segunda-feira, 17 de novembro de 2025

O artista visual Diego El Khouri fumou maconha com o Jards Macalé

 Jards Macalé (1943–2025) transmutou-se em poesia. Atravessou o Lete, o rio do esquecimento, mas sua arte permanecerá viva sempre. Esse cancioneiro, outsider da contracultura, o malandro que virou a MPB do avesso, deixou marcas profundas em todos nós: vagabundos de almas sensíveis, transgressivas e imorais. Fez da dissonância um tapa na cara e do violão um estilingue. Macalé não canta pra agradar: canta pra cutucar. Sua melodia torta ecoa em nossos ouvidos e, a cada acorde musical, nossa vida se transforma. Um dia eu li em algum lugar: o homem morre e a obra fica. Acho que é bem por aí… sua arte paralisou o tempo.


Eu tive a puta honra de conhecer o cara da melhor maneira possível: na arte e em arte. O ano foi 2013. Eu, na ocasião, morava no Rio de Janeiro. O meu amigo, aliado, irmão Edu Planchêz ia tocar com sua banda Blake Rimbaud no Sarau Cultural do Teatro da Gávea, organizado pelo ator Paulo Betti e pelo jornalista Paulo Maia. O evento era disputadíssimo. Muita gente queria vomitar seus versos, suas canções, nesse espaço que celebra a arte. O dia foi muito louco e aqui o intuito é só homenagear Jards Macalé, que nos deixou hoje — um gigante da música que admiro e que, nos bastidores, eu descobri que era realmente um cara phoda e humilde.

Nessa noite aconteceu uma coisa hilária. Toda hora eu saía do camarim pra fumar um cigarro, em respeito aos não tabagistas, e de repente o Macalé saca um baseado gigante à la Bob Marley do bolso, passa pra mim e diz: “Acende aí, maluco!”. Daí pra frente, só loucura. Que baseado bom da porra! Trinquei!

Nesse dia o camarada Wagner Teixeira foi acompanhado de sua companheira Cacau, e apareceram no evento porque eu era muito amigo do Wagner há anos. Inclusive, essa foi a última vez que nos vimos pessoalmente. Na minha primeira ida ao Rio, em 2010, ele foi um dos caras que fiz questão de conhecer pessoalmente. Lembro de uma tarde em Niterói: eu, Wagner, Eduardo Marinho, Winter Bastos e Fábio da Silva Barbosa, recheados de zines e tomando uma num boteco. Nossa! E aquela maconha do Macalé era tão boa que chapei ao ponto de esquecer desses queridos amigos no evento. Não os vi mais. É importante lembrar que Wagner viu a Editora Merda na Mão nascer e, além disso, foi revisor de vários livros nossos e publicou também vários de seus zines conosco.

No canal do YouTubodigestivo postei um corte desse sarau. Dá pra ver Macalé cantando e eu invadindo o palco e ajeitando os quadros. Em um momento, a câmera focaliza bem as telas. Foi um dia louco! Algumas turbulências também! Não é fácil ser Diego El Khouri, o outsider da galáxia de Parnaso. Vá em paz, Macalé! E valeu pelo baseado!

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O artista visual Diego El Khouri expôs seus quadros no show de Jards Macalé — e ainda fumou um baseado com o maluco musical:




Sarau Cultural no Teatro da Gávea,  RJ:





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