quarta-feira, 6 de maio de 2020

POR: ALEXANDRE DURRATOS

é muita loucura... 

o aumentativo da fila do caixa 

na pandemia 

é caixão... 

ninguém mais entende 

o que acontece em brasília 

política pública, cadê? 

no dia-a-dia: balbúrdia 

e aqui nessa ilha 

o apê fala por si 

blá-blá-blá sem ninguém 

solidão... 

e se o passarinho 

lhe assoviar 

pra pular a janela 

não pode ser sério... 

e se o traficante 

lhe oferecer cloroquina... 

qual esquina? 

e se algum empresário 

disser que você importa 

tem trabalho de sobra? 

me engana que eu gosto 

e se o zapzap 

afirmar que isso tudo 

é mentira 

instabilidades no espírito 

a solidez dos fatos 

o resguardo diário 

espiral de mesmices 

mil coisas pra se fazer 

fake news de verdade 

é granada 

na mão do palhaço 

ameaça constante 

culpa aos pedaços 

respostas pra tudo 

vá ver se estou lá em cuba! 

pula no próximo voo 

pasárgada air-lines 

por lá o amor é a vera 

pergunte pro guglou 

- será que nos vemos de novo? 

é em vão 

se eu disser 

"você é tão linda de máscara" 

- e se for? 

vai rolar (se render) 

aquele beijo de póque 

toque entre cotovelos 

e um baita romance 

acontece 

choramos à toa 

por coisa pouca 

lá fora é um caos 

pedintes rasgando as roupas 

índios dançando mambo 

e os preços disparam 

o alcool gel é 70 

nunca mais lhe encontrei 

entre as prateleiras 

de cloro 

no super-mercado 

esses nossos rolos 

de papel higiênico 

ficaram na bolha 

de sabão 

em barra 

pesada 

ninguém mais paga nada 

há o silêncio das registradoras 

e as lágrimas 

pingam 

nos sacos plásticos 

nos cartões de débito 

há pessoas e assombros 

embrulhos no estômago 

os sonhos podem esperar 

uma vontade de rir 

do desejo da moda 

uma nova onda 

ter em casa 

máquina de lavar compras 

a geladeira espaçosa 

cabe o mundo 

em medidas restritas 

é o resto do almoço 

umas poucas misturas 

pro dia seguinte 

duas garrafas d'água 

um chocolate já pela metade 

dentro do pote de sorvete 

um cérebro congelado 

em papel alumínio 

um estoque de palavras 

que ficam guardadas 

feito pólvora seca 

voltimeia isso explode 

estampido 

que faz pipocar 

coração... 

saudades sem suor 

amor à distância 

"eu te amo" no skype 

esse troço 

isso num existe 

se quiser me ligue 

só peço que não me convide 

pra conhecer sua covid 

pode ser que eu aceite 

loucura é sempre 

sem limites 

mas são tempos magros 

me relaciono sem carnes 

já me basta uma alface 

os legumes 

daqueles mais baratos 

é jiló que chama, né? 

tempo amargo 

de papo de agro é pop  

me poupe 

o brasil é de todos 

- isso é onde? 

imagino lá longe 

corridas e jogos 

pra fora de quatro paredes 

alongamentos 

sem travesseiros 

sem cobertores 

cada vez que entrar 

no chuveiro 

inventar cachoeiras 

no vaso de flores 

floresta amazônica 

em amostra grátis 

e fazer muito exercício 

dobrar mais 

outros mil origamis 

isso tão produtivo 

- até que sextou! 

olha quanto boteco vazio... 

sequer 

um golinho pro santo 

um boêmio em resguardo 

uma vez por semana 

cerveja, tegê e traçado 

mas beijos e abraços 

às traças 

de vez em quando 

uma vontade de chorar 

parece meme 

esse tanto de gente nas ruas 

isso é muita loucura... 

eu 

às traças 

de vez em quando 

mais velho 

Tio Maneco, e as crianças? 

um bilhar com Aldir 

Belchior transbordando no copo 

isso é sempre 

uma vontade de chorar 

.

Um comentário:

  1. evoé molho!! algo de livre resiste nessas nossas desaventuranças - paciência - se a casa cansa, escrita avua! evoééé!

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