terça-feira, 14 de janeiro de 2014

BEBENDO O POEMA

(DIEGO ELKHOURI RELATANDO ALGUMAS  SENSAÇÕES QUE TEVE AO LER UM POEMA DE PLANCHÊZ)


* na foto: Edu Planchêz e seu filho Ícaro Odin

Me vejo dentro desse mergulho, na faísca que ninguém compreende, na força ultrajante dos "vadios" que deitam em camas de espinhos e ainda ri da dor famigerada na busca do insondável, na fome de quem procura estrelas como um demônio insaciável... "Girassóis de ouro" e brilho escarlate... Percebo sua poesia, Edu Planchêz, na camada fina de "tênue desejo", do inconformismo dos que são rotulados (nesse mundo frio e raso) de loucos, medíocres, improdutivos e desajustados. Também sou "a vergonha das famílias que sentam na 'poltrona num dia de domingo'," mas bebo como um devasso também as "dimensões alucinadas dos transes desconexos" e do fogo rimbaudiano que nos torna além de bandidos, luminosos profetas. "Poeta tem que cair na vida, deixar de ser broxa pra ser bruxo" já dizia outro irmão de jornada. Fiz e faço da vida o que poucos acreditam... Como você "esmigalhei os relógios de ponto em nome do novo, do além, do que nem eu compreendo"; te entendo como a alma que sopra e vomita arte buscando uma vida inimitável como os gregos antes Platão/a estética da vida em obra de arte... Podem nos taxarem de doentes, improdutivos, idiotas, criminosos e dejetos humanos... Mas temos muito aliados e eles sim percebem as jóias que temos cravadas em nossa alma e o brilho difuso e intenso que despejamos de nossa áurea delirante e febril e percebem, entendem nossa missão, bebem de nossa seiva a luz. Belo poema, amigo! Estamos cravados na história do tempo, no tempo de poucos "iluminados, visionários e sonhadores". Estamos fazendo nosso caminho sem beijar os cús de bundas sem graça e vendidas. (Diego El Khouri)

Abaixo o poema:


Antonio Eduardo Planchêz de Carvalho ( edu planchêz )

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"Antonio Eduardo Planchêz de Carvalho,
mandei dinheiro suficiente
em janeiro e fevereiro para pagar as contas de luz,
você não pagou porque gastou com outras coisas.
Já experimentou trabalhar um pouco com um trabalho honesto para pagar suas contas?
Sua idade e sua saúde maravilhosa
lhe permitem ainda ter um trabalho
com carteira assinada de um homem normal,
800,00 reais você tira mole como porteiro de edifício ou guardador de automóvel
já que não se preparou para nada na vida.
Me sinto constrangido de ter de dizer isso a você,
mas correr atras de mulher você sabe.
Se não pode pagar a luz pelo menos economize luz"
( Seu Pai)

Pai, perdoa-me por ser poeta-cantor,
por ter feito na vida o que não acredita,
por andar que nem um gato faminto à caça da rata poesia,
das dimensões alucinadas, dos transes desconexos,
das mulheres ultrajantes
Preferi as ruas, rasguei as carteiras de trabalho,
esmigalhei os relógios de ponto
em nome do novo, do além,
do que nem eu compreendo

Pai, eu nunca economizei luz, nenhuma luz,
segui a maldição, dos "vadios", dos que nada são,
toquei no resto dos restos, no embrião
Pai, se das estrelas não consegui arrancar moedas,
trouxe do inconsciente o ouro ouro, o ouro de tolo,
a vergonha para todas as famílias
que sentam na "poltrona num dia de domingo"

Não fui, não sou o filho que o senhor desejou,
sou o filho que desejei, o capeta que não para de falar,
que a todos atrapalha e encanta, sei lá
Pai, gratidão

Seu filho, Edu Planchêz (antônio eduardo)

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