terça-feira, 12 de outubro de 2010

LA CONTEMPORANEIDAD



A desvalorização dos conceitos  tradicionais da arte no mundo contemporâneo nos revelou uma faceta ainda não questionada por boa parte das pessoas em se tratando da visão geral, globalizada e significativa  dos elementos que caracterizam a arte tanto no mercado quanto fora dele. Questão essa apontada agora, mas que já se discutia nas vanguardas, época de total ruptura e quebra de tabus ideologicamente, estrutural, técnica e filosófica, que foi o que se propôs em cada movimento. Romper com os cânones da arte, modificar as formas visuais e conceitos culminou naquilo que seria arte “boa ou ruim”. Mas o que poderíamos dizer dessa palavrinha tão usada no mundo acadêmico? Cânone nada mais é que o “conjunto de regras, modelos, normas, com uma força de lei” tendo como figura representativa a arte grega, a beleza eterna e  ideal. Destruindo essa  máxima kantiana de que a arte deve realizar-se de acordo com os arquétipos tendo a razão como fundamento de criação vinculada  a idealização sublime do belo, notamos que é esse o fio condutor gerador de polêmicas que abrirá as portas da nova percepção visual. Antes de se produzir uma obra a idéia já está difundida no seu cerne e ela que é a geradora da arte nos dias atuais, mais do que a técnica ou os materiais utilizados. Como já afirmava o artista plástico falecido em agosto de 1956 ,Jackson Pollock, o artista moderno  não precisa sair dentro de si , basta olhar em seu interior com olhos livres de qualquer amarra e o ambiente ao redor não é mais tão importante quanto os próprios anseios, diferente do mundo clássico, onde o local, a paisagem ao redor, as situações de outrem, desejos comuns da sociedade, pensamento geral, etc era o que regia o senso comum e propriamente essa palavra tão repetida exaustivamente nesse pequeno ensaio: a Arte.
O rompimento com a arte clássica foi quase que uma fratura no racionalismo defendido por Platão, Aristóteles e seus sucessores modernos. Destruiu a base da coluna dorsal e modificou inclusive o pensamento geral da sociedade. Nietzsche condenava arduamente a visão apolínea  platônica. Sócrates ao lado de seu discípulo  transformaram o planeta. Os gregos antes deles valorizavam o espírito dionisíaco e as sensações, diferente desses filósofos que acreditavam na racionalidade a coisa mais importante do homem. E o que é a arte contemporânea senão a valorização, sobretudo da idéia e uma negação parcial do exagero da racionalidade? É a fusão dos dois conceitos antes e depois da era platônica: o Dionísio se entrelaçando com o apolíneo, o pensamento junto com os instintos, razão e não razão, loucura e lucidez, amor e ódio, sexo e espírito.

Para a visão castrada dos acadêmicos necrófilos de mente turva  e nobre o que distingue o Ser pensante do “leigo cultural” é a nobreza e elegância que cada um desses seres díspares trazem em si. Uma explosão sem cheiro nem cor, um cancro enobrecido de sorrisos gentis e uma alegria sem nome e profundidade. Conteúdo artístico é portanto beleza sem essência, repetição sem criatividade, amor sem tesão, beijo sem língua. O que é imagem e percepção visual?  É preciso ser ausente de pele e poros para se criar uma obra de qualidade?  Se fechar dento de si e se resguardar das vicitudes da vida e se gabar da covardia, elemento de refração característica da sociedade pós moderna perante um mundo capitalista e pragmático? Há uma classe de “artistas” imperando os “castelos da sabedoria”. São seres de mentes fechadas e que não limpam o cu ao cagar. Sentam em suas cadeiras em cima de roupas de linho puro e tricotam a vida dentro duma caixinha de caretice e moralidade. Peito e bunda, bunda e peito pra eles não tem vez. Nem mijar nos muros ao som do amor e da alegria. A existência sem limites... Quero  dançar em seus túmulos ao som dos ditirambos com as velas da volúpia eretas

“Odeio as almas estreitas, sem bálsamo e sem veneno, feitas  sem nada de bondade e sem nada de maldade”. Odeio inclusive escolas de arte onde alunos ouvem e não ouvem. Enxergam e não enxergam. Não encaram a arte como uma espécie de laboratório (onde se possa utilizar inúmeras técnicas e experiências) mas sim como terapia ocupacional. “Ah não quero desenhar, professor! Estou cansadinho (a)! “Oh que horror essa pintura! Não tem florzinhas?” “Mondrian é arte”? “Ui ui! Que medo! ele não sabe de nada!”

Os meus olhos respiram ar e essência --  passionalidade ao extremo. Sou latino americano! Criado com pimenta e eloqüência! O exagero é nossa jóia principal. Nossa válvula de escape, nosso desvio, nossa alucinação. Assim como o sexo e o (carna)val. Sou fiel quando sou sincero com minha própria história. O artista precisa sair dentro de si para criar arte? A arte é a representação do outro ou de si mesmo? Ver com olhos livres, a mente em explosão, a cidade (alma)  nua ausente de toda ordem. Arte de decoração é uma arte fútil, vazia e covarde como afirma Eduardo Marinho, grande fanzineiro, artista plástico e poeta carioca? Cadê os Rimbauds na sociedade? A bomba atômica da arte?...  Arte, hoje palavrinha tão sem graça.
como rocha. Eu canto e isso é tudo, meus amigos. Nada mais. Estou bêbado. Tudo bem e com raiva nos dentes.

Nós, “clowns de Shakespeare,”  últimos sobreviventes  da ordem visionária  sísmica  poética planetária , filhos de Baco, herdeiros de Xangô, orixá do trovão, iluminados por João de Aruanda e Marquês de Sade,  propomos a destruição das conquistas platônicas e cristãs no que se diz a respeito da valorização excessiva  e insensível da razão. Não queremos racionalidade absoluta. “Pensamento ao extremo”.  Contra Apolo, a favor de Dionisios. Mergulhar no êxtase  xamânico, dançar ao som dos ditirambos; a terra explodindo tendo nas mãos o brilho mediúnico de todo universo, “ser maldito, doente e sábio para chegar as quintessências” porque “o poeta é ladrão de fogo” e todo artista é um poeta em excelência.

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