terça-feira, 27 de março de 2012

CLOWN INVETERADO

(Por Diego EL Khouri)

velharias fétidas no  lixo da existência
crescentes cidades a esconder sois fulgurantes
cegando olhos-arte fermentando mentes-arte
subjugando corações-arte acariciando sensações-arte
num clima pesado de antes
arte-acariciando-sensações -arte
corações-subjugando-quimeras-arte
cegando arte no sol fulgurante da arte
o mesmo picadeiro de sempre
inveterados clowns virados pirados imaculados chapados  no destino-arte
prestes a explodir
como bomba de  nitrogênio homem sem oxigênio
nove anos no centro do palco
ouvindo de fora as velhas histórias
um palhaço a tratar de arte comendo o lixo da alma
assistam ao fim do século
antes que ele venha
a guerra combustível aliada a água
deixem na portaria vossa senha
o toc toc dos telefones a carregarem  fraticidas irmãos numa aliança límpida e dengosa
"Vão tomar no meio de vossos cu!"
Assim diz deus aos filhos que não somos
aos cristãos que não se molestam
velharias fétidas no lixo da existência
crescentes cidades a fulgurar sois inexistentes
não existo!
abro os braços paredes dessecantes do amor falido
sai daqui?
eles ainda bem estão ali
sorrateiros sorridentes perfeccionistas
todos juntos formam um só
uma unidade perante ao deus prenhe de toda a dor
na cruz dependurada na parede da sala
renascendo no vaso sanitário
o mesmo deus que me tomou de assalto
cortou o laço que me gruda ao passado
agora chegou meu fim?!!!!
ainda saboreando o lixo da alma
 o coração falha
as juntas doem
 me sinto só
cigarros cigarros cigarros
espasmos doentios  caminham com minha língua
ácida venenosa insana agonizante
impotente
vomito todos os dias
matéria de poesia?
não
é a vida que me empurra à uma existência perdida.

domingo, 25 de março de 2012

LÍNGUA RICA OU CONFUSA?

(Por Fabio da Silva Barbosa)

Certas coisas não entram em minha rude cabeça. Por exemplo: se o ch tem o mesmo som do x, qual a necessidade do ch? Questiono o ch por terem unido duas letras para fazer o som de uma que já existe. Eu sei que muitos irão falar sobre a origem da palavra e toda essa história, que embora seja muito interessante para estudiosos do assunto, não serve muito para os que usam a língua em sua real finalidade, a comunicação. O fato é que sou um grande oxigenador. Sou a favor das mudanças. Mudar sempre. Só o que está morto não precisa de oxigênio e mesmo assim muda. De um jeito ou de outro muda. Apodrece. Muda a forma, a consistência, o cheiro... É a mudança que resta aos que se mantêm firmes às velhas normas: o apodrecimento e o mofo. Cérebros engessados não produzem, apenas repetem o que já foi dito, tocado e feito.
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O falar serve como um meio de comunicação assim como o escrever. Não é mais que isso. É apenas uma forma de se comunicar. E a língua muda como muda o povo que a usa. Ela tem de atender a necessidade do povo, em vez do povo atender a suas necessidades.
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Para não acharem, os simplistas, que apenas abolindo o ch se resolverá a questão, vou citar também o caso do s. De uma forma geral, s faz som de z e ss, som de ç. Preciso continuar o raciocínio? Preciso ainda falar que, na prática, essas regras têm exceção? Que, por vezes, o s faz outro som? E de que serve isso? Isso é riqueza da língua? Preciso perguntar a utilidade de uma letra que faz som de outra? Preciso chegar ao cúmulo de passar pelo h antes de uma palavra como o nome Hugo? Há países em que isso faz uma grande diferença. Mas vamos falar de Brasil. Qual a diferença de Ugo e Hugo? A não ser o h, é claro. E o g com som de j, ou vice versa? Poderia ficar o dia inteiro na frente do PC desfiando as banalidades lingüísticas que nos são impostas, mas acho (ou axo, tanto faz) que já consegui passar a idéia geral da coisa. A história ou etimologia da palavra não é camisa de força para prender um povo a um sistema confuso de signos que perde o foco de sua real função. Dizer que ia ser complicado mudar tudo agora seria uma grande besteira. Não seria dificuldade nenhuma uma pessoa, independente da idade, ser informada de que a partir de agora apenas o x fará som de x. Olha que coisa "difícil" de explicar. A internet trouxe mudanças muito mais complexas ao cotidiano da escrita, e todos absorveram muito mais rápido do que essa linguagem empolada que nos empurram goela a baixo desde a alfabetização, sem conseguir nunca que nós fiquemos confortáveis ao usá-la. Somos sempre vítimas dela, que nos assalta com dúvidas criadas por suas regras arbitrárias. Engraçado que nunca vi aula de MSN para ensinar que vc significa você, ou qualquer outra coisa do tipo. A coisa flui naturalmente quando é agradável ao usuário. Assim como o k, w e y foram retirados do nosso abecedário, a coisa tem de continuar caminhando. O desengorduramento lígüistico tem de persistir. Nunca vai estar bom o suficiente ao ponto de não precisar mudar mais. A perfeição é utópica.
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Ainda bem que existem as gírias para nos salvar dessa estagnação que tanto agrada a alguns senhores do saber. A gíria é o enriquecimento da língua. Isso sim é riqueza. O povo criando e transformando o que é seu. Dia após dia. Palavra por palavra. Mudando conceitos sem nenhum tipo de preparação ou aviso, nem por isso deixando de compreender o significado da palavra assim que é dita. É por isso que o teórico fica tão aborrecido com essas mudanças. Porque ele fica de fora. Não é consultado. Quando sabe... já foi. Aí só resta desfiar seu conhecimento ultrapassado, com cheiro azedo, tentando provar que tudo que escapa ao seu controle é blasfêmia.
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VIVA A LITERATURA MARGINAL!
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VIVA AS TRANSGRESSÕES LIGÜISTICAS!
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VIVA O VIVO!

sábado, 24 de março de 2012

MEDALHA ROTA NO CANTO DA BOCA

(Por Diego El Khouri)




Aos medalhões do século que grudam seus lábios
na consciência fétida
dos poetas-loucos
uma última constatação:                           
           
                                                       a mortelevebreve


arquejando os sonhos à sensação inóspita
que o desajeito da alma anuncia
é assim a minha vida todos os dias
a flor que beija a manhã
sem aviso prévio
picotada em inúmeras faces
a camada de ozônio destruída
na boca-bueiro capitalista
a barba reluzente escondendo agonia
da face em máscara medicinal
o barulho sujo dos carros à manhã nucpcial da dor
em fileiras hediondas escravos wave foda espinhos brancos
filetes de esperma
um canto que fere outro que alivia
essa é a rotina todos os dias
o velho-menino bêbado
nas dores do álcool falido
fermentando poesia
ando só sem pai nem mãe
nem ventre nem deus
solta volta enrola e volta
a epiderme religiosa
mergulhada num mar sem fim
prodigiosa imponência lúcida
os cortes as vísceras os rins
essa é a manhã que se insinua pra mim?

quinta-feira, 22 de março de 2012

RVM

(Por Diego EL Khouri)


Sua boca se aproxima
se afastando
essa vertente que não canta
pluralidades de línguas
avançando aquilo que inflama
a chama acesa derretendo velas
falo que se aproxima encosta
entra e penetra dentro dela
assim as bocas se sentem leves
o múrmurio dos sonhos viciados
peitinho aceso na alma
gritos e gemidos falhos
a boca que se aproxima
se afastando dela num delírio gasto.

segunda-feira, 19 de março de 2012

FANZINE GOIANICE- 1 EDIÇÃO

  "Resolvemos unir um pouco da obra, idéias, pensamentos e trabalhos de alguns artistas do Estado de Goiás em um Fanzine." 


em breve mais informações:




domingo, 18 de março de 2012

EXCRESCÊNCIA

(Por Diego EL Khouri)


"Fiz de toda minha vida
um bocado de poesia"
mas cresci
e essa "excrescência ornamental"
que Leminski repudiou
e como profeta da palavra  
transmutou em uma inevitável necessidade orgânica
é meu corpo que inflama
a doença que urge
o destino que trava
a vida que move
cegando os olhos
na inconveniente ordem.

quarta-feira, 14 de março de 2012

ESPIRAL

(Por Flávia Perez)


Meu passado
ora me chicoteia as costas
e sangro,
lanhada e roxa


ora me morde a nuca
docemente
e me encoxa.

sexta-feira, 9 de março de 2012

quinta-feira, 1 de março de 2012

NEM DOSTOIEVSKI IMAGINAVA

(Por Diego EL Khouri)

Noite de bebedeira.Um cheiro forte de cachorro molhado tresanda as janelas da sensibilidade e sem que ninguém veja  El Khouri molha a boca de cerveja como se fosse o último gole da noite acompanhado de um arroto leve numa cerimônia fingida de lirismo onde copos se esbarram e riem de seu estado vulgar e nenhum pouco fingido. Mas é uma molhada mais delirante que real. Ele está impossibilitado de qualquer ato ousado. Sua calça fede volúpia de Morte ferida e seus olhos estagnados, devido a semanas de orgias químicas, respiram desencontro, a mão suada como sempre, pernas frágeis e o veneno da boca, tudo anuncia a poesia que não cala, de uma boemia sem traumas. É tudo abaixo do limite perimitido da embriaguez. É preciso subir essa nova escada. Não há motivo pra ser coerente. A vida é um espelho que por incrível que pareça tem características de peça iquebrantável. Um teatro a la Antonin Artaud, a armadilha que faltava.

Um dia foi fome, luta pela sobrevivência, mau estar, medo, doença na família. Oito anos desgastados. Uma flor fechada sem vísceras poéticas, apenas uma emorróida fosflorescente no cume da madrugada que não enxerga nada. Foram assim os dias inférteis nas grades da benevolência. Um emprego metódico sem graça, corrupções, trocas de favores, humilhações, desentendimentos e os calos na mão e na mente que não somem. Agora aqui, carcomido e fudido, a escória energúmena da cachaça perdida, o azedo da vida enfileirando dias e dias e dias e dias nessa agonia sem fim. Cheiro forte de cachorro molhado. A pele sensível pela cannabis que de vez em quando vem aí bater minha porta; "-que visita agradável essa ordinária plantinha!" A bunda pra cima e o sol surgindo começando a colorir a face do jovem El Khouri, o funcionário perfeccionista, caxias e que só acende o cigarro na saída do emprego e que abaixa a cabeça quando o patrão o humilha, vítima de seu desvario, uma noite ruim de sexo.

O gosto do ácool na boca. Pinga brava é aquela que seca o organismo. Essa secou tudo. Porra! parece que começa enfim a sentir partes úteis de sua massa encefálica! "Não há ideia nem fato que não possam ser vulgarizados e apresentados a uma luz ridícula". Nessa máxima de Dostoievski El Khouri se veste como se todo seu corpo fosse a barba da insatisfação. E a bunda virada pra cima. Flechas de sol escaldante penetram o cu desavisado da insanidade. O jovem bêbado, caído perante o dia que se anuncia. É de uma satisfação tremenda mais uma bunda virada para o sol. Prova que os alcóolatras são únidos a beça.

CLOSER


Inspirado num album do Joy Division, Closer é uma compilação de histórias ilustradas com um denominador comum, a poesia de Thina Curtis, um dos nomes mais importantes do panorama fanzineiro do Brasil. Dentre alguns desenhistas que participam da obra, Thina escolheu um poema para eu retratar, UTI, poema forte que me faz lembrar por acaso uma época que vivi: o poeta preso no cárcere da existência.

Contacto :
oficinadefanzine@gmail.com





Eis a entrevista que fiz com Thina Curtis em 2011: