sábado, 13 de novembro de 2010

ENTREVISTA/ REBOCO CAÍDO

Fabio da Silva Barbosa. Símbolo da atual cena alternativa. Mente insaciável e inquieta. Alma revoltada e dispersa. Um poeta sem meias palavras. Contista impactante sem uma linha certa de literatura. Sua arte é torta e intensa. Firme. Assustadora. Dilacerante. Turva como os bêbados das ruas frias e solitárias e ereta como as putas atrás de tarados ricos e insensíveis. Sua visão de mundo é amargurada e cheia de esperanças. É controlada por uma embriaguez sem ritmo e ritmada. Editor do grande fanzine cujo  título é o símbolo de toda sua obra:  O BERRO, fanzine mensal de suma importância para a cultura, a fúria demonstrada em palavras. Ao lado de seus amigos Winter Bastos e Alexandre Mendes com colaborações de outros superlativos do undergound carioca como Aline Naue, Anita Bragança, Eduardo Marinho, Francisco Rink, Renata Machado e  etc esse veículo surgido em Niterói/RJ alcançou diversas partes do país.  Depois de 365 dias de luta artística esse fanzine saiu em livro pela Editora Idenpendente de Brasilia. 264 páginas, onde  além de charges, poemas, contos, textos teóricos, o leitor encontrará grandes personalidades das artes em entrevistas bombásticas ( o escritor Glauco Mattoso, o cineasta Cacá Diegues, o cartunista Latuff, o cantor Kid Vinil, as bandas de rock Os Replicantes, Cólera, etc).
Hoje, Fabio Barbosa além de escrever de vez em quando no Berro (não com a mesma frequência de antes),ele participa de outros fanzines. O Gambiarra, fanzine feito manualmente, o Pençá (assim mesmo, com ç e acento no a) e o aperiódico Reboco Caído onde fui entrevistado.
Para ter acesso a sua literatura é só acessar seu blog, talvez o blog onde tem mais postagens diárias que conheço:

http://rebococaido.blogspot.com/

Aí vai a entrevista que ele fez comigo. Quem se interessar em ter em mãos os meus zines, o CAMA SURTA e o MOLHO LIVRE e o REBOCO CAÍDO do Fabio é só solicitar no email: diego.doug@homail.com.

DIEGO EL KHOURI

Por Fabio da Silva Barbosa

“Meu nome é Diego El Khouri. Nasci em 21/03/ 1986. Descendente de libanês, filho da exclusão. Antes mesmo de andar, já esboçava vários desenhos e passei minha vida sonhando e respirando arte. Uma criança excluída na infância e pré adolescência tanto na escola, quanto por alguns parentes de “dinheiro”. Apanhava direto na escola por ser um moleque instrospectivo. Nos meus desenhos e textos me vingava dos carrascos. Eu era o palhaço sem graça, que tinha taras estranhas e as escondia com um temor grande. Volta e meia as revelava na minha arte. Meu primeiro livro (não publicado) foi aos 8 anos de idade. Um livro de 100 páginas chamado REI VERGONHA, onde revelo meu ego, minhas inquietações e revoltas, além do desejo de amor e paz reinando em todo planeta. Uma visão idílica da sociedade.”
Diego EL Khouri

Vamos começar por um assunto crítico: Guerra. Fale sobre o Líbano, a região de onde originou sua família.

Meu avô, Jamil Hanna El Khouri, teve que abandonar seu país de origem, pois seu irmão mais velho, o então ministro do Líbano, Ibrahim Hanna El Khouri, que lutava pela unificação dos países árabes, foi considerado pelo partido de oposição como facista. Meu avô, depois de rodar o
mundo todo, foi parar na cidade de Orizona (Goiás), em 1951. Se apaixonou por Zélia de Castro e se casaram. Tive outros parentes que também fugiram da guerra e vieram parar no Brasil. A cultura árabe é rica e digna. Respira arte e alegria, apesar de tudo. A guerra é apenas um lixo político que ainda sustenta suas paredes. Sempre vi a guerra como um lixo. Ela tolhe os membros e destrói a beleza. Mas a cadeia do mundo ocidental fere muito mais e é essa que eu vivo e que não tem mais cura. Minha essência está completamente ligada a exclusão, desde a minha infância, quando esboçava os primeiros desenhos. Minha vida é uma cadeia de loucos. Minha família sempre foi unida e desunida ao mesmo tempo. Ela é um dos alicerces de minha arte; a minha dor, minha raiva, minha revolta.

Quando você escreve uma mensagem, em algum momento pensa no receptor?

Escrevo apenas para lavar minha alma, exorcizar minha dor e dizer que respiro. Apesar de tudo, ainda respiro.

A verdade existe?

Hoje, pra mim, o que existe é a busca pelo equilíbrio que a vida e alguns astros me impedem de alcançar.

A vida tem sentido?

“As convicções são cárceres” como dizia o filósofo do martelo, grande Nietzsche, meu guru espiritual. Vivo sem os braços e pernas, totalmente mutilado. Anjo desnudo tragando a morte. Como um profeta bêbado, bebo vinho e saboreio o nada. Prefiro ser esse ser pedante e demodé,
totalmente sem graça. Às vezes caio numas e me vem um desespero brutal e cuspo na vida o pior que há em mim, minha vã melancolia. Se a existência é sem sentido ou uma causa perdida, não me interessa mais. Prefiro dançar e abandonar correntes que me impossibilitam de caminhar.

Uma solução final.

Uma noite de extrema volúpia e poesia...

O sofrimento passado foi importante?

Importante para ter a clara noção que tudo passa rápido e temos que buscar aquilo que os gregos sonhavam: Transformar a vida numa obra de arte. Mesmo sendo um milagre vivo da ciência, vi a Morte de perto e ouvi dos médicos “fim de linha”. Vi no rosto de familiares o prazer de me ver fraquejar. Mesmo assim, me sinto em ação. A dor me leva à poesia e a arte, e eu a abraço sem medo. Sentindo as vezes repulsa e desespero, mas entre um sonho e uma punheta, tudo continua em total harmonia com os clowns do universo, os deuses de barbas e metralhadoras nos dentes.

A poesia para você:

A única capaz de não me levar ao suicídio.

Fale sobre sua pintura.

É uma continuação de minha poesia. Gosto de encarar a arte como uma espécie de laboratório. Experimento tudo. Todas as técnicas. Até desenho com sangue próprio já fiz. Este, inclusive, expus no Teatro Basileu, França, nesse ano. O resultado, às vezes, soa estranho... Às vezes indigesto... Bebi na fonte de mestres como Modigliani e Frida Kahlo as cores de minha própria carecterística.Também encaro a pintura com uma salvação.

Os fanzines:
Uma noite de bebedeira e pronto. Criei o fanzine chamado Vertigem, com alguns amigos. Empolgado e com a ajuda da internet, divulguei no Brasil todo. Mas, percebi o descaso dos membros. Queriam que o negócio rendesse, mas não corriam atrás. Depois de um tempo, saí do projeto e sem mim ele morreu. Entrei em outro. Uma bosta! E nada! Foi um longo período. Entrei em projetos de pintura que não renderam nada. Aprendi a trabalhar só. Como sou leigo em computador, dependia dos outros. Passaram os dias e fui desenhando, escrevendo e tal. Chegou um momento que resolvi comprar, no susto, um computador e lancei o zine CAMA SURTA, o “folhetim coprofágico filosófico desimportante” como costumo dizer. Foi num período de críticas e reflexão. É um zine que pretende combater a arte extremamente racional dos dias atuais. Uma volta à um certo parnasianismo. Um parnasianismo corcunda e sem graça.

Projetos:

Continuar editando meu zine e publicar meu primeiro livro de poesias em 2011.

Fui!!!

Tenho problema terrível com o fim. Sempre me corta a alma. Melhor abrir uma cerveja e ver no que vai dar.

3 comentários:

  1. Cara, eu tinha uma porção de O Berro zine! Curti principalmente sua fidelidade à arte e à criação quando muitos que vieram do underground hoje comentam de maneira esnobe a experiência nos zines e nos botecos com as bandas independentes desfazendo de tudo e de todos. Viva a arte! Viva o Reboco que não caiu! Concreto!

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  2. indetifiquei muito com o vç pensa e sente

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