segunda-feira, 30 de maio de 2011

RADIOCARBONO - OS ENTEADOS DO SAMBA


 (Por Diego EL Khouri)
Num mergulho obsessivo continuo no rasto da cultura alternativa. Dessa vez entrevistei a banda goiana Radiocarbono, que lançou há poucos meses o cd Enteado do Samba. Uma banda com uma pegada forte calcada nas misturas, junção contínua que nada mais é que o signo da arte contemporânea.




http://www.myspace.com/radiocarbono

Por que Radiocarbono?

Henrix Ramos responde:


O nome vem justamente dessa brincadeira de misturar música com a técnica de mensuração de idade orgânica. Explico. Como as referências dos integrantes da banda são muitas e variadas, pensamos num nome que remetesse a essa pluralidade musical, e que ao mesmo tempo mostrasse essa questão filosófica calcada no uso de vários estilos para a criação de outro. Não temos a pretensão de afirmar que nossa música é original e única, mas podemos dizer que buscamos transformar nossas influencias em algo que caminhe para isso.
 
A música contemporânea não está ligada mais na pureza dos estilos. As junções são válidas. Há porém  um sentindo além de musical misturar o rock com o samba, dois estilos não populares na cidade em que vivem conhecida como terra do sertanejo?

Douglas Mcarthur responde:

Acho que além do musical podemos citar o lance cultural que envolve os estilos que são referência pra banda. Nosso trabalho tem essa mistura cultural no dna. Na verdade, acho que somos uma bacia de misturas indefinidas...hehehe...
 
A poesia permeia todas as músicas da banda.  Quais as suas referências poéticas e musicais?

Pinguim Barreira Responde:

 Referências tenho muitas, mas as letras desse disco foram criadas com teor alcoolico elevado de Kafka, Doors, Metallica, RHCP, pitadas de Ariano Suassuna, Nação zumbi, Bezerra da Silva, um pouco de Luís Fernando Veríssimo com pequenas doses de frevo, coco, maracatu e samba de raiz.
Nossas letras falam dos dramas e alegrias do cotidiano. É uma espécie de poesia concreta sem muito valor retórico. Quando escrevo, simplesmente penso no desenrolar da cena daquilo que estou passando pro papel. É um processo que não consigo explicar muito. Aliás, é mais fácil fazer do que explicar.

Hoje no Brasil existem muitos espaços para uma banda tocar?

Danilo Almeida responde:

 Acho que sim. Hoje os coletivos estão muito mais integrados e engajados em permitir a circulação das bandas. O toque no brasil por exemplo, abriu muitas oportunidades pra gente. É lógico que não é só criar o perfil lá e esperar contato. É preciso correr atrás também, porque nada vem sem muito trampo, pode ter certeza.

Qual a relação da Radiocarbono com outras bandas alternativas?

Taiguara Franco resoponde:

Nossa relação é muito boa, nunca tivemos problemas rsrsrs.
Falando sério, temos muito respeito e admiração por várias bandas (muitas mesmo, não dá pra citar e correr o risco de deixar alguém muito bom de fora). Entretanto, temos mais afinidade com a galera do Chimpanzes de Gaveta e do Umbando, por sermos mais amigos e tal.
   
Numa entrevista que fiz com o poeta Robisson Sete, da extinta banda mineira chamada Juanna Barbera, ele disse que é complicado tocar numa banda, pois banda de rock é casamento sem sexo. Como então se dá o convívio com os membros da banda?

Douglas responde:

 A comparação é boa hein..rsrsrs...Rapaz, nossa principal intenção sempre foi se divertir fazendo o som que gostamos. Antes de montarmos o projeto, já éramos todos brothers das antigas, estudamos juntos, tocamos em bandas diferentes, dividimos palcos. Nos conhecemos há mais de 10 anos e, em toda e qualquer relação saudável há discussões, opniões diferentes e coisas desse tipo....Mas administramos sempre da melhor maneira. 

O cd Enteado do Samba que gravaram tem alguma relação com o  cd Estudando o samba do Tom Zé? Nos fale desse trabalho.

Pinguim responde:

Em primeira instância, não fizemos isso propositalmente. Mas os moldes para a mistura que acabamos por fazer foram lançadas ali, sob a batuta escarlate e debochada do Tom.
O disco na verdade, é fruto de 3 anos de ralação. Correria pra descolar a grana. Correria pra descolar contatos. Correria pra descolar shows. Putz, a correria foi pesada. Mas no final valeu muito a pena, porque a gente gostou muito do resultado. Achamos que ficou muito a nossa “cara”. Todos os timbres, todos os efeitos, todas as palavras... tudo foi pensado pra ficar do jeito que a gente sempre sonhou pro primeiro disco.
 
O que cada um da banda gosta de escutar?

Danilo responde:

Ah muito variado cara. Nossa escola é o Rock'n Roll, é fato, mas ouvimos muita coisa desde MPB, Samba e paradas regionais até o indie, progress, dub, metal, punk, hard core... tem muito som bom espalhado por essas vertentes...
 
Quais os planos futuros?

Henrix responde:

Agora estamos engajados em circular com o disco, já fizemos goiás e minas, em agosto tem Palmas no Tocantins. Enfim, estamos nos articulando para rodar e mostrar nosso trabalho. Mas sem deixar de lado as composições novas (e tem muitas viu...). Já temos as músicas do próximo disco praticamente definidas. O plano é iniciar o processo de gravação ainda esse ano.  
 
O que acham dessa onde de modismos como emo e restart que massificam a mídia fechando espaço pra outros artistas?

Douglas responde:

Cara, é uma onda adolescente que logo vai passar, eu espero...rsrsrs...Não curto o estilo, as músicas, as bandas....parece um um sertanejo só que mais colorido, algumas guitarras a mais e cabelo propositalmente rebelde....Mas acho que independente do estilo, tudo que está massificado pela mídia soa igual, é tudo muito parecido...Se quiser ouvir coisa realmente boa e diferente, tem que dar uma passeada pelo cenário underground. 

Pra terminar, qual o bar mais próximo?

Taiguara responde:

 rsrsrs...Não bebemos mais, depois de amanhã fará dois dias.....

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