VAGABUNDAGEM

(Por Diego El Khouri)

nas velhas vagabundagens eu me criei. roubando histórias, dias, vícios, rios, ricos, segui meu caminho. bardo louco, valente energúmeno à beira do caminho.assimilo o início e o fim dentro de meu umbigo. umbigo... zona estranha dos desvarios. meu nobre sujo umbigo, rei das catástrofes maiores, gladiador dos sonhos inóspitos, minha bússola nessa degradação toda. bhagavad gita nos olhos. a cidade de hastinapura, a desordem alojada na alma como um fígado. ah quantas bebidas chocas bebi nesse local inóspito e cordial! quanta palavra inútil desperdiçada com seres de barro e merda! quantos beijos me seduziram e me nutriram de tola esperança! quanta caneta e idéia roubei nas gavetas sublimes da academia castrada!  quantos inimigos cultivei ao longo da jornada! horas perdidas num emprego sem sentido... crime monetário... ah gozei, gozei sem limites os gozos mais frívolos e inconfessáveis possíveis e o que resta é apenas esse abismo, esse preponderante abismo, esse enorme abismo... esse... belo... cinismo.