quarta-feira, 12 de junho de 2019

MISANTROPIA SELETIVA

Por: Ikaro Maxx

Nunca gostei muito de andar ou frequentar escritores. Sou um pouco misantropo, por vezes. Não tenho medo de andar sozinho, quando se sai do útero inteiramente só & só iremos nadar imóveis numa cova ou num jarro de cinzas. A companhia de escritores que se levam demais a sério é muito chata & inoportuna. Não gosto de ficar falando de meus projetos, se vou escrever isso ou aquilo, exceto para pessoas a quem me abro completamente como um rio sem margens o comprimindo. Gosto da convivência simples & instigada dos poetas que não se nomeiam, que não anseiam - como se viver dependesse disso - condecorações de nossa gentil & bela sociedade. Todos sabemos como a sociedade trata os poetas & os seus artistas mais inspirados. A matrix & o espetáculo se atualizam, não esqueçamos disso, porém, os sacrifícios & desperdícios continuam rolando a céu aberto ou dentro de quartos cobertos de fumaça & angústia. Os melhores artistas que encontrei pelo percurso da minha vida geralmente eram pessoas cuja sociedade normativa (careta & conservadora, uma tautologia...) jogava uma vigília apavorante sobre (aquela coisa dos "boatos", do "isso ou aquilo", do "ooooohhh"). Brilhantes, excêntricos, em elétrico devir, em pleno vôo - famintos pela vida & pela morte, pelo amor & desamor, pelo entendimento & pela incompreensão, por fugir dos rótulos & ao mesmo tempo vivendo sob alguns. Pessoas cujo humor & brilhantismo eram excitantes, excitáveis - & que dançavam mesmo no abismo. As pessoas costumam chamar a esses de "marginais", porém nós nunca fomos & nos dissemos "marginais", como se fôssemos anunciar num espaço público qualquer "TODO MUNDO PRO CHÃO, ISTO É UM ASSALTO", embora fizéssemos coisas do tipo "Deste momento em diante a alma de vocês - & seus corpos, bem entendidos - estão livres das opressões simbólicas & cadavéricas do Velho Navio Ocidente...". Exorcismos semióticos que poucos "sacaram". Esses poetas & escritores, sim, são meus companheiros. O tipo de gente que não precisa se dependurar & mamar nas bolas de um Paulo Coelho ou de um Ferreira Gular para "serem poetas ou escritores considerados" - o tipo de escritor que será o Futuro da Poesia aqui & Agora.

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