quinta-feira, 4 de outubro de 2012

BERRO


(Por Diego El Khouri)

sou o grito em silêncio
dessas lágrimas que não cessam
filho ingrato de ordens falidas
busco ou não busco meu regresso?

as paredes caíram, todas, todas...
enfim o desejo concretizado
por oito anos perdidos no vácuo
e agora o que fazer? para onde ir?
"que imagens santas destruir?"

os versos aqui caíram no vazio
deixar o menor registro possível
dessa existência que é " a via
máxima do gozo eternamente incompleto"

derrubar mais paredes e portas
subjugar todas verdades falsas
amarrar uma corda na viga
ter os pés amantes do vento
balançando de um lado para o outro
num delicioso contentamento

ah que belo tormento
beber todo álcool
antes que acabem com o carnaval
enrabar um por um
filas de opressão e mesquinhez

em qual lado você está,
cumpade translúcido da manhã suja,
catando vermes psicóticos
na opressão familiar-nação?

que paisagem bela
essa que se oferece ao eco de tua voz
parece com a dor
que trago em meu estômago
e a tremedeira de minhas pernas e mãos
ausente do álcool confortador

beijei a Morte todas às vezes que pude
e beijaria outras vezes se pudesse
mas agora é ela que me beija
ela que acende as nervuras de meu peito
e as fissuras de meu pâncreas sem receio

só ela mesmo, só ela,  para cobrir me de vestes
num invólucro manto
que roubei dos céus

só ela, ela apenas, o doce Karma que me abraça
e não me mostra as chaves
dessa vil existência


só ela , só ela mesmo meu irmão diáfano,
que tem a paciência de ouvir essa voz calada
sem  perguntar absolutamente nada.

Rio de Janeiro, 2012

6 comentários:

  1. A morte, a carinhosa irmã mais velha do mundo! Só ela nunca nos deixará de espreitar, com ela podemos contar. Só ela que estará lá, olhando nos nossos olhos, em nosso último suspiro para a vida.
    Adorei, mestre!
    Carpe diem!

    Vi
    www.bardodataverna.blogspot.com.br

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  2. Ainda que as vezes não possamos captar com os sentidos racionais estas palavras,
    Ainda que não possa, eu mesma, construir imagens mentais com estes versos,
    Ainda assim, eles são como um terremoto orgânico. Causam fome...
    Grata pela oportunidade

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  3. Já começou arrasando: "sou o grito em silêncio
    dessas lágrimas que não cessam" Um iconoclasta... cujos versos não caem no vazio e sim deixam rastro indeléveis na alma de quem os lê.
    O poeta precisa ... "subjugar todas verdades falsas
    amarrar uma corda na viga os versos aqui caíram no vazio
    deixar o menor registro possível dessa existência que é " a via
    máxima do gozo eternamente incompleto"
    - Eu sinto, ao ler estes versos, toda a dor que se derrama em palavras bem colocadas e ideias lançadas com sutileza e violência abissais. Eu me entrego ao abismo sem nenhum receio de ficar prisioneira.
    Por se chega à apoteose do poema ..." beijei a Morte todas às vezes que pude e beijaria outras vezes se pudesse mas agora é ela que me beija ela que acende as nervuras de meu peito e as fissuras de meu pâncreas sem receio
    só ela mesmo, só ela, para cobrir me de vestes
    num invólucro manto
    que roubei dos céus

    só ela, ela apenas, o doce Karma que me abraça
    e não me mostra as chaves
    dessa vil existência

    A existência ode vil curem e bela,

    ter os pés amantes do vento...
    balançando de um lado para o outro
    num delicioso contentamento"

    beijei a Morte todas às vezes que pude
    e beijaria outras vezes se pudesse
    mas agora é ela que me beija
    ela que acende as nervuras de meu peito ........................só ela mesmo, só ela, para cobrir-e de vestes num invólucro manto que roubei dos céus
    As palavras me faltam e só me resta mergulhar no seu poema de asas bem abertas, lindos versos que me inspirem flores

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  4. UMA PERFEIÇÃO SOBRE O IMPERFEITO DESCONFORTO DA VIDA; Não sei mais falar, a dor e a beleza desses versos emudeceram minha alma que sente as mesma coisas, Li e reli umas dez vezes esses versos, encontrando a cada vez mais um lágrima sentida, estou chorando diante de tamanha concentração de sentidos, eu mal consigo ver as letras do meu teclado, Dormi sobre o computador no sofá da sala procurando palavras à altura do seu poema, Acordei no meio da madrugada... Só havia conseguido repetir suas palavras sem encontrar as minhas. O pássaro aflito que fez morada no meu peito bate s asas e canta enquanto eu não consigo conter as lágrimas, você não existe e Álvaro de Campos vem me dizer que não é nada, nunca será nada e não pode querer ser nada, ele que foi tudo. ... e o dono da tabacaria sorriu. Eu gostaria de ser capaz de versejar assim como vc, expor a nudez da minha alma com tanta coragem, mas sou apenas uma criança aprendendo a escrever diante desse seu poema,

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