quarta-feira, 26 de outubro de 2022

A CABEÇA DE HERZOG

Por: Robisson Sete 


O corpo torto de Anísio Teixeira, morto,

no fundo do fosso do elevador. 


Marighela abatido a tiros, olha o brilho escuro da luz da lua,

como se fosse a última vez.


Dandara acorrentada aos pés de um senhor de escravos,

seus dentes quebrados para que nunca mais sorria.


O véu de Dorothy Stang, coberto de sangue e formigas amazônicas

no interior do Pará.


A cabeça de Lampião, separada do corpo, exposta na feira de Caruaru,

em meio às moscas e a carne seca.


As costas lanhadas de Cláudia esfoladas pelo asfalto, sua pele arrancada

atrapalhando o trânsito.


Oitenta tiros de fuzil no bairro de Guadalupe, contra um carro repleto de negros,

apenas uma família.


Dandara dos Santos, morta a pauladas, carregada em um carrinho de mão

para dentro do caos e do esgoto a céu aberto.


Cento e onze homens sangrados em celas escuras e úmidas

de um Brazyl Carandiru.


Quatro balas põem fim à futura Senadora da República,

negra e lésbica, nas ruas do Rio de Janeiro.


Todos os indígenas mortos, todos.


A saudade, dos tantos Amarildos,

que nunca passa.


E na foto,

a cabeça de Herzog, penderá para sempre,

à nossa direita,

para que nunca esqueçamos.




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