terça-feira, 30 de novembro de 2010

A WILD BLUMEN




Entrevistando A Wild Blumen
(Por Diego EL Khouri)


Pseudônimo de alguém que já viveu intensamente e chegou à última temporada aqui na terra, A  Wild foi guitarrista pioneira em bandas punks quando isso estava longe de virar moda entre globais. Foi produtora e empresária além de promotora de eventos. Também na contra cultura, foi atriz de teatro,  compositora, poetisa, escritora, tradutora e intérprete nos idiomas inglês, italiano, alemão e espanhol. Cursou filosofia, sociologia, psicologia e jornalismo sem ter se graduado, graduando-se por necessidade de concurso público apenas em letras inglês/português, sempre mais fiel ao estilo fanzine que à literatura, outra de suas paixões. Especializou-se em inglês, psicopedagogia, redação jornalística, e iniciou Mestrado em educação em Língua Estrangeira interrompido por graves problemas de saúde. Sempre atuou em voluntariado além de empregos convencionais. Inquieta, ativista, e polêmica, continua incluindo na rede pública e ONGs o incentivo a arte sem preconceitos através de fanzines e blogs."
A Wild Blumen 

 1-   Nessa sociedade onde se valoriza as coisas temporais e não atemporais, onde a filosofia é vista com olhos tortos e a poesia  de forma marginalizada e excluída, como acreditar mesmo assim nesse mundo tecnocrático, pragmático, frio e insensível?

       Olha, isso eu não aprendi. Na verdade eu me esforço em entender as mensagens de meus ídolos para acreditar em milagres, acreditar no sonho, acreditar e acreditar, enfim, a única coisa que levo desta última temporada é que os poetas, os sensíveis, tentaram alertar os materialistas para o lado mais artístico, metafísico e mágico, mas a mente estreita da maioria de medíocres prefere a crença no crediário e na alegria de um segundo de aquisição de bugigangas ou a adulação de presentinhos que quando cobrados tem um preço salgado.

      2-  Como você vê o boom do rock na indústria fonográfica e a distorção da ideologia punk nas mídias televisivas?
      Tudo acaba fatalmente caindo no banal. Com o punk isso aconteceu muito cedo. Quando nós temos uma aspirante a capa da playboy estragando o show de um ex- Ramone com o consentimento dele mesmo, isso é o último selo do apocalipse! Hoje tudo o que um dia foi underground está servindo de pretexto para desesperados por aparecer e que não tem talento, criatividade, originalidade, então só podem utilizar o que os outros (principalmente mortos que não podem reclamar) originais e talentosos fizeram para se auto promover de maneira deturpada.

 
     3- Fale sobre seu trabalho de tradutora  e dos livros que te inspiram a criar.

      Eu  sempre traduzi porque fui alfabetizada em inglês. Meu pai era muito culto, embora excêntrico, um homem que saía da Paulista pra ficar numa chácara no meio do nada em Eldorado - SP. Ele aprendeu 5 idiomas, dos quais eu domino apenas 3. Mas como o rock é mais inglês e o inglês americano, e eu vivi muito com estudantes de intercâmbio indo e vindo e hoje todo mundo tem noções de inglês até em escola pública, mas nos anos 80 e 90 só uma minoria dominava o idioma, e assim eu era iludida e traduzia de graça e servia de intérprete para os que hoje escrevem errado até em português, se achando o Shakespeare. Quando percebi que tinha sido sumariamente deletada das panelinhas ''underground'' até por pessoas que viviam na minha casa e eu considerava como familiares, e me vi tendo que mudar de emprego (fui escrava em banco) comecei a traduzir muitos manuais técnicos, e pela facilidade com que fazia isso logo consegui prestar consultoria, e aí cursei mais um curso, o único em que me graduei para prestar concurso, e assim consegui o título oficial de tradutora. Amo traduzir porque eu aprendo de tudo um pouco: medicina, veterinária, leis de vários países, culturas, e fico sabendo de detalhes das biografias. A mais emocionante pra mim, sem dúvida, foi a do Joey escrita por seu irmão Mitch. Agora vou receber a do Marky (Ramone) e a do Lemmy (motörhead). Como nunca consegui publicar, assim que puder lanço num blogspot grátis pra quem quiser ler.

      Inspiração para criar meus contos, poemas e crônicas são de pessoas que encontro pela vida, situações que elas desabafam e outras idéias com as quais sonho à noite.
       4- Por que a mídia e colegas de profissão te vêem com um certo receio e por qual o motivo sua presença causa polêmica ?
     Toda mulher que não abaixar a cabeça como vaquinha de presépio já sabe que vai pagar um preço alto por isso. O Mick Jagger tem quase setenta anos e é considerado um Deus do rock. A Rita Lee, tão original e até mais batalhadora por ser mulher na América do Sul e bem mais nova, sofre deboche simplesmente pela misoginia que o brasileiro adora cultivar. Por pura falta de inteligência. É fácil agredir uma mulher mesmo que ela não ouse fazer nada. Quando além de fazer alguma coisa original e criativa, ela não aceita ter suas idéias usadas sem o devido crédito, ou se juntar a um grupo discriminatório, elitista e preconceituoso e ainda denunciar este tipo de atitude, o preço é a execração pública. Eu já sabia disso quando subi pela primeira vez no palco da praça do rock com uma guitarra. Minha alma punk não está aqui no mundo fazendo hora extra em busca de elogio, mas sim para incomodar até o fim. A humanidade matou Jesus Cristo, matou John Lennon, Mahatma Ghandi, porque o brasileiro que é o povo mais discriminatório e preconceituoso que existe deixaria de atacar covardemente uma mulher? Os antes colegas de underground hoje só valorizam os que tem algum tipo de repercussão, criam uma história onde os pioneiros são aqueles que eles quiserem, dando espaço a quem conseguiu (sabe-se lá como) algum lucro e passou a agir de maneira elitista. Neste ambiente não tem lugar para a verdade, a solidariedade, amizade, a atitude e coisas assim.

     5- O que a contracultura nos trouxe e o que ela nos tirou em termos de fazer arte?
      Ela nos trouxe os melhores músicos, poetas, grafiteiros (os Da Vinci de hoje), tatuadores (os Toulouses de hoje), enfim trouxe o futuro. Mas, os enviados de Satã simplesmente se utilizaram dos mais medíocres que podem pagar por um espaço na mídia e os varreram para baixo do tapete. A mesma contracultura que trouxe ao mundo Cecília Fidelli - a maior poetisa do underground, Laerçon J Santos - o mais original cartunista, roteirista, músico e poeta, para citar só dois dos meus favoritos, também trouxe o João Gordo e sua ganância e mais hordas de mau caráter. Isso nos tirou o que ela trouxe. Uma pena.

    6-  Pra você o que é a vida?

      Pois é, mesmo no momento em que me despeço da vida eu ainda não entendo a vida. Um dia eu disse a Cecília, em resposta a um poema (estas brincadeiras tão gostosas que só a internet foi capaz de nos dar) que falava sobre paixão pela vida, que esta paixão é a pior que existe, pois a vida é o objeto de paixão mais traiçoeiro, amar a vida é levar chifre! Eu adorava assistir um seriado chamado My name is Earl, em que um cara descobria que existia o conceito de Karma e tentava consertar tudo de ruim que fez. Só posso ver a minha vida como um karma pra lá de ruim! Vir ao mundo causar aborrecimento por não aceitar o que está errado.
     7- Como você, que participou tão ativamente da cena alternativa nos anos setenta, vê  o mundo underground hoje? É tudo fabricado ou ainda existe arte de qualidade como outrora?

    Participei da cena alternativa até ser expulsa agora, por pessoas que eu levei ali pela mão. O underground dos anos 70 e até o final dos 80 era uma irmandade, com muito respeito, até um certo carinho. O de hoje é corporativo. Você não pode ser mulher, não pode morar na periferia, tem que ter griffe. Onde antes as bandas tocavam e faziam sets incríveis com poucos recursos hoje colocam as fotos antigas xingando o local de buraco, por exemplo! E é resultado de uma falsidade que já existia mas que era muito bem camuflada. A pessoa fazia discurso combatendo aquilo que na realidade sempre sonhou: poder mandar, poder manipular, inventar, enfim poder. Existe arte de qualidade, mas que chance será que tem os garotos e garotas de hoje contra os ''de atitude'' de ontem?
       8- O que te afastou da arte impressa e te levou a dedicar apenas a mídia virtual?

       Primeiro foi a necessidade de conseguir terminar pelo menos um curso universitário para prestar concurso, já que tinha sido alforriada da antiga escravidão no banco. Como me mudei de SP para Curitiba e ali sofri estelionato de ambos os estados inclusive, e fiquei em situação difícil, e as caixas de correspondência eram sempre alvo de vandalismo, e eu ainda tinha que trabalhar durante o dia e estudar à noite pois era bolsista, com uma jornada das 7 às 23h, ficou quase impossível andar atrás de correio, e expliquei isso para pessoas que se aproveitaram disso e de calúnias que sofri para me isolar. Mas os verdadeiros mantém contato até hoje. Ainda tentei em Curitiba transformar meu zine num blog ali por 2004, 05 e 06. Mas ali existia um ''amigo'' dono da situação que espalhou que eu era uma ridícula que só era aturada por ter filha gostosa, e nisto teve o apoio de muitos de SP, ele conseguiu gente suficiente para denunciar meu perfil no google, que foi sumariamente deletado e excluir meu blogzine. Tive que aprender com os meus teens (trabalho como psicopedagoga com crianças e adolescentes) a criar perfil fake, blog fake e tudo o mais. Tive que mudar de nome, mudar de tudo, e começar até isso do zero. Ali, na mídia virtual, os fiéis amigos do passado me apóiam, e o resto, joga pedra. Tem um que vive espalhando que eu o persigo porque muitos dos antigos me aceitam como contato. Tive que deixar de postar comentários num blog que sigo e que adoro, de um correspondente de fanzine e mandar comentário por mensagem por causa deste sujeito que quer aparecer e resolveu inverter a história, sem falar no resto.

     09 -  Sua colocações finais. O que te aflige e o que queria dizer, porém nunca deixaram, principlamente perante a ditadura moral que hoje impera?

    Nunca dão chance a pessoa que é agredida de se defender. Ainda mais se um grupo se junta para atacar justamente uma mulher. O que mais me deixa triste é perceber que nós tivemos, por exemplo,  o Raul Seixas que tão bem definiu a vida e as conseqüências de nossas atitudes e hoje virou só um ''toca Raul'': tocam, cantam mas é apenas uma repetição sem sentido, sem absorver o que há nas palavras. É como diz o Wander Wildner: vivem ''correndo por correr: todo mundo grita/toda hora todos querem/mas todo mundo um dia vai embora/eles esquecem''. A moral rígida é camuflada com estas leis garantindo direitos que na verdade só fazem o sujeito ser ainda mais discriminado. Eu admiro pessoas que batalham por sobreviver e ainda assim tem a generosidade de deixar coisas incríveis, músicas, poemas, HQs, roteiros, filmes e tanta coisa sem nenhum apoio e se sentir feliz com o reconhecimento dos poucos que nasceram com um cérebro na cabeça. E ver que muitos dos que foram brindados com o que eles deram de bom lhes viram as costas, mas seguir assim mesmo. Ter convivido com estes é o maior prêmio que levo da vida. Só quero dizer que meu último pensamento será de agradecimento a tudo de bom, bacana, e alegre que eles me deram.

sábado, 27 de novembro de 2010

NOITE DE POESIA



Centenário de nascimento do inesquecível Adoniran Barbosa. Assim a poesia me chamou. Entre cacos de vidro, entre a Morte sorrindo, entre os sonhos em combustão. Faltava ainda escolher os versos a ler. Um sarau em homenagem a esse monstro eterno da música brasileira. Uma honra para esse bardo aqui tão bárbaro e tão cheio de cicatrizes. A noite foi de bebedeira. A graciosa e talentosa poetisa autoria do livro Gritos do Mundo pela editora Kelps me chamou para o evento quando bebíamos o néctar da felicidade em um bar do setor universitário em Goiânia.  Nesse dia me roubaram. Levaram minha mochila e com ela meus óculos, livros, estudos e materiais de desenho. Uma bosta! O livro que ganhei autografado da Wanessa Maíra foi junto,  e com ela seus gritos lançado para o vácuo da memória. O sarau ia começar duas semanas depois do convite. A correria  foi grande para a querida escritora. O evento foi organizado por uma empresa de Brasília e pela poetisa. Eram doze poetas além de uma banda de chorinho. Dois poetas de Brasília e o resto de Goiânia. A Wanessa em desespero passou os dias atrás de um Data Show. sempre dizia para ela que não precisava, que era algo inútil, vão. Porém ela sempre me falava que os poetas eram frescos e assim constatei no dia do evento o que ela tanto reclamava. Bando de frescos emaranhados nas teias do puritanismo. Seres sem voz cantando palavras inauditas e hipócritas na sutilezas das palavras impotentes.

Dia 06 de novembro de 2010. Enfim o dia do sarau. Estava marcado para as 19 horas. Cheguei minutos antes acompanhado do poeta e amigo Ivan Silva. Dos dozes poetas apenas três compareceram. Um deles alegou que não estava bem psicologicamente.  Enfim. É isso. O que dizer? Não sei, caro leitor. Apenas me vem à mente aquela cerveja gelada que me descia a garganta feito um deus possesso. Baco iria agradecer. E minha vó pediria uma dose de cachaça. Pela falta de participantes coloquei Ivan Silva também para recitar. A maioria do público que foi eram amigos meus. Foi realizado no Goiânia Ouro, um local que gosto muito pelo espaço que dá aos artistas de Goiânia, e lá como disse a cerveja é sempre gelada.

Uma banda de quarenta anos de  existência chamada Amigos do Samba que tem como proposta imitar os Demônios da garoa abriu o evento cantando uma música de Adoniran. Duas horas de atraso começou o evento. Poucas pessoas foram. Eu subia e descia as escadas toda hora. Cada descida era uma cerveja que trazia. Sempre bebo Brahma de garrafa que descobri a poucos dias que na verdade é chope. A latinha não presta. Já pegou uma Brahma geladíssima (de garrafa, claro) e misturou com vinho? Não?? Faça isso. Irá gostar. E não dá ressaca. Garanto.  Fui no camarim dos artistas. Cadê o álcool? Os cigarros? Só tinha privada! Porra! Aí não! O jeito era continuar subindo e descendo escadas. Já estava cansado disso. As pernas doíam muito. Pensa num sedentário de marca maior fazendo exercícios em pleno sábado! Quase uma viagem surrealista a la Salvador Dali. Agora deveria me comportar. Começou a “bagaça”! Colega minha vinha toda hora com uma latinha de Antártica para mim. Eu bebia intercalando com água. Adoro cerveja com água. Uma mulher muito educada começou a ler. Leu um poema de sua autoria e um da Cora Coralina. Em seguida foi o Luiz de Aquino. Grande poeta goiano. Eu já o tinha visto no chorinho da rua 3 que acontece toda sexta feira em plena rua. Nunca tinha conversado com ele. Leu alguns poemas. Fantásticos. Ele é um grande poeta com um senso rítmico, intenso e  visceral que me agrada. Fala de pelos e poros, bundas e alma numa sutileza e volúpia como ninguém. Ele diz que não, mas sua poesia tem fortes traços feceninos. Em seguida me chamaram. Dei um bom trago na cerva e subi o palco. Me apresentei, falei dos meus fanzines, o CAMA SURTA, o “folhetim coprofágico filosófico desimportante” e o Molho Livre, meu mais novo projeto. Dei uma cutucada na falta de ação dos artistas e li um poema que foi o resultado de uma conversa entre o Ivan e eu sobre a existência, sobre poesia “boa” ou “ruim”, sobre arte, metafísica, etc. o segundo poema foi um chute nos bagos de algumas pessoas reacionárias.

“Sou poeta porque és a musa que embriaga meus versos” (o público: ÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓ, emocionados). Segundo verso: "Anjo de volúpia –nua sempre –" ( o público: ÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ, assanhados). “Tua virtude resume-se ao seio e a bunda” (o público: ???????????????? interrogações na cabeça). “És puta, és deusa, és rainha” (o público – em partes – ahhhhhhhhhhhhhhhhh). O terceiro poema cujo título “ANA E CAROLINA (I) que faz referências a cantora bissexual da MPB chocou algumas pessoas. O poema que fala de um casal de lésbicas que se amam sem pudor “lambendo na insânia o ardor dos desejos intransigentes”, a chama queimando corpos em volúpias na entrega de um desejo sem igual gerou protestos na platéia. A  mais velha, professora de educação física, iniciando a mais nova que estava no 1º ano ainda no amor homossexual. Eu no palco nada percebi. Estava quase em transe mediúnico. Totalmente excitado, filosoficamente excluído e incluído no ambiente. Desci do palco quase a força e percebi minhas irmãs e amigos indignados com um velho da banda de chorinho falando pra eu descer do palco, que aquilo não era poesia e sim uma afronta aos bons costumes da sociedade. Se eu enfiasse em seu  rabo Rimbaud e do chão  saísse o abismo com uma cara enfadonha rindo de sua restrita condição “intelectual”... hum... Mas é isso mesmo. A poesia entra e destrói as bases, quebra tabus e cutuca a ferida. Eu gosto de sinceridade. De ouvir o que pensam sobre mim, mesmo que não gostem  do que faço. Aquela idéia do “homem cordial” exemplificado no livro Raízes do Brasil do Sergio Buarque de Holanda é algo certo. Muitas pessoas pegam meus textos e pela amizade antes de lerem dizem que gostaram. Acho isso lamentável. Já rasgaram meu fanzine e disseram que não tenho talento pra escrever. Isso foi magnífico! Emocionei! De verdade.

Acabado o evento fui conversar com o Luiz de Aquino. Fiquei pensando: “um poeta como esse, forte e intenso, não é possível que é reacionário também, já que sua literatura é tão carregada de lascívia, tesão e sensações alquímicas-físicas, visionárias e bombásticas?" Conversamos bastante. Ele me deu livro autografado e bebemos até 4 da manhã na Pastelarira, um bar que fica no setor Central, próximo ao Martim Cererê. Peguei um livro de outro poeta que participou do evento. Espelhos do Amanhecer do Waldire Laureano. Belo livro! Luiz de Aquino nos contou suas histórias, envolvimento com a arte e outros artistas. Se mostrou um tremendo podólatra ao fazer massagem nas meninas e um grande boêmio com um papo agradável sem ser pedante como muitos “pseudo intelectuais” que andam por aí com suas luvas de pelica. De fato uma grande alma.

O mais interessante foi saber que um outro grande trovador contemporâneo do evento viu o cú do ex presidente Lula, quando este bebia cerveja sentado num bar exibindo para todas as pessoas seu orifício anal.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

NA MADRUGADA DO ESPELHO

Você pede para que eu veja
que eu veja tudo do espelho.
Realize a tua noite
na madrugada do espelho.

E se hoje eu tenho medo
é porque eu me vi no espelho
e por mais que eu tenha medo
é apenas um espelho.

Nesse espelho que reflete medo
um medo que realiza medo
e se hoje eu tenho medo
é porque eu me vi no espelho.

No meu cheiro nauseabundo
eu vi a tua bunda no espelho
e quando eu achava um defeito
eu vi na tua bunda o meu dedo.

Na madrugada do espelho...
Na madrugada do espelho...

E por mais que eu tenha medo
tô aqui me encarando no espelho
me vendo por dentro e por fora
na madrugada do espelho.

(Diego El Khouri, 2010)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

ECSTASY

A poesia canta nas ruas
e nas esquinas
na boca emudecida das meninas
no olho
eterno
da Aurora.

sábado, 13 de novembro de 2010

ENTREVISTA/ REBOCO CAÍDO

Fabio da Silva Barbosa. Símbolo da atual cena alternativa. Mente insaciável e inquieta. Alma revoltada e dispersa. Um poeta sem meias palavras. Contista impactante sem uma linha certa de literatura. Sua arte é torta e intensa. Firme. Assustadora. Dilacerante. Turva como os bêbados das ruas frias e solitárias e ereta como as putas atrás de tarados ricos e insensíveis. Sua visão de mundo é amargurada e cheia de esperanças. É controlada por uma embriaguez sem ritmo e ritmada. Editor do grande fanzine cujo  título é o símbolo de toda sua obra:  O BERRO, fanzine mensal de suma importância para a cultura, a fúria demonstrada em palavras. Ao lado de seus amigos Winter Bastos e Alexandre Mendes com colaborações de outros superlativos do undergound carioca como Aline Naue, Anita Bragança, Eduardo Marinho, Francisco Rink, Renata Machado e  etc esse veículo surgido em Niterói/RJ alcançou diversas partes do país.  Depois de 365 dias de luta artística esse fanzine saiu em livro pela Editora Idenpendente de Brasilia. 264 páginas, onde  além de charges, poemas, contos, textos teóricos, o leitor encontrará grandes personalidades das artes em entrevistas bombásticas ( o escritor Glauco Mattoso, o cineasta Cacá Diegues, o cartunista Latuff, o cantor Kid Vinil, as bandas de rock Os Replicantes, Cólera, etc).
Hoje, Fabio Barbosa além de escrever de vez em quando no Berro (não com a mesma frequência de antes),ele participa de outros fanzines. O Gambiarra, fanzine feito manualmente, o Pençá (assim mesmo, com ç e acento no a) e o aperiódico Reboco Caído onde fui entrevistado.
Para ter acesso a sua literatura é só acessar seu blog, talvez o blog onde tem mais postagens diárias que conheço:

http://rebococaido.blogspot.com/

Aí vai a entrevista que ele fez comigo. Quem se interessar em ter em mãos os meus zines, o CAMA SURTA e o MOLHO LIVRE e o REBOCO CAÍDO do Fabio é só solicitar no email: diego.doug@homail.com.

DIEGO EL KHOURI

Por Fabio da Silva Barbosa

“Meu nome é Diego El Khouri. Nasci em 21/03/ 1986. Descendente de libanês, filho da exclusão. Antes mesmo de andar, já esboçava vários desenhos e passei minha vida sonhando e respirando arte. Uma criança excluída na infância e pré adolescência tanto na escola, quanto por alguns parentes de “dinheiro”. Apanhava direto na escola por ser um moleque instrospectivo. Nos meus desenhos e textos me vingava dos carrascos. Eu era o palhaço sem graça, que tinha taras estranhas e as escondia com um temor grande. Volta e meia as revelava na minha arte. Meu primeiro livro (não publicado) foi aos 8 anos de idade. Um livro de 100 páginas chamado REI VERGONHA, onde revelo meu ego, minhas inquietações e revoltas, além do desejo de amor e paz reinando em todo planeta. Uma visão idílica da sociedade.”
Diego EL Khouri

Vamos começar por um assunto crítico: Guerra. Fale sobre o Líbano, a região de onde originou sua família.

Meu avô, Jamil Hanna El Khouri, teve que abandonar seu país de origem, pois seu irmão mais velho, o então ministro do Líbano, Ibrahim Hanna El Khouri, que lutava pela unificação dos países árabes, foi considerado pelo partido de oposição como facista. Meu avô, depois de rodar o
mundo todo, foi parar na cidade de Orizona (Goiás), em 1951. Se apaixonou por Zélia de Castro e se casaram. Tive outros parentes que também fugiram da guerra e vieram parar no Brasil. A cultura árabe é rica e digna. Respira arte e alegria, apesar de tudo. A guerra é apenas um lixo político que ainda sustenta suas paredes. Sempre vi a guerra como um lixo. Ela tolhe os membros e destrói a beleza. Mas a cadeia do mundo ocidental fere muito mais e é essa que eu vivo e que não tem mais cura. Minha essência está completamente ligada a exclusão, desde a minha infância, quando esboçava os primeiros desenhos. Minha vida é uma cadeia de loucos. Minha família sempre foi unida e desunida ao mesmo tempo. Ela é um dos alicerces de minha arte; a minha dor, minha raiva, minha revolta.

Quando você escreve uma mensagem, em algum momento pensa no receptor?

Escrevo apenas para lavar minha alma, exorcizar minha dor e dizer que respiro. Apesar de tudo, ainda respiro.

A verdade existe?

Hoje, pra mim, o que existe é a busca pelo equilíbrio que a vida e alguns astros me impedem de alcançar.

A vida tem sentido?

“As convicções são cárceres” como dizia o filósofo do martelo, grande Nietzsche, meu guru espiritual. Vivo sem os braços e pernas, totalmente mutilado. Anjo desnudo tragando a morte. Como um profeta bêbado, bebo vinho e saboreio o nada. Prefiro ser esse ser pedante e demodé,
totalmente sem graça. Às vezes caio numas e me vem um desespero brutal e cuspo na vida o pior que há em mim, minha vã melancolia. Se a existência é sem sentido ou uma causa perdida, não me interessa mais. Prefiro dançar e abandonar correntes que me impossibilitam de caminhar.

Uma solução final.

Uma noite de extrema volúpia e poesia...

O sofrimento passado foi importante?

Importante para ter a clara noção que tudo passa rápido e temos que buscar aquilo que os gregos sonhavam: Transformar a vida numa obra de arte. Mesmo sendo um milagre vivo da ciência, vi a Morte de perto e ouvi dos médicos “fim de linha”. Vi no rosto de familiares o prazer de me ver fraquejar. Mesmo assim, me sinto em ação. A dor me leva à poesia e a arte, e eu a abraço sem medo. Sentindo as vezes repulsa e desespero, mas entre um sonho e uma punheta, tudo continua em total harmonia com os clowns do universo, os deuses de barbas e metralhadoras nos dentes.

A poesia para você:

A única capaz de não me levar ao suicídio.

Fale sobre sua pintura.

É uma continuação de minha poesia. Gosto de encarar a arte como uma espécie de laboratório. Experimento tudo. Todas as técnicas. Até desenho com sangue próprio já fiz. Este, inclusive, expus no Teatro Basileu, França, nesse ano. O resultado, às vezes, soa estranho... Às vezes indigesto... Bebi na fonte de mestres como Modigliani e Frida Kahlo as cores de minha própria carecterística.Também encaro a pintura com uma salvação.

Os fanzines:
Uma noite de bebedeira e pronto. Criei o fanzine chamado Vertigem, com alguns amigos. Empolgado e com a ajuda da internet, divulguei no Brasil todo. Mas, percebi o descaso dos membros. Queriam que o negócio rendesse, mas não corriam atrás. Depois de um tempo, saí do projeto e sem mim ele morreu. Entrei em outro. Uma bosta! E nada! Foi um longo período. Entrei em projetos de pintura que não renderam nada. Aprendi a trabalhar só. Como sou leigo em computador, dependia dos outros. Passaram os dias e fui desenhando, escrevendo e tal. Chegou um momento que resolvi comprar, no susto, um computador e lancei o zine CAMA SURTA, o “folhetim coprofágico filosófico desimportante” como costumo dizer. Foi num período de críticas e reflexão. É um zine que pretende combater a arte extremamente racional dos dias atuais. Uma volta à um certo parnasianismo. Um parnasianismo corcunda e sem graça.

Projetos:

Continuar editando meu zine e publicar meu primeiro livro de poesias em 2011.

Fui!!!

Tenho problema terrível com o fim. Sempre me corta a alma. Melhor abrir uma cerveja e ver no que vai dar.