sexta-feira, 30 de novembro de 2012

LUZ PENETRANTE




(Por Diego EL Khouri)

A visão pálida a vislumbrar todas as estrelas
brilhantes que rasgam o céu
mulher  de pele desguarnecida 
arrebol e nuvens que transam
penetrando cores e desenhos

 sentinelas a perscrutar  o frêmito
do tempo  na alvorada reluzente
e pergunto a quem pode
corromper na resposta
todos os ensinamentos tolos  da vida

e pergunto e não tenho saída

ébrio que bebe o mijo
dos antigos surrealistas
para mascarar  a viagem
em dia e noite
o sol a brilhar a praia
espuma branca
e o cheiro da cannabis
que envolve e chama


e pergunto e não vejo saída

apenas a luz
de seu olhar penetrante
a forma como anda
e transparece uma malícia radiante
pura poesia boba
copo de cerveja pela metade
lábios  unidos em volúpia
porre em noite enluarada
a solidão do quarto
e uma mijação sem parar que não acaba


por que olho e não reparo
as cicatrizes que desenham sua face?
caminho da praia sua casa
em todo bar e sarau te encontro
mas prefiro zonas vulgares
rainha alada, saiba que o poeta
nasceu para xingar-berrar-gritar
romper limites e barreiras
é o que eu  tenho falado

e não veja em mim uma saída
nem me roube  todo pecado

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O BERRO QUE CANTA

(Por Diego EL Khouri)



Que sismas cai sobre a terra
para que eu pudesse observar com calma
 o pleno horizonte de escamas douradas?
Que frio é calmo eu sei
mas quem se apresenta de dentes cerrados
a esbravejar inúteis palavras de guerra?
Com medo permaneces calada
e com medo comandas tuas frases.
A minha barba eu não mais faço.
Com ela escondo a agonia inconfessável 
que perambula por todos os poros da alma.

Uma adolescência ao lado do crime.
Corpos em combustão. A nuca plena de desejo
dessas mulheres... ah lábios murmurantes
desmedida volúpia que não cessa!
Me excedo em caos liberto
libertino de todas paragens
uma infância imobilizada 
no delírio da viagem.

Hoje um poeta velho 
num corpo jovem enfermo
cantarolando músicas baixinhas
mostrando o pau pra qualquer uma
o horizonte que se desfez
tecendo lágrimas num mar incomum.

E canto como o último gozo
a estampar essa face sempre cínica
socialista arfante
um bardo a roubar corações
na paixão delirante.

Canto para esse ventre sujo
que moldou minha poesia de escárnio
 e essa mãe doente
a eternizar o sofrimento em arte.

Canto para quem move montanhas
e quem nem acredita nelas.
Canto para homens e mulheres
que se entrelacem e virem um corpo só.

Canto para a dona de casa,
o professor e a empregada,
só não canto pra polícia
o estado e essa raça do caralho.

Nem canto para as regras
meu olhar vítreo é um veneno cego
a espreitar na janela
fogo imortal monódico
sem faísca e quimera.

Canto pois desafino
e desafinar é a beleza sem meta
me sinto foragido de mim mesmo
a usar as rimas mais bregas.

Canto com as armas
apontadas para a platéia 
desavisada das atrocidades
que vociferam e incomodam tanta regra.

Canto que me deixe 
que a fala seja deleite
de quem só sabe berrar.

E eu berro e canto
destroçando leis
em plena praia do leme
pelado mais uma vez.

mais uma vez pelado
em frente a polícia
soco no estômago e porrada
enfim... mais uma poesia.


terça-feira, 27 de novembro de 2012

ZINE BRENFA - EDIÇÃO NR 01 E NR 02



Por Diego El Khouri e Ivan Silva.

Email para contato:
                     Diego EL Khouri - elkhouri.diego@hotmail.com
Ivan Silva - isrbaixo@hotmail.com

*Em breve estará saindo a terceira edição.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

JORNADA DIÁRIA


(Por Diego El Khouri)

Preciso de um instante de lucidez.
Atravesso a Avenida Goiás.
Furto um cigarro de um neo hippie bêbado.
Chego no Lago das Rosas, atravesso a Anhanguera.

Penso na língua no meio das pernas
e na poesia que escrevi nas noites belas.
No Novo Mundo me perco, durmo
na Praça Cívica e acordo molhado.

Era uma incômoda chuva de março.
Ouço um blues no Setor Sul.
Tenho desejos de mulher grávida.

Me encarcero então no subúrbio
onde reinam pombos viados e putas universitárias.
E termino no interior sem nenhum  puto no bolso.

19,09,08







terça-feira, 20 de novembro de 2012

INFÂNCIA II

(Por Diego El Khouri)

                pés de arame
olhar turvo cabeça esquia
esse é o poeta que se perdeu no caminho
                         trânsfuga de paragens comuns
    bebedor de vinho
aquele que se instala em lugar nenhum
amante imoral
que comeu a fruta proibida
e transita por debaixo do coração da cidade
louco bêbado fedido
a barba messiânica esconde o sorriso
             um raio de luz
                  a beleza do olhar
          bruma estrelas transparentes
   Sodoma acorda
me abrigo e olho
mil montanhas   se despedaçando
         - cinzas envolventes -
          AMPLIAM! SONDAM!
         todo o prazer
criança novamenee
filho de Xangô
orixá do trovão
criança incestuosa
a pernoitar noites e noites sobre livros
e tabaco
criança pura engenhosa
                     volta
             volta
    volta
acorda
e paralisa o relógio da memória
criança ardente
pele macia sem cicatriz
novamente
Sodoma e Altar


SEM PÁTRIA NEM DEUS



(Por Diego El Khouri)

te devoro enlouquecidamente com os desejos aflorados do instinto comendo seu cu, sua buceta e a agonia que trazemos de séculos  de luta e sangue. fantasmas do amor, das sombras, sem pudor algum nos lambemos, barco a deriva, explosões de fogo no céu escarlate, sou seu hoje, de mais ninguém, minha língua ávida, caminho tortuoso do tesão, desce de seus seios depois de morder o pescoço, escorre pela barriga até chegar na zona monumental dos prazeres e chupo sua buceta até estralar (o amor tem seu barulho característico) (...),sou deus do despudor, você rainha do pecado, juntos somos os donos do universo pois paralisamos o  destino no sexo, na noite, no olhar, no êxtase, na volúpia  sem regras; não temos deus nem pátria, apenas eu e você, mais ninguém.

domingo, 18 de novembro de 2012

LADRÃO CONFESSO




(Por Diego El Khouri)

sinto todas as curvas da estrada

fugitivo de qualquer governo ou polícia
fugitivo nato, trânsfuga, carrapato
sempre do lado de quem está errado
perdi a vida toda lambendo sapatos
roubo livros, comida, ideias passadas
em poesias amassadas no guardanapo
beber até a última gota qualquer viagem
o poeta entra e os pedantes se afastam
se bem que no meio há muitos poetas
que não valem nada.

ESPUMA BRANCA




(Por Diego EL Khouri)

Cansado de cantar para as paredes,
feliz por as paredes cantarem.
Edu Planchêz

manhãs nos torturam
como estupro primaveril
encosta de sangue fervendo
a menina é um ácido rude na manhã que me devora
e eu me tranco em janelas desgastadas
de presídios que nunca dormem
antes tudo verde
mata cheirosa, o mar, a estrada
um cordão de isolamento para frear meu gosto de vida
e num hospital em são paulo
paraliso meu destino
na medida que o tempo passa
passa e só?
mil vidas num corpo
numa mesma existência
cadeiras de rodas no espírito, lado esquerdo quebrado
o cordão nas pernas a beijar
gosto de hálito-cevada
enfermeira gostosa gosto salutar um brinde
num bar afastado do centro do Rio de Janeiro
ouço histórias
tempos de loucura e escola
me vejo nu
lambendo seios
e a fome ao lado
é simplesmente fome
numa porta fechada

mil vidas de absoluta contradição
trânsfuga camaleão faminto
carteiras  e carteiras de cigarro insustentáveis
- OLHEM AS BANDEIRAS
MIL SIGNOS MIL SINAS! -
tragédias
condensar a idéia
morrer de fome
destino de poeta?
correm em trânsitos indecentes  minhocas
"poesias que fedem"
amor cão
mais uma na minha cama
e eu só
 junto
apertado
unido
canto versos matando heróis e destinos

a poesia quer me foder ser fodida
por versos sem regras e moral
é beijo de espuma branca na praia que clamo
vários baseados, um amor que me construa evolua quanto ser
antes alguns pecados no reino do sexo
"sabes que rumo tomar?"
um gole, um trago

"sua porra louquice vai te levar
para o fundo abissal do fracasso,
pois falar de quem manda no estado
é coragem que não leva a nada"

assim se apresenta a amiga
dos olhos de mel
cabelo negro, seio relâmpago
marxista não marxista
uma fulana qualquer"

quero apenas

 (não diga e não cante)

o beijo de espuma branca na praia
o delírio de quem se dopa
 a ousadia de quem sonha
e rasga sem medo sua memória.

sábado, 17 de novembro de 2012

O POETA

(Por Diego El Khouri)


APOIO AO POVO PALESTINO




Resistir à tirania é um direito legítimo. O uso da violência contra opressores é sempre justificável. Não se trata de um culto à violência. A guerra e os conflitos armados são sempre ruins, pois geram morte, dor e caos. Entretanto, não se pode pedir para que um povo injustiçado aceite sua condição de miséria, pois isso não seria justo, nem humano.

E é por isso que todos aqueles que acreditam na justiça devem apoiar incondicionalmente a luta do povo p

alestino pela liberdade. Os palestinos vivem sob opressão sionista há décadas. Imagine quantas pessoas foram impedidas de ter uma infância saudável e feliz por causa desses conflitos. E tudo por culpa da arrogância e do desejo por poder que os sionistas têm.

O sionismo nada mais é do que uma vertente do fascismo. Assim como os nazistas, os sionistas se baseiam na ideia do povo superior. Para eles, os árabes não passam de uma etnia de segunda categoria.

O Estado terrorista de Israel não quer a paz. O que Israel quer é o controle sobre toda aquela região. A sua primeira intenção é anexar toda a Palestina ao seu território. E talvez, caso nada seja feito, consiga. E o que virá depois? Eu acredito que o seu governo terrorista continuará a avançar sobre os territórios árabes e persas. Os fascistas israelenses possuem claramente um projeto imperialista para o Oriente Médio. Querem construir um império sionista.

Já faz dois dias que a Faixa de Gaza está sob ataque. Vários palestinos já morreram, incluindo crianças. Eu li hoje que, para revidar a agressão israelense, o Hamas lançou um foguete em Jerusalém, que segundo a informação não atingiu ninguém, nem mesmo prédios.

Percebem como o conflito é desproporcional? O Hamas não tem grande poder de fogo. Ele basicamente possui armas de segunda. Basicamente lança foguetes contra Israel (e tem todo o direito, afinal, é um movimento de resistência contra a ocupação sionista), foguetes que raramente atingem algum inocente. Aí Israel mobiliza todas as suas forças armadas e lança ataques aéreos contra Gaza, matando dezenas de inocentes, destruindo a infraestrutura palestina e gerando dor e sofrimento àquele povo.

Não há como ser imparcial nessa situação. Ou se está do lado dos oprimidos, os palestinos, ou do lado dos opressores, a elite terrorista de Israel. Como sempre digo, é a Palestina que está sob ocupação, e não Israel, são as crianças palestinas que estão impedidas de crescer em um ambiente tranquilo e saudável, e não as israelenses.

É claro que não se pode responsabilizar todos os israelenses pelos crimes do seu governo. Ao contrário, eles são vítimas do próprio governo. O Estado sionista agride outros povos, gerando inimigos para o seu próprio povo. Os judeus honestos não podem ser confundidos com esses fascistas que usam o judaísmo como máscara.

E assim como esses judeus honestos não aprovam as ações de Israel, nós também devemos manifestar todo o nosso desprezo pela elite sionista e seus políticos, que já causaram estragos demais no mundo. Não podemos ficar calados diante do massacre diário de árabes, praticado não só pelo governo israelense, mas também pelas potências imperialistas do ocidente. Mesmo que no momento tudo pareça perdido, ainda que por agora os imperialistas estejam vencendo, não podemos perder a esperança, pois é justamente isso que eles querem, que as pessoas aceitem tudo caladas.

Existe uma frase famosa de Che Guevara que diz: “Acima de tudo procurem sentir no mais profundo de vocês qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a mais bela qualidade de um revolucionário.”

E é assim que devemos agir.

ADMINISTRADOR C.E.S









*Retirado da comunidade do facebook "CENTRO DO SOCIALISMO" 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

MERDA NO VENTILADOR

(Por Luiz Carlos Barata Cichetto)

Muita gente me critica pelo fato de eu estar sempre jogando merda no ventilador, mas a merda que eu jogo é a deles, por isso que reclamam tanto e se sentem tão ofendidos. Em uma entrevista ao poeta e zineiro Diego El Khouri, o poeta Glauco Mattoso afirma: "Eu diria que, sendo o Brasil um país bem vira-lata, quem quiser assumir o rotulo de 'sujo' tem mesmo que estar um pouco acima da media... Mas ser um poeta sujo não é apenas chafurdar na merda: é saber jogá-la no ventilador, saber fazer dela boas tortas para atirar na cara dos politicamente corretos.". Concordo completamente com ele, mas preciso acrescentar neste contexto que muita gente liga o ventilador, apanha a merda e a espalha, mas não basta jogar a merda de volta na caras das pessoas a própria merda que eles produzem, é preciso fazê-las sentir que aquela merda toda é deles mesmos, não de quem a colocou no ventilador. Seria quase que o mesmo efeito da tortura de Alex, personagem de Laranja Mecânica, causar o asco pelo próprio feito. No livro de Burgess e no filme isso não dá resultado, anulando o que chamam de "livre arbítrio", tornando o ser incapaz também de gerar o bem. E na tortura pelos métodos de "merda no ventilador" funcionaria? Os torturados se sentiriam enojados pela própria merda a ponto de não mais produzi-la? O que a sociedade produz é apenas merda, no final das contas. Tudo vira merda! Tudo. Até mesmo o pensamento dos intelectuais, a musica, a poesia, tudo. Tudo acaba se transformando em merda pura. E artistas, que não são aqueles que como os poderosos se locupletam com a merda produzida por essa sociedade, como poucos que ainda existem, como é o caso de Glauco Mattoso e outros, sendo que nesses outros também incluo sinceramente a mim mesmo, precisam pegar essa merda toda e jogar no ventilador com toda a disposição. Existimos num país de fracos, doentes e incultos. Muita merda é que existe. Então precisamos de mais ventiladores.

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Pessoal Mas Transferível
Barata Cichetto


Thomas Eakins (1844-1916) Old Man Said To Be Wal Whitman
- Acorda, preguiçoso! Corta o cabelo e arruma um trabalho
E aproveita e corta essa barba, seu vagabundo do caralho!
Não tem respeito quem não madruga em fila de emprego
Escuta o que falo ou preciso falar em russo ou em grego?

Ah, mas que tolo fui eu em acreditar naquilo que eu podia
Minha arte não dá dinheiro e a cada poesia mais me fodia
Com escrita nunca recebi sequer uma moeda de um real
E o mundo que conheci acabou, agora o mundo é surreal.

- Acorda, filho da puta! Nesses dentes podres dá um jeito
Ninguém precisa de poesia e poeta não é um bom sujeito
O trem funciona desde as cinco da manhã, todos os dias
E estou farta de suas poesias e de suas eternas covardias!

Esqueci o que sabia e não aguento mais subir descidas 
Precisamos de comida e as contas estão todas vencidas
Eu preciso provar que não sou um ladrão ou vagabundo 
Ainda arranjo um emprego nem que seja um moribundo. 

- Acorda e manda currículo, qualquer emprego lhe serve
E peço em nome de Deus, que seu emprego lhe conserve
Lembra da senhoria, paga as contas de luz e o crediário
Deixa portanto essas histórias de poesia, Poeta Ordinário!

Hoje pensei em abrir o gás do fogão e tal a Torquato Neto
Enfiar a cabeça deixando um bilhete de adeus bem direto
Mas não tenho coragem, deixo que me matem aos poucos
Pois tenho a covardia dos poetas e a coragem dos loucos. 
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Leia Também a Entrevista de Glauco Mattoso a Diego El Khouri: 
http://fetozine.blogspot.com.br/2011/07/glauco-mattoso-o-poeta-da-crueldade.html

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* Retirado do blog http://baratacichetto.blogspot.com.br/ de Luiz Carlos Barata Cichetto)

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

CADEIRA ELÉTRICA



(Por Diego El Khouri)

"Amigo, perceberás que no mundo existem muito mais tolos do que homens, e lembra-te disso."
Rabelais

Abalo sísmico 
cadeira elétrica onde grito
mil rosas nos canteiros de barro
espinhos maledicentes
que perfuram a alma
e eu grito eu grito eu grito  em silêncio
pois não há ouvidos
nem sombras debaixo dos ipês
há moléstia por toda a parte
e mil corações apaixonados

não há (hoje) hombridade na arte
muito menos coragem

bando de saqueadores de versos
ideias e sonhos
mentes amputadas em corrupção
meu sangue escorre pelos poros da alma
vejo palácios, festas e algazarras
do outro lado da cidade
me negaram o último pedaço do bolo
esse deus que chora e se masturba
perante mentiras de mercado
eu caio perante os crimes
apenas a cabeça de fora da areia
suntuosas miragens

"seja pela fatalidade do meu nascimento"
pelo ódio estampado em minha face
ou amores que bebi no passado
vos conjuro escritores pedantes!!!!
escritores de merda!!
falastrões sem consciência!!
ridículos poetas!!!!
poetas oportunistas!!
gente medíocre!!! 
vendidos sem tino!!

conheço muito bem seus jogos sujos!!!!
Letra Livre?!!
  Onde?!!
         Quando?!!!

               mais um poeta censurado
                     debaixo da barba  do pedante otário!!






sábado, 10 de novembro de 2012

VENENO NA BOCA ESCORRE, PERFURA OS CÉUS, ABRE O MAR

(Por Diego El Khouri)

15:15 da tarde de um dia qualquer.
Dia de chuva. Dia parado.
Lágrimas delicadas cheias de veneno
imitavam numa audácia incrível a chuva
que escorria pela janela.
Era uma chuva fria, morta, vil.
Não tinha sequer um som agradável.
Era uma chuva nojenta, sem brilho
porém intensa de graça.
Chuva límpida, cheirosa, cheiro de capim,
amora, flores, pássaros, amores
cobria a alma de angústia
num corpo febril de mulher vazia.
Bebia, bebia e bebia feito louco, sedento...
Principalmente as ilícitas
como faço agora em frente a máquina.
Anjo bandido, perdido
desenhado em seu corpo 
como pintura rupestre infinitas cicatrizes.
Essas não... não desaparecem...
Apenas se escondem dentro,
ofuscadas pela alma que grita
sem resposta à barba de açafrão
desse deus amigo
que sofre
só e calado.

Tempestade coloca
a mãe de quatro paralisada 
diante o passado.
Summertime abre as portas elétricas
que Miles Davis criou.
Jogar cadeiras sobre a polícia novamente?
Transar na rua em frente a tanta gente?
Fumar um dentro da cabine bancária com sua namorada?
Tormentos anunciam
a nova jornada que é aço
fibra suicida
miséria ferida
constantes vezes expulsos de vários lugares
apelos sem norte
canhoto rasgado
tantos lugares
cidades, estados.

Estado alterado...
A chuva não para a séculos
porque cada segundo é um século
a ser resgatado.
Mas como?
Pergunto ao sr. Açafrão
que nada diz.
     Eu pra falar a verdade
     não vejo graça
     em nada que ele fala.

"Ei rapaz, seu valor está na conta bancária!!"

(... agora que ele diz??!
agora que ele fala??!
agora que ele responde?!!
Filho da puta!!!!!
Que displicência autoritária
desce dos céus e cai bem na minha cara!!!
Bomba atômica diáfana e o caralho!!)

Meu valor joguei no mar
pra ser o que me tornei hoje
ou seja, absolutamente NADA.



CARPE NOCTEM

(Por Queiroz Filho)

Depois de tantas lutas, tantas quedas!
Mais corajoso ao mundo tu te mostras,
Não perdes teu orgulho, nem te prostras
Ante as imundas cifras das moedas...

Teus pesadelos tortos, viscerais!
Teu chope com espuma de arsênico;
Teu Gênio de Profeta esquizofrênico;
Conduzem-te aos Édens infernais.

Lá aonde a tua Alma te vomita
A cada aparição Mefistofélica
De tua inspiração sempre maldita!

Surgida sob a forma Cadavérica
Dum anjo que ao teu ouvido, uiva, dita!
As dores dessa consciência histérica...



P.S: Para Diego El Khouri 



///

Mais uma vez obrigado, Queiroz Filho, mestre dos sonetos!!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

POEMAS DA EMILLE ARYÁDNE



CAIA!



CAIA CHUVA! 
ENGRANDEÇA A MINHA NOITE!
LAVA MEUS OLHOS… 
FERTILIZA MINHA MENTE… 
LEVA CONTIGO O NADA QUE TENTA ME PREENCHER. 
TRAGA ATÉ MEUS PÉS UM POUCO DO QUE ENCONTRASTES NO CAMINHO. 
DEIXA QUE MINHAS ROUPAS PESEM E TORNEM MINHA CAMINHADA MAIS PENOSA.
CURA ESSA SECURA NOS MEUS LÁBIOS. 
TATEIA MEU CORPO E CARREGA CONTIGO O MEU CANSAÇO. 
CAIA FORTE! TEMPESTEIA!
DERRAMA-TE SOBRE MIM E CAMUFLA AS MINHAS LÁGRIMAS.
RELAMPEIA!
ABAFA MEUS GRITOS!
FAÇA VIBRAREM OS MEUS TÍMPANOS PARA QUE
EU NÃO OUÇA POR UM INSTANTE ESSA VOZ QUE VEM DE DENTRO.
CONGELA-ME!
CONGELA-ME!
AJUDA-ME A PRESERVAR MINHA INTEGRIDADE!
NÃO DEIXA QUE ME DERRETA EM POESIA.
E DEPOIS QUE SE FOR COM A LUA…
DEIXA TUAS NUVENS CINZAS PARA EMBELEZAREM A MINHA MANHÃ.
DEIXA OS GALHOS QUEBRADOS.
DEIXA AS FOLHAS CAÍDAS.
DEIXA O FRIO QUE PEDE O AGASALHO.
DEIXA-ME ASSIM, COMO AGORA ESTOU.
ENCHARCADA DE EMOÇÃO.

INEBRIANTE


sábado, 3 de novembro de 2012

POIS É



(Por Diego EL Khouri)



na terra dos poemas

dionísio bate a porta
no toque sutil da melodia
a inspiração se encontra
e explode.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

BODISATVA SAFADO II




(Por Diego El Khouri)

Nada como voltar e ainda encontrar os pedaços.
Ivan Silva


carrego em mim
todos os sofismas humanos
todos os vícios inconfessáveis
todas as chagas sentidas
todos os sonhos inefáveis
um olhar que não se fecha
à luz que não vem
becos imundos também
não posso ficar só
a convulsão da noite me maltrata
sou
        só
Armagedom inevitável
que a poesia cria
"bendito é o fruto
do vosso ventre"
que cospe rajadas de inferno
amém
chuá chuá chuá chuá
mar mar mar mar
me enrolo em seus cabelos
em qualquer beco
avenida anhanguera e jacarepaguá
sou pedra no sapato
bodisatva safado
arcanjo e diabo
a nota imunda na mão do otário
a poesia sem conteúdo
pois falta pecado
sou a vida enfraquecida
na  morte cheia de agonia
um bêbado alegre e querido
amando mulheres lindas
 perdidas em algumas clínicas, delegacias
ou escondidas atrás da bíblia
ou em algum emprego vazio
às margens do abismo
aqui portanto mais um capítulo
do diário perdido
num botequim qualquer
do meu brasil.