Por: Rogério Skylab
O menino delicado não envelhecia.
Já contava com cinquenta anos de idade.
Usava colares e meneava as mãos
com graça e beleza.
O menino delicado parecia uma pluma
contra a força da gravidade.
Aposentados, homens torpes,
todos queriam contê-lo.
E o menino fluía
como um barquinho de papel.
Impossível e só.
E vestia as roupas da mãe,
pintava a boca,
inventava um pai.
Desde a mais tenra infância,
o menino delicado sabia.
Um dia o enganaram
e conheceu a dor.
A cidade toda já sabia
e nem mais sua mãe ele tinha.
Continuou então seu caminho.
Casos fortuitos, milagres, florzinhas.
Uma vida que se entreabria.
Acostumou-se a olhar o céu
debaixo de homens febris.
Dava sempre a bundinha.
Aquele mundo não era seu:
estava só de passagem.
E quando lhe batiam,
oferecia a outra face.
Assim era o menino delicado.
Apanhava, nunca batia.
Sua pele não guardava lesões, marcas.
Parecia um biscuít.
E quando andava, fluía.
skylab/ago/2012
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