quarta-feira, 7 de outubro de 2015

OUTSIDER /ON THE ROAD

Por: Diego El Khouri 

Preciso de álcool, uma dose de qualquer coisa, mas o sono me pegou de assalto. Não comecei ontem nem hoje na jornada diáfana e misteriosa das artes. Morei em vários lugares. Muquifos imundos rodeado de artistas, bêbados, drogados, filósofos e vagabundos de toda espécie - demônios que me visitavam de dentes cerrados e a selvageria de versos improvisados. Lembro que acolhi em minha humilde moradia por três meses um hippie gringo que me ensinou muito sobre o cultivo de ervas e cogumelos afim de abraçar a poesia com a intensidade de farol e não coadjuvante; Invadimos festas, desafiamos autoridades, recitamos totalmente sem roupa em um sarau (escandalizando os reacionários de forma intempestiva) e até num bar underground do centro de Goiânia fizemos um playboy prepotente que humilhava um garçom beber o mijo de uma amiga, um affer do hippie que me apresentou a ayahuasca que eu procurava há quase 1 ano e não encontrava em lugar nenhum. No melhor estilo On the road atravessei cidades, e passei a não ter mais moradia fixa: às vezes me alojando em Goiânia, outras vezes em algum interior de Goiás, indo e vindo numa ânsia desenfreada de Vida. Morei em diversos momentos no Rio de Janeiro. Bebi na poesia elétrica primitiva selvagem de Edu Planchêz o dionisíaco que sempre habitou em mim. Vagabundamos por aí. Transtornamos na Lapa, embevecidos na cidade-vertigem. Reneguei até o momento o mundo acadêmico e segui nas minhas leituras e estudos de forma voraz e intensa. Roberto Piva dizia que "poeta tem que cair na vida, deixar de ser broxa pra ser bruxo". Sou no fundo um bárbaro. Outsider dançando nu na corda bamba. Como o bardo Ikaro Maxx relata no belíssimo livro intitulado SALIVA, também "sei o que é o sofrimento e o que é o prazer. Sei também como é ser taxado de estranho & doente pelos próprios familiares." Reneguei as facilidades para viver uma vida errante. A minha cultura provém dos livros, claro, mas principalmente da existência em si. Sinto que a estrada me chama. Rever amigos, poetas fabulosos como Frederico Graniço ou o Xandu Dos Ratos. Espero ver Rubem Zachis ressurgindo de mais um hospício, resplandecente com sua música em alto nível de capacidade criativa sem as chagas que trucida sua alma. Sei também o que é loucura. Momentos difícéis tods nós passamos. Escalar montanhas... Sair das paredes que me devoram. Mas preciso sobretudo de álcool. Muito álcool. Certo dia conversando com João Colagem relatei sobre a caretice que impera aqui e que muito me incomoda. Mas ele tem razão, não é apenas nessas paragens que a cegueira está se tornando substância comum. A sociedade está mergulhada num processo de emburrecimento e paumolice tremendo. O sistema como sempre trabalhando de forma "certa" (considere bem as aspas). Não sei pra onde minha arte vai me levar e que consequências trará futuramente pra minha vida... Sei que preciso de álcool, muito álcool .. 
Mas na minha jornada a poesia sempre será o núcleo existencial para fugir do banal e da caretice que tanto me enoja.





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