segunda-feira, 30 de junho de 2014

PELADA POÉTICA, LEME - RJ

Recitando um poema do livro GOZO DESMEDIDO de Marcos Alves Lopes na Pelada Poética no Leme





Abaixo um dos poemas do Marcos Alves que recitei no Leme:

sem contingência

num hei de duvidar mais
a certeza é a vida em si
não há contingência alguma no azul celeste - resolvo tudo numa baforada de cigarro que não fumo
sou, de agora em diante, braços, pernas e alguns fios de cabelo

sou um, dois pés descalços
dedos calejados pelo violão esquecido na escola
sou calos de academia
cabelos não cortados - e também os já cortados, não esquecidos!

já não há rendição, religião ou metafísica de merda nenhuma
li ontem que hiroshima voltou em fukushima
meus olhos leram
são dois olhos sem lágrimas, e só!

metafísica nem merda nenhuma!
filosofias de banheiro, de Zé ou Jurandi, são merda, a mesma feita em terminais
e sou mesmo máquina de confeção de bosta, preta, barrenta
sou fábrica de fios encaracolados de cabelos, de bosta ou unhas desfiguradas
cheiro de axilas sem banho,
de unhas engrecidas de fezes
ou pau após a ejaculação

segunda-feira, 23 de junho de 2014

sexta-feira, 13 de junho de 2014

RECADO

Infelizmente venho informar que a minha exposição dentro do evento Tavernista foi cancelado devido questões burocráticas. Peço desculpa a todos que iriam comparecer no evento , mas dentro em breve farei uma nova exposição e aviso nesse blog.

Grato.

Diego El Khouri

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FIM DA TAVERNA:

Com imensa tristeza e alheio a nossa vontade venho informar que o evento Uma Noite na Taverna foi cancelado por questões burocráticas da sede do SESC Rio de janeiro.

É mister informar que a unidade SESC São Gonçalo, tudo fez para permanecer com o evento. Com isso, todo agradecimento ao Ayres Filho Balbino, um verdadeiro guerreiro que lutou ao nosso lado até o final para mantermos viva a chama da realização do evento. Porém, questões administrativas e, principalmente, jurídicas da sede da instituição inviabilizam a realização do mesmo.

Com isso, lamentamos muito, pois já nessa sexta-feira não haverá mais o evento que já estava marcado em homenagem a Mayakoviski. Pedimos desculpa ao público e aos artistas que já haviam sido convocados a se apresentarem.

O Uma Noite na Taverna, é bom esclarecer, sempre foi uma realização e não apenas uma ideia, precisando de um mínimo de logística para as apresentações artísticas nele realizadas. O Rodrigo Santos e eu estamos muito tristes e em momento nenhum desistimos da luta, que esbarrou nas questões acima citadas.
Conto com a compreensão de todos. E com isso me recolho a comentários e possíveis provocações.

Evoé, ontem, hoje e sempre!

Ainda tenho fé.


Romulo Narducci

sábado, 7 de junho de 2014

DOIS PRESENTES

Tive a honra de ser homenageado por dois grandes artistas. O primeiro desenho é de um parceiro que conheço desde os meus 12 anos de idade e que já citei sobre ele algumas vezes aqui nesse blog, o Jorginho A. Rocha. O outro desenho é de uma artista do Rio  Grande do Sul e que tive o prazer de entrevistar para o meu blog FETOZINE, a Nua Estrela.







                                                 

* Pra quem quiser ver a entrevista que fiz com ela  é só acessar esse link:
 http://fetozine.blogspot.com.br/2013/06/a-arte-expressiva-de-beti-timm.html

E pra conhecer alguns trabalhos do Jorginho A. Rocha: 

http://molholivre.blogspot.com.br/2013/11/a-arte-visual-de-jorginho-rocha.html


http://molholivre.blogspot.com.br/2010/12/jorginho-rocha.html

PARTO DE UM POEMA




Postei essa semana numa rede social essa frase encontrada no filme Febre do Rato do cineasta Claudio Assis, "não tem nada, não tem espírito coletivo, não tem porra nenhuma. olha lá o festival do eu acanhado, a caravana dos milagres em realização, a lógica do umbigo miúdo, a trepada sem prazer, o futebol sem bola, a porra da boca sem a porra da língua, olha pra isso, olha, olha..." e através disso surgiu um pequeno "duelo" entre eu e a poetisa, performer e artista plástica Sheyla de Castilho. Resolvi então registrar esse momento nesse blog.

Abaixo o "duelo":


E vejo cortes, uma montanha de "fé" em ruínas, o sono dos suicidas que se mantém vivos, a mordida febril no pescoço da volúpia, as nádegas volumosas esperando paus e paus em bucetas cristalinas lutando contra o tédio, a virgem maria e seu catre em gozo fúnebre, a libido de quem ousa viver e os cortes dessa barriga em profunda comunhão com tudo e com nada... A entrada firme pedindo socorro... O sangue dos loucos na fome alheia... Deus bebendo na taça o delirio dos desesperados. (Diego El Khouri)


 eu vejo o desprezo pela fome dos que têm frio, eu vejo o desespero dos que buscam gozo em vão, dos que toleram um abraço e viram o rosto pra não se ver em outros olhos, eu vi me pedirem para me deitar em lençóis sujos de esbórnia e me contentar com o cheiro da morte do amor que não vingou. e ainda vi o aborto de olhos abertos me negando um adeus. (Sheyla de Castilho)



 Não vi a língua da libido em boca nenhuma, nem traguei o vão sumo da desordem maculado na carne pútrida da morte, nem caguei tempestades de palavras no ventre moribundo do amor puro e sem mácula, nem bebi, bandido que sou, a perversão dos ególatras vermes em cálices azuis de cálida demência, nem gozei em bocas sujas o esperma dos loucos e desvairados, pois já sou em essência a boca enfestada de fome carnal, a tempestade de versos sem fé em coisa alguma e o falo submundo da poesia que reina em noites de turbulência e pecado.  (Diego El Khouri)


terça-feira, 3 de junho de 2014

GINSBERG

Desenhos: Diego El Khouri



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3 de junho de 1926 nascia o escritor e poeta Allen Ginsberg, uma das figuras mais importantes da Geração Beat dos anos 50 e da contracultura. Ele se opôs vigorosamente ao militarismo, ao materialismo econômico e a repressão sexual. Ginsberg é mais conhecido por seu poema épico "Uivo" (Howl), em que ele denunciou o que via como as forças destrutivas do capitalismo e da conformidade nos Estados Unidos, traduzido aqui no Brasil pelo poeta Claudio Willer

"É verdade que não quero me alistar no Exército ou girar tornos em fábricas de peças de precisão.
De qualquer forma sou míope e psicopata".


Leia um poema:


Sutra do girassol[1]

Caminhei pela beira do cais de bananas e latarias e me sentei à sombra enorme de uma locomotiva da Southern Pacific para olhar o sol que se punha entre as colinas de casas como caixotes e chorar.
Jack Kerouac sentou-se a meu lado sobre um poste de ferro quebrado e enferrujado, companheiro, pensávamos os mesmos pensamentos da alma, chapados e de olhos tristes, cercados pelas retorcidas raízes de aço das árvores da maquinaria,
A água oleosa do rio refletia o rubro céu, o sol naufragava nos cumes dos últimos morros de Frisco,[2] nenhum peixe nessas águas, nenhum ermitão nessas montanhas, só nós dois com nossos olhos embaçados e ressaca de velhos vagabundos à beira-rio, malandros cansados.
Olha o Girassol, disse ele, lá estava a sombra cinzenta e morta contra o céu, do tamanho de um homem, encostada ressecada no topo do montão de serragem velha–
– Ergui-me encantado – meu primeiro girassol, recordações de Blake – minhas visões – Harlem
e infernos dos rios do Leste, pontes com o clangor dos Sanduíches Gordurosos de Joe,[3] carrinhos de bebês mortos, negros pneus carecas largados lá, o poema do cais à beira-rio, preservativos & penicos, facas nada inoxidáveis de aço, só o lixo úmido e os artefatos de afiados gumes passando para o passado –
e o Girassol cinzento reclinado contra o crepúsculo, desoladamente rachado e ressecado pela fuligem e a fumaça e o pó de velhas locomotivas em seu olho –
corola de turvas pontas retorcidas e partidas como uma coroa arrebentada, sementes roladas do seu rosto, boca em breve desdentada ao ar ensolarado, raios de sol se apagando na cabeça cabeluda como uma teia de fios secos,
folhas tesas como ramos presos ao tronco, gesto enraizado na serragem, pedaços de estuque caídos dos negros galhos, mosca morta na orelha,
Ímpia coisa velha destroçada, você, meu girassol, Ó minha alma, como então te amei!
A fuligem não era uma fuligem humana porém morte e locomotivas humanas,
toda essa roupagem de pó, esse véu de pele escurecida da estrada, essa fumaça da face, essa pálpebra de negra miséria, essa fuliginosa mão ou falo ou protuberância de algo artificial pior que a própria sujeira – industrial – moderna – toda a civilização maculando sua louca coroa dourada –
e todos esses torvos pensamentos de morte e olhos empoeirados do desamor e tocos e raízes retorcidas embaixo, dentro do seu montão de areia e serragem, notas falsas de borracha de dólar, pele de maquinaria, as entranhas e vísceras do carro que tosse e chora, as latas vazias e abandonadas com suas enferrujadas línguas de fora, o que mais poderia eu nomear, a cinza queimada de algum cigarro do caralho, bocetas dos carrinhos e os túrgidos seios dos carros, bundas gastas dos bancos e esfíncteres dos dínamos – todo esse
emaranhado nas suas raízes mumificadas – e você aí postado a minha frente ao sol poente, toda a sua glória em sua forma!
Beleza perfeita de um girassol! excelente existência perfeita de um adorável girassol! doce olho natural voltado para a lua nova “hip”, desperto vivaz e excitado respirando a dourada brisa da luz do sol poente!
Quantas moscas zumbiram a seu redor ignorando sua fuligem, enquanto você amaldiçoava os céus da ferrovia em sua alma em flor?
Pobre flor morta? Quando foi que você esqueceu que era uma flor? quando foi que você olhou para sua pele e resolveu que era uma suja e impotente locomotiva velha? o espectro da locomotiva? a sombra e vulto de uma outrora poderosa locomotiva americana louca?
Você nunca foi uma locomotiva, Girassol, você é um girassol!
E você, Locomotiva, você é uma locomotiva, não se esqueça!
E assim agarrei o duro esqueleto do girassol e o finquei a meu lado como um cetro,
e faço meu sermão para minha alma, e também para a alma de Jack e para quem mais quiser me escutar.
– Nós não somos nossa pele de sujeira, nós não somos nossa horrorosa locomotiva sem imagem empoeirada e arrebentada, por dentro somos todos girassóis maravilhosos, nós somos abençoados por nosso próprio sêmen & dourados corpos peludos e nus da realização crescendo dentro dos loucos girassóis negros e formais ao pôr do sol, espreitados por nossos olhos à sombra da louca locomotiva do cais na visão do poente de latadas e colinas de Frisco sentados ao anoitecer.

Tradução: Claudio Willer 


Berkeley, 1955

[1] SUTRA DO GIRASSOL – Sutra são textos védicos, de doutrina filosófico-religiosa. O girassol é uma flor-símbolo para Ginsberg, que, na experiência místico-visionária de 1948 em seu apartamento no Harlem, lia o poema Ha! Sun-Flower dos Songs of Experience, quando ouviu a voz do próprio Blake recitando o poema.
[2] Frisco – San Francisco. Os moradores desta cidade não apreciam essa designação.
[3] Sanduíches Gordurosos de Joe – Joe’s é outra cadeia de lanchonetes.