quinta-feira, 16 de junho de 2022

SONI PIN, A DELICADEZA DE UMA EXPRESSIONISTA

 

Por: Nonatto Coelho 


Soni Pin, é econômica na cor, e suas imagens diluem em uma quase composição de "nuvens", onde a linha só se apresenta quando é para se situar na cena figurativa,  e dar uma atmosfera psicológica de mistérios aos seus personagens, quase sempre femininas em uma constante dança harmônica, bruxuleantes, fantasmagóricos. 


Em meu olhar,  a pintura dessa artista, lembra a tristeza crônica, e sublimada, presente na arte de alguns dos mestres da pintura judaica, especialmente de um Modigliani (1884 - 1920), de um Marc Chagall (1887 - 1985), e em parte  da produção europeia de Lasar Segall (1891 - 1957) resguardando a particularidade inerente ao trabalho dessa artista goiana cerratense, de comportamento elegante e discreto; dona de um imaginário pictórico entre manchas (quase) casuais e riscos leves, que se dissolvem suavemente em nossas retinas, e se apresentam, as vezes dançantes, como se fossem os acordes musicais de uma harpa, suavemente...


 Vejo uma angustiante religiosidade nas "aparições" pictóricas de Soni Pin, arranjadas nas composições que predominam os tons pastéis acinzentados, com súbitos clarões brilhantes e repentinos, como nos oníricos céus "torturados " da região Espanhola de Toledo, nas visões de um Domenicos Theotocopolos, o El Greco (1541 - 1614) Um  herético que fez da pintura uma ponte para o metafísico, assim como bem faz essa artista, nascida na cidade de Itumbiara - Goiás. 


 Não se nota na pintura da artista, nenhuma cor, nenhum gesto que fere ou choca o olhar do espectador, embora nos verdes anos da pintora, ela usava e abusava das cores brilhantes, nas técnicas do óleo, ou acrílica;  hoje sua pintura é muito serena e calma, com predominância das cores frias,  para serem "consumidas" devagar, sem pressa. Eu diria que é quase uma oração em formas iconográficas, e aqui, o espectador sensível pode divisar o quão essas imagens se aproximam do sagrado, nessa particular e enigmática cosmovisão de Soni Pin.


 O "aroma" religioso na obra de Pin, em meu ver, compactua, em certos pontos,  com ritos sagrados de naturezas herméticas, em movimentos de corpos que se desmaterializam, enfatizando ainda mais o caráter etéreo de seus temas na composição bidimensional do desenho/pintura.


 O poeta/escritor Brasigois Felício viu nos personagens da artista, figuras "afundadas  em pesares e desencantos", e complementa que elas, "sobrevivem apenas, em meio a desolação e à sombra da desesperança, vivem em solidão inférteis, no caminhar dos abismos, de uma humanidade que se torna a cada dia mais desumana."


 O sentido da arte, são traduzidos em formas metafóricas, assim sendo, a acentuada tristeza nas personagens de Soni Pin, em certos momentos, são superados por movimentos e gestos de intimidades entre pessoas que se abraçam, trocam carícias em cenários de abstração; palco onde surgem figuras iluminadas, dotadas de suas auras de divindades e suas idiossincrasias: ágape e eros em oposição à condição tanatológica, desse nosso mísero e efêmero sopro de vida terrena.


Nonatto Coelho. 

Artista e pesquisador.









Um comentário:

  1. Obrigado por compartilhar no seu distinto blog, brother Diego El Khouri. Abraço fraterno

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