquilação
diante desses dramáticos perfis minerais
quase natureza
reduzidos a não mais que montanha
tão perto da pedra original
barro anterior à forma
fronteira da mão que trabalha, do vento, da água
neles ressoa a ensandecida voz do oco, do cavo, da fresta
os silvos do vento
no silêncio matizado de sussurros
e agora também sou dos que enxergam
o informe
monstruoso passado
escultores do avesso os reduziram a isso
os autores do cruel teorema
que nos condena ao presente
e repete que nada sabemos e nada vale a pena
pois passado e futuro só existem
como passo para a informe eternidade
a custo divisamos lá fora a realidade logo ali
outro lugar
onde existiremos menos ainda
nós é que somos os fantasmas
e a solidez é o que está aí,
nas ruínas
a dizer-nos que isto -
nada
- é tudo o que temos


VULCÃO (fragmento)

II

O grande círculo aproxima-se
e aí você não entenderá mais nada
sobrarão algumas perguntas para serem feitas
um certo desequilíbrio 

verde verde verde
outro tempo
aproximadamente ontem/agora fábulasexorcismo
antemanhã
fantasma de bronze
cantos perpétuos
sobrenadando a madrugada
então ninguém conseguirá entender mais nada
uma sortida temerária
libélulas
traços sem destino na curva dos dentes 
À TARDE

olhar com o olhar espantado
o vôo do primeiro pássaro noturno
e saber que em breve
haverá algum tipo de confronto
de alucinação coletiva, uivo geral
saber
que por trás do olho
guardamos uma planície de risadas
dobrada em algum desvão da alma

— a sensação lisérgica de estar aí
e perceber
    a fumaça dos últimos acampamentos
    a casa na encosta do morro
    o albatroz que arrepia sua trajetória
    os mosquitos que zumbem e que zumbem e que zumbem
nesta tarde
em que três petroleiros encaram-se
e trocam sinais ao largo
e uma memória nos persegue
de rios, cataratas e pororocas
nesta praia
que é fim e começo
de qualquer coisa já sabida e possuída
e oculta
no oco da última fibra nervosa


MAIS UMA VEZ

mergulho no amor
com a cega convicção dos suicidas
penetro passo a passonesta região misteriosaturva
opaca
aberta pelo encontro dos corpos
e sintooutra familiaridade nas coisasesta calma permanência dos objetosagora formas de lembrar-seo mundoque se reduz a traços da presençaa realidadeque fala ao transformar-se em memóriatudo é conivência e signo
o espaçouma extensão do gestoas coisasmatéria de evocaçãoqualquer coisa treme dentro da noite como se fosse um som de flauta
e a cidade
se contorce e se retrai
MAIS UMA VEZ
ao abrir-se................................. para este turbulento silêncio

de olhar frente ao olharpele contra pelesexo contra sexo


terça-feira, 20 de setembro de 2016

PRIMEIRAMENTE:

Por: Diego El Khouri

Fora michel temer, fora bolsonaro, fora feliciano, fora racionalismo neo platônico, fora mesquinhez, fora miséria, fora latifundiários – assassinos do primal , fora grandes estatais, fora homofobia, racismo e todos os policiamentos que aprisionam a alma e o corpo, fora igrejas manipuladoras da massa carente de ensino, fora repressão militar, fora privilégios, fora multinacionais. FORA!! FORA!! FORA!! Viva todos os "vagabundos iluminados", a essência xamânica da poesia nessa era tecnocrática, o olho aberto, emancipado.

domingo, 11 de setembro de 2016

sábado, 10 de setembro de 2016

CLOWN REFLEXIVO


Título: Clown reflexivo
Técnica: óleo s/ tela
Dimensão: 80 x 100 cm
Artista: Diego El Khouri

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

AS MIL FACETAS DA CACAU MILA

Por: Diego El Khouri

Escritora, atriz, cantora,compositora,apresentadora... As mil facetas dessa grande artista    devassada aqui nessa entrevista; páginas vivas nesse blog que continua na sua obsessão cultural traçando painéis, paralelos, criações e caminhos com todos seus contornos, nuances e profundidades.  Vale a pena saber mais sobre essa goiana talentosa conhecida como Cacau Mila.





1)     O que te despertou pra  música?

Meu contato com a música começou muito cedo. Meu pai era músico e cantor, possuía uma banda e levava os instrumentos pra casa todos os dias após o ensaio. E foi assim, com contato com sanfona, violão e teclados que eu reconheci minha primeira paixão.

2)     Quais os artistas que influenciaram em sua formação?

A verdade poética de O Teatro Mágico e a conexão espiritual provocado pelas composições do Coldplay foram, durante muito tempo, minhas principais influências.
Hoje a nova MPB (Silva, Gadu, Clarice), juntamente com o ritmo envolvente do indie e de bandas como Beirut, tem sido o que mais me chama a atenção pela nova maneira de utilização da voz nas melodias como na mistura de sons.



3)     O que pretende transmitir com sua arte? Em algum momento pensa no receptor?

Eu sempre penso. É o que sempre penso.
Quero que as pessoas se sintam mais felizes, animadas e com mais fé na vida de alguma forma. Minha maior ambição, talvez um tanto quanto infantil, é que uma história de amor comece algum dia ao som de alguma música minha.

4)     Fale sobre seu livro Enquanto você não vem 

O Enquanto você não vem nasceu de anos de anos de blog. Quando a Penalux me convidou a levar os textos para o impresso, senti um misto de preguiça com pânico. Remexer em escritos é sempre soprar as cinzas de si mesmo. Nem sempre o que tem debaixo da poeira esquecida é algo bom. Mas, me enchi de coragem e o lancei, o livro sobre as fases que passamos até o amor “chegar” e é dividido em: Quando o amor é ansiedade, Quando o amor jorra de dentro, Quando aprendemos a vida, encontramos Deus e enfim, nós mesmos.
Atualmente ainda escrevo textos em prosa poética em meu site cacaumila.com.br e em minha coluna no Mais Goiás.

5) Fale sobre seu trabalho de atriz.

Sempre tive contato indireto com o teatro, fazendo peças desde a infância. Mas, profissionalmente a necessidade nasceu quando me senti exposta demais escrevendo e resolvi que precisa expurgar de outras formas, que precisava colocar a alma para se expressar de outra forma mais forte. Foi aí que o teatro surgiu e desde então já fiz algumas peças, mas sempre com enfoque maior no teatro-musical.


6) Você é Apresentadora (juntamente com Everson Cândido e Marcos Bazzar) do programa Plugin, da Rádio Interativa. Nos fale sobre essa experiência e sobre o programa.

É maravilhoso trabalhar com esses monstros da comunicação. Aprendo muito com o Everson e gosto muito do Bazzar. Nem sempre temos as mesmas convicções e ideologias, mas me sinto honrada em estar na rádio que eu amo, fazendo o que amo, e com pessoas que me ensinam com sua trajetória e me lembram que dá sim pra viver, e viver bem, fazendo o que se gosta.

7) Como é a sua relação com outros artistas do país e em particular, como você encara a cena underground goiana?

Eu gosto muito da nova safra que tem se apresentado nacionalmente, como Silva, Esteban, Tiago Iorc. Não tenho tanto contato com artistas fora daqui, mas o pouco que tenho proximidade, já considero amigos. O cenário underground em Goiânia é algo que me encanta. Todos os dias descubro uma banda nova com som incrível. Não tenho tanto tempo de estrada no meio, então, estou feito menina que vai pela primeira vez no parque de diversões. A coragem, a ousadia da galera independente, a criatividade na mistura de sons e nas gravações e clipes é algo que me fascina e estou muito feliz por podermos levar isso tudo pra mais pessoas através do quadro PlugNovo, no PlugIN.


8) Que som você anda ouvindo ultimamente?

Esteban Tavares, Tiago Iorc, Noahs, The Chinaskis, James Morrinson.


9) Vamos falar agora de literatura; o que anda lendo?

O lobo da Estepe – Hermann Hesse
Maestro – A volta por cima de João Carlos Martins, por Ricardo Carvalho.


10) Próximos passos.

Estudar, me aprimorar como apresentadora, poupar grana pra gravar um ep, transformar alguns textos em músicas, conhecer Amsterdã e comprar uma bicicleta.