(o Cometa atravessou o peito)
Por: Diego El Khouri
Lua translúcida e mágica. A
história perpassando pelos poros e alma. Memória viva de uma
cidade, de um lugar....A poesia nas calçadas irregulares de Paraty e a
cerveja gelada no bar. Poetas por todos os lados. Música por todos os
lados. E de repente nos conectamos. Somos de países e
culturas diferentes. Sou da cidade do sol e você da lua. Vivemos
uma noite surreal pelo centro histórico de Paraty. até que
enfim encontramos nosso mundo. O meu mundo. O teu mundo. Fumamos nosso
baseado — fumaça leve iluminando o cais. Conversamos com os olhos e com
a boca. A lua intensa iluminava nosso coração. Dias de bebedeira na festa da poesia
e estava ali apenas me embriagando no seu olhar... Naquela noite, naquele julho
de 2019 (ou poderia ser qualquer ano) ali estava toda minha essência iluminada
pelo amor. É impossível dizer o que se passou. Certas coisas não se descrevem
com palavras. Certos atos não se desenham em versos. Aquilo foi surreal e
intensamente real. Apenas o mar, a lua, as estrelas... Apenas eu e você... Você
tão distante veio para, voluntariamente, abraçar a cara da injusta miséria dessas crianças abandonadas na favela... e
dar um norte belo para esses meninos e meninas ausentes e esquecidos pelo
estado (estado que insisto em escrever com letra minúscula)... Nossos bolsos
com guimbas de cigarro guardadas para o próximo lixo... a gente ria de tudo e
de tudo o rosto pintava serenidade... paz... uma paz azul como o mar, iluminado
como o céu... as pessoas não existiam mais... seu país distante, minha cidade longínqua...
nossas dores e alegrias... nada mais existia... você foi o cometa que
atravessou meu peito e deixou marcas profundas na minha alma... na sua alma...
Talvez os caminhos não se cruzem mais... Talvez nem mais conversa, nem abraço
(aquele abraço demorado cheio de ternura; o melhor abraço de nossas vidas)...
Você tem uma história... A minha já se perdeu em um barco à velas que arrancou
de mim meu passado... Os detalhes, gostos, jeitos, sinuosidades me
transformaram ... não preciso dizer...
sempre digo que “sentir é mais que saber”... Registrar tudo que aconteceu daria
mais beleza a esse desabafo-relato... Mas sentimentos não carecem de
explicação... os detalhes estão guardados para sempre em nossa memória... Para viver esse amor o que fazer ? Enfrentar a distância quilométrica que nos separa? Enfrentar um Estado fascista que na terra tupiniquim
mata nossos índios, crianças, negros e pobres? Vencer o abismo
cultural contra a cultura respeitada que em sua nação vive cada dia mais?
Possuir virtudes (virtudes que não tenho) perante uma história na qual você já
estava acostumada? Abrir portas e janelas dessa casa fechada? O
que vivemos foi real – surreal. Amor que nos engrandece e nos faz reis e
rainhas nessa terra. Não nos beijamos, nem amor fizemos ... e para nós dois, eu e você,
irremediavelmente, foi que a noite mais linda de todas que vivemos e isso
ninguém nos tira.
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