terça-feira, 7 de maio de 2019

O HOMEM DELICADO

Por: Rogério  Skylab 

O menino delicado não envelhecia.
Já contava com cinquenta anos de idade.
Usava colares e meneava as mãos 
com graça e beleza.

O menino delicado parecia uma pluma
contra a força da gravidade.
Aposentados, homens torpes,
todos queriam contê-lo.

E o menino fluía
como um barquinho de papel.
Impossível e só.

E vestia as roupas da mãe,
pintava a boca,
inventava um pai.
Desde a mais tenra infância,
o menino delicado sabia.

Um dia o enganaram
e conheceu a dor.
A cidade toda já sabia
e nem mais sua mãe ele tinha.

Continuou então seu caminho.
Casos fortuitos, milagres, florzinhas.
Uma vida que se entreabria.

Acostumou-se a olhar o céu
debaixo de homens febris.
Dava sempre a bundinha.

Aquele mundo não era seu:
estava só de passagem.
E quando lhe batiam,
oferecia a outra face.

Assim era o menino delicado.
Apanhava, nunca batia.

Sua pele não guardava lesões, marcas.
Parecia um biscuít.

E quando andava, fluía.

skylab/ago/2012

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