terça-feira, 26 de setembro de 2023

Eduardo Tornaghi: o ativista da palavra

 Por: Diego El Khouri 


Hoje é o aniversário do ator e poeta Eduardo Tornaghi , um grande ativista da palavra. 


Participei de alguns saraus que ele promovia (e ainda promove ) no Rio de Janeiro. 


Um deles era a Pelada Poética que ainda acontece toda quarta feira no Leme e também alguns saraus pela Lapa. 


Um cara admirável, sensível  e incansável!


                contra o fascismo e pela poesia! 

                                        ********

      


 

        Gênesis

No princípio era o silêncio
obra prima de ausência

depois veio o Verbo
por fim o Verso

iscas de som em busca
de retorno à essência

o vazio
Silêncio

 


Na foto: Eduardo Tornaghi e Diego El Khouri no bar Toca da Formiga, Lapa, Rio de Janeiro, RJ; 2014



Na foto: Eduardo Tornaghi e Diego El Khouri no sarau Pelada Poética no Leme, Rio de Janeiro, RJ; 2014


CURRÍCULO


já soquei tijolo já virei concreto
já comi do bom e já pastei sem teto
já passei vazio já sonhei repleto
só me falta chorar pra ser completo
já banquei o bobo me pensando esperto
já fechei a porta e ainda restei aberto
já comprei a banca — já fui objeto
só me falta chorar pra ser completo
só plantei a dor achando ser correto
já tive razão mesmo sem estar certo
já me fiz sublime — já fui abjeto
já clamei por voz no pleno deserto
já me atrapalhei com tudo que é afeto
só me falta chorar pra ser completo






Condição Humana

Para organizar o pensamento
invento o tempo

Para guiar meus passos
crio o espaço

Por teu encantamento
me desfaleço

______

Epifania

Não conseguia entendiar-me
em meio à multidão
fugi dela

Não  conseguia enfurecer-me
em meio a mim mesmo
cheguei 

_______

Sonetilho

Sinto-me fora do mundo
Mentira. Não sinto nada
Sinto sim que estou imundo
Eu sentira a coisa errada

Estar sujo é estar imerso
Em tudo que é de mais real
Decantar o real em verso
Faz diverso o que era igual

Problema é não ser poema
O vazio que me rói
por mais que rebusque o tema

Sendo ele vazio se esvai
Some pra fora da cena
Só sobrando o que me dói 
____

Singularidade
_ Alumbramento

p/ Manuel Bandeira

Abriu-se um espaço no tempo
Abriu -se um tempo no espaço
Deu-se um silêncio no vento
Deu-se inequívoco passo

O espaço de tempo que é tempo
Bem antes de ser espaço
Expandiu  um ponto lento
Pulsando tornou-se  "eu faço"

E fez-se o universo imenso
E fez-se o calor do abraço 


Poemas retirados do Livro MATÉRIA DE RASCUNHO.
Edição do autor, Rio de Janeiro, 2011)









Nenhum comentário:

Postar um comentário