quarta-feira, 15 de junho de 2011

LEITURA

(Por Glauco Mattoso)
Diego, neste final de semana leram para mim alguns de seus textos e
poemas, corroborando a impressão que eu ja tinha: numa poesia revoltada
não podem faltar o vinho, as putas e putos e a raiva contra os patrões,
sem fallar em outras raivas das quaes estamos todos de sacco cheio.
Metrificada ou não, a poesia mais contundente é essa, em que desabafamos
nossa propria vivencia, creio eu. Os conformados que cantem sua amada ou
a graça de Zeus... (risos)
 
Bem, aqui copio, como promettido, a poesia daquelle jovem, chamado
Victorio, com quem tive contacto ha algum tempo. Divirta-se! GLAUCO
 
 
[I]
 
Há mil razões, mil causas e mil modos
Para dignificar-se um cego: todos,
Porém, são falsos, cínicos, mentidos,
Já que na treva em que ora estão sorvidos
A auto-suficiência não habita:
Um homem cego é só um parasita
Dos demais -- não vê, não luta, não vive,
E, sendo a vida este intrincado aclive,
É ele a carga baldada, o peso morto
A quem exclama o outro: "Isto eu não transporto!".
Nos povos bárbaros um cego fora
O que é, e não o que se crê agora,
Nestes tempos de hipócrita altruísmo:
Ele, Glauco, é o judeu, eu, o Fascismo,
E, se é pois justo este aparente agravo,
Não seja ele um igual, mas um escravo,
Obedeça ao senhor, seja submisso
E prestativo, pois é vantajoso
Que assim o faça, já que eu sou mais forte
E a minha ira é mesmo a sua morte.
Assim a vida, seja embora austera,
Fez d'um a presa e d'outro fez a fera;
E os cegos, porque a natureza o queira,
A segunda não são, mas a primeira.
 
 
VOZES DE UM CEGO
 
A solidão deste Universo escuro
Está em mim, o breu inexplorado,
Onde nem Lua nem celeste forma,
 
Ou estrela de luz, archote puro,
Emitem seu clarão adamascado,
E tudo nesta sombra se conforma.
 
Há só o Tempo, ao qual eu me seguro,
Mas, que, além de me ter só torturado,
Em sopro, em treva, em morte -- me transforma!
 
 
[II]
 
Às vezes, triste a vaguear me vejo,
Sem rumo, e cabisbaixo, e pensativo,
E penso que na vida o mais da sorte
Nem ter espírito é, é ser vazio
Como os abismos infernais da morte.
Nestas horas de dor, o meu consolo
É lembrar-me de quem, inda mais que a mim
Sofrido e solitário, pena e chora,
Quem, excepcionalmente, os duros ferros
Do destino no lombo exp'rimentou
Mais que outro algum. Lembrar-me das desgraças
Alheias é o remédio que me cura,
Ver que há ferida inda mais podre e escura
Que a do meu peito é como, enfim, ter paz.
Por isso, Glauco, eu gozo a tua dor
E sou sincero no que digo; escuta:
Assim é o coração de todo o sádico:
O seu prazer do pranto, puro e simples,
Não se faz, é preciso que a tal lágrima
Carregue em sua essência mais profunda
O alívio dos pesares que o maltratam.
E é belo ver o corvo de asas negras
A roçar no sorriso dos felizes.
A catástrofe, a guerra, os acidentes:
A minha infãncia isto me faz sentir
E celebrar grandiosas hecatombes.
Minha alma apocalíptica festeja
As valas sepulcrais da cremação.
Quando a gente se cala, ao som das nênias,
Eu sinto então que a minha vez chegou -
Não de morrer - mas de exultar, que agora
Já posso eu rir de quem de mim zombou.
Oh, Glauco, esta cegueira que te oprime
Faz de ti um amigo, um salvador,
Encontro eu dor maior que a minha dor
E posso, enfim, brindar - será meu crime?
 
 
///
 
[SONETOS]
 
 
SONETO I [dezembro/2007]
 
É a última porteira: eu, que hei sonhado
Tanto e tão alto, a percorrer a vida
Nas linhas d'um soneto; endurecida
Eis de minh'alma o sonho exterminado.
 
Depois de Tasso amante e Dante irado,
Ora cruzo com Glauco, alma-perdida,
E venho a descobrir, apodrecida,
A musa que hei já tanto celebrado:
 
Era uma sexta-feira, um filme eu via,
Quando, por um delírio ou um acaso,
Vejo as Nove filmadas n'uma orgia,
 
Eu quase já descreio do Parnaso,
Mas, surpresa maior, eu não creria:
Eis o Glauco a comer bosta n'um vaso!
 
 
SONETO II [dezembro/2007]
 
"Que as lágrimas me enxágüem todo o rosto
"Nesta manhã em que a piedade aflora
"Em mim, bem como o rosicler da aurora
"Que diz que o Sol o globo há já transposto.
 
"Oh, mágoas santas, oh, santo desgosto!
"Estou, de fato, a ouvir o que ouço agora?
"Quão triste este poeta que além chora
"Fazendo-se humilhar, a contragosto!"
 
Glauco, meu caro Glauco, é crueldade,
Sim, matar um cego, este parasita
Que se nutre, por vez, no alheio pão.
 
Mas, tendo íntegra a sua liberdade,
Fazê-lo de putinha israelita
Não é pecado algum, é diversão!
 
 
SONETO III [janeiro/2008]
 
Um cego assim, figura turva e obscena,
Que com prazer estranho se maltrata,
Excita-me, sim, a ânsia escravocrata
Do carrasco feroz, que não tem pena.
 
Vem, ceguinho, que eu sou a tua hiena;
Lava-me com teu sangue esta chibata
Veloz, que ora em teu lombo se arrebata
E fere, uma vez não, uma centena!
 
Queres a minha pica em tua boca?
Eu não te a dou! Pois antes quero em troca
Purgar os teus pecados com o ferro!
 
Deus fez-me, em vida, o teu cruel senhor,
Para que eu desfrutasse a tua dor,
Já que a tua existência é só um erro.
 
 
SONETO IV [janeiro/2008]
 
Pudera eu consentir-te de bom grado
A massagem - mas não! que até me peja
Deixar fazer um cego o que deseja,
Sem antes bem lhe ser o mal cobrado.
 
Qual pode alguém, na escuridão lançado,
Falar o quanto anela, o quanto almeja!?
Queres que um pé na tua boca esteja?
Antes tira o que nele está calçado!
 
É um coturno escuro e impiedoso
Que ao toque de teus lábios se enfurece.
Oh, divina visão, divino gozo:
 
Ei-lo que sobe aos céus e logo desce,
Co'a sola no carão já lacrimoso
Do cego a sussurrar a última prece.
 
 
SONETO V [janeiro/2008]
 
Da humilhação que passa, Glauco, sinto
O germe da loucura em mim nascendo,
Você -- chorando amargo, eu -- rindo e vendo,
Por seu pesar, se me aquentar o pinto.
 
Quando Deus o criou, disse: "Consinto,
Consinto que este nasça e vá vivendo
Em paga de ir chupando -- e se lambendo --
Milhões de porras, como um cão faminto!
 
Um cego é a imagem viva do boquete:
Cativo de quem vê, por mais que afete
Ser dono do nariz, chupa calado;
 
É como ter um servo, ou um briquedo,
A gente diz: "Engole" -- e ele, com medo,
Fela a nossa fraqueza, e o seu pecado.
 
 
SONETO VI [janeiro/2008]
 
Quando a tua alma, Glauco, libertada
Puser-se da telúrica opressão
E, toda em luz e amor, em fé e paixão,
Erguer-se aos céus, no canto da alvorada;
 
E quando à funda cova for baixada
A esquife onde teus sonhos viverão;
Na fria ardósia tumular, ao chão,
Leia-se então esta inscrição borrada:
 
"Aqui repousa um ente torturado:
"Foi vítima do mundo e do Destino,
"Chupou, sem ser, porém, jamais chupado.
 
"Epíteto de bêbado e suíno.
"Já morto, ocupa-se por ser mijado
"Na unção divina do porrão divino."
 
 
SONETO VII [janeiro/2008]
 
Figura nova, excêntrico truão:
Declama em dáctilos como um latino,
E ao pé d'um jambo rápido e ferino
Expõe - estranho - em verso, a felação.
 
Em tratados imensos, como um cão,
Late em troqueus, mirrado e feminino,
E após imiscuir o seu ensino,
Canta de pés, em métrica canção.
 
São jâmbicos, peônicos, dactílicos,
Para acabar em temas necrofílicos,
Ou bosta, enfim, qual queira se dizer!
 
Que triste, Glauco, um cândido anapesto,
Servindo-lhe de forma, ou de pretexto,
Para tudo estragar, tudo foder!
 
 
SONETO VIII [fevereiro/2008]
 
Um charuto entre os lábios, teso rosto,
Bem como um coronel de seringal,
Rijamente apoiado em duro encosto:
Austero, grave, varonil, brutal!
 
Menos disposto ao Bem que ao Mal disposto:
Um coração malévolo, abissal:
Eis n'alguns traços o borrão suposto
D'um sádico vulgar -- vulgar boçal!
 
E embora haja aí tanta estupidez,
Assim deseja o Glauco o seu tirano,
Quiçá lhe saia um preto, um africano,
 
Ou bicho de mais torpe sordidez!
Pois sei que o cara, em tudo que já fez,
É puto de guinéu -- não de romano!
 
 
SONETO IX [fevereiro/2008]
 
Das ânsias que lhe invadem o desejo
E borbulham, e fervem, loucamente,
Cego, o Glauco, em delírio permanente,
Imagina algum pé, sabor de queijo.
 
Enlevado a sonhar, então, sem pejo,
Brada, à janela: Um pé! por Deus clemente!
E a ver que não replicam, descontente,
Murmura: Um pé... é tudo o quanto almejo.
 
Eis que lhe bato à porta e, ao vê-lo triste,
A causa indago, então, que lhe chateia,
Ele me diz: Bastava-me uma meia...
 
E pede a minha, e, de tal forma, insiste,
Que eu digo: Mas não uso! - Ele baqueia,
O coração dispara, não resiste!
 
 
SONETO X [fevereiro/2008]
 
Se a meia nos sufoca, e não respira
O pé encarcerado -- é não usá-la!
Assim como a cueca que resvala
No púbis, e o caralho não transpira.
 
Prisões cruéis que são, a minha lira
Põe-nas a par de sepulcral senzala,
E viva a liberdade que se exala
No aroma deste todo que revira!
 
Mas percebo, a seguir o raciocínio,
Que em mais até me ponho aprisionado,
E, de olímpico atleta no fascínio,
 
Cultuo o sonho grego, de bom grado,
E assim concluo que, ao pudor virgínio,
Melhor me fora até andar pelado!
 
 
SONETO XI [fevereiro/2008]
 
Escárnio a toda a Grécia e riso ao mundo
Tornou-se Sócrates no andar descalço,
E, creio, (não veneno) o cadafalso
Mais merecera pelo crime imundo.
 
Não se lavava nunca: odor profundo
Se lhe escapava do sebinho salso;
E creio até que pouco, assim, lhe exalço
A má reputação de vagabundo.
 
Mas há, porém, no século que passa,
Renovo adorador desta imundície,
Quem mais este viver de porco abraça,
 
E o gosto segue à risca, co'arduidade.
É o Glauco, a quem mais cresce a safadice
Em quanto mais aumenta a sujidade.
 
 
SONETO XII (RESPOSTA AO "SONETO SANDUBA") [fevereiro/2008]
 
Até parece freira, anacoreta,
Palhaço animador de aniversário,
Parlapatão de ONG, humanitário
Berrando em propaganda que é careta!
 
Agora, mais que puto e que cegueta,
Frequenta, sexta-feira, o seminário
E, já fazendo as vezes de vigário,
Com pose moralista, se atopeta.
 
Mas como pode um bebedor de esperma,
Que engole pó de pé, um tal palerma
Que vive a masturbar-se, n'um sobrado,
 
Dizer a nós, homens de bem, que enjeita
A simples fruição que nos deleita:
Um copo de cerveja, um baseado?
 
 
SONETO XIII [fevereiro/2008]
 
Por andar destas gentes esquecido
E sempre alheio à humana companhia;
Virtude, glória, amor -- o bem querido --
E já de tudo o mais eu me esquecia.
 
Já deus algum minha ara bendizia
Em preces d'um desejo acometido;
Bem como um Dom Quixote, eu me entrevia
N'um mundo estranho de ilusões perdido.
 
Por noites devassadas na leitura,
Então, deste poeta malogrado,
Eis que minha alma à sua se unifica
 
E bate as negras portas da loucura:
Eu, vendo as coisas, creio ver errado:
Que tudo é porra ou pé, caralho ou crica.
 
 
SONETO XIV [fevereiro/2008]
 
Gramático -- ridículo, portanto --
com metáforas chulas de acadêmico
de letras, e um amor de tosco encanto
pelo jargão fonético e fonêmico,
 
diz o Glauco sorver (tragar) o quanto
lhe digo: são palavras do ablastêmico
vocabulário em que lhe xingo e canto,
a rir, o seu sofrer, por mal do mundo, endêmico.
 
Glaucomatoso: cego, enfim, fodido,
e, agora, quer passar por professor,
porém, coubera mais para bandido,
 
boqueteiro de puto, felador,
se diz beber palavras, bem duvido,
no máximo é de picas chuchador.
 
 
///
 
SONETOS PARA UM VITORIOSO SOBRE UM VENCIDO CONVICTO
(respostas de Glauco Mattoso)
 
 
SONETO PARA A REGRA DO JOGO [2057]
 
Victório foi sincero, tendo dito
que alguém precisa ser o perdedor,
o cego, o que só chupa e lembra, aflito,
que um dia já enxergou a luz e a cor...
 
É duro de aceitar, mas nem cogito
negar o que ao Victório tem sabor
alegre, de deleite: sem conflito
me humilho e lhe melhoro o bom humor...
 
Se a rola eu lhe chupasse, a língua iria
dizer, muda e mexendo-se: sorria,
enquanto o cego chora e o jogo entrega!
 
O gosto que eu sentisse, por si só,
seria o de que vale, mais que dó,
no mundo a crueldade, que é mais cega...
 
 
SONETO PARA UMA CONCLUSÃO FILOSÓFICA [2058]
 
Deliro com a idéia de que, enquanto
me fodo na cegueira, ele, Victório,
deleita-se sabendo disso, e tanto
que a cena tem poder masturbatório...
 
A idéia dele é lógica: levanto
seu pau porque, no mundo, ao purgatório
do cego ele escapou, nem sendo santo,
e meu destino que eu o purgue e chore-o!
 
Portanto, é natural que ele suponha
que estou ajoelhado, e sua bronha
acabe em minha boca, ao que me exponho...
 
Serei, enquanto chupo, consciente
dum fato: entre dois homens, eu somente
chorei; ele estará, logo, risonho...
 
 
SONETO PARA UMA MISSÃO ASSUMIDA [2060]
 
Entendo e reconheço o que você,
Victório, em senso espírita, me diz.
Você, rico e bonito, tudo vê,
podendo desfrutar e ser feliz.
 
A mim é superior, pois o que fiz
em outra encarnação, desde bebê
condena-me à cegueira e aos mais febris
delírios: você justo é no que crê!
 
Me goze, pois, em sua juventude
sortuda! Goze tudo que não pude
gozar! Na boca imponha-me o sabor!
 
Aceito humildemente a crueldade
dos fatos, pois, fazendo o que lhe agrade,
serei, desta missão, bom cumpridor...
 
 
SONETO PARA A PURIFICAÇÃO DO SER [2062]
 
Fazer-me de putinha é o que ele quer.
Forçoso é, pois, na boca receber
seu pênis e lhe ouvir, quando ele as der,
as ordens de chupar ou de lamber.
 
As coisas que na boca da mulher
não quis, por piedade, cometer,
na minha o jovem acha, de colher,
a chance de me impor, como um dever.
 
Assim me vê Victório: um cego exposto
à sua diversão, e dar-lhe o gosto
da superioridade é-me a missão.
 
Estamos, neste mundo, por castigo
ou prêmio. O que Victório faz comigo
é dar-me o que mereço: uma lição.
 
 
SONETO PARA UM ARDOR ANIMADOR [2063]
 
Victório nem me amarra: não precisa.
Sem vê-lo, dançarei sob o chicote
que, contra minha pele, branca e lisa,
estala, até que o sangue, rubro, brote.
 
Em minha boca a pica antes que bote,
prefere divertir-se, e diz que visa
pecados meus punir, pois, como mote,
invoca o Além, de penitência à guisa.
 
Após levar a surra, me contento
em ser, para seus pés, o mais atento
e humilde massagista, por enquanto.
 
Seu pau sei que endurece, quando o açoite
me lanha, pois debato-me na noite
dos cegos, e ele vê: goza, portanto.
 
 
SONETO PARA UM DETALHE RELEVANTE [2065]
 
Pensei que fosse tênis o que usasse
você, tênis de grife, já que é rico,
pisante cuja sola, em minha face,
tem marca que, na língua, identifico.
 
Porém na bota é proletária a classe
que calça o seu pé jovem: de milico,
pesado coturnão faz com que eu passe
momentos de agonia e pague um mico.
 
Se, cego, estou purgando algum pecado,
mais duro, no relevo do solado,
será, sobre meu rosto, o seu pisão.
 
Mas tenho de aceitar, Victório, o peso,
pois sei quanto lhe agrada um indefeso
ceguinho a lhe servir de piso e chão...
 
 
SONETO PARA A LISTA DE APROVADOS [2068]
 
Victório, que prestou vestibular
agora, por momentos de ansiedade
passou e, até que saiba qual lugar
pegou na feliz lista, a angústia o invade.
 
Mas logo irá, voltando a se alegrar,
notar que é vencedor e que não há de
passar pelo que eu passo, a lamentar
a perda da visão, na eternidade...
 
Deleite puro, o dele: ver-me cego,
sabendo que este fardo que carrego
jamais carregará, pois foi eleito...
 
Seu pau até endurece quando fala
comigo, já que, enquanto chupa bala,
eu chupo o que mereço... E diz: "Bem feito!"
 
 
SONETO PARA UM RETRATO EXATO [2074]
 
Cegueira, diz Victório, representa
a imagem dum boquete. Assim me aceito:
a boca penetrada, numa lenta
sessão de felação, em seu proveito.
 
Após massagear seus pés quarenta
e quatro -- o calcanhar, a sola, o peito,
o vão entre os artelhos -- à opulenta
cabeça do seu pênis me sujeito.
 
De leve, eu a abocanho, e me concentro,
até que ele me esporre boca adentro,
na chance que o Destino me consente...
 
Ao jovem dei o gosto da desforra.
Meu gosto foi saber que quem me esporra
na boca, mais que um cego, está contente...
 
 
SONETO PARA A CAPACITAÇÃO DO CEGO [2075]
 
Assim se encara um cego: o parasita,
o inútil, cuja boca só consome,
na aposentadoria a que limita
seu ganho, ou numa esmola, e escapa à fome.
 
A nada produtivo se habilita
o inválido, e só presta caso tome
ciência de ser útil quando excita
alguém que o discipline, explore e dome.
 
É justo, pois, que sofra em sua treva
e ainda que trabalhe, quando leva
na boca a rola grossa a ser chupada!
 
Capriche! Engula tudo! Utilidade
demonstre! Como homem se degrade,
pois isso é o que, ao Victório, mais agrada!
 
 
SONETO PARA A SABEDORIA ANCESTRAL [2076]
 
Victório aos povos bárbaros alude
e acerta em cheio: um cego só merece
comer, sobreviver, caso se mude
de ser humano em bicho que obedece.
 
De servo chupador, eis a atitude
mais própria a quem o mundo só escurece:
não vê, mas sua boca é, como pude
provar, um instrumento oral de prece.
 
Chupando, o cego "reza" enquanto serve
de orgasmo ao jovem macho, cuja verve
poética lhe escorre boca adentro.
 
Por isso é que agradeço quando escuto
Victório me chamando, além de puto,
de escravo, e nesse ofício me concentro.
 
 
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5 comentários:

  1. Muito obrigado por ter me proporcionado a boa leitura, durante o meu café da manhã. Luxuriante!

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  2. overdose de poesia
    hahahhahahaha
    é isso ae

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  3. Despertou em vários instintos primitivos....

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  4. Caralho !!!! Vou dar um jeito de imprimir e ler com calma.

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  5. É... A maior parte das pessoas nem sabe que poesia também pode ser assim. Realmente é muito mais enriquecedor culturalmente ler este Molho Livre que os cadernos "culturais" dos jornalecos da mídia burguesa.

    (www.expressaoliberta.blogspot.com)

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