quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O BERRO QUE CANTA

(Por Diego EL Khouri)



Que sismas cai sobre a terra
para que eu pudesse observar com calma
 o pleno horizonte de escamas douradas?
Que frio é calmo eu sei
mas quem se apresenta de dentes cerrados
a esbravejar inúteis palavras de guerra?
Com medo permaneces calada
e com medo comandas tuas frases.
A minha barba eu não mais faço.
Com ela escondo a agonia inconfessável 
que perambula por todos os poros da alma.

Uma adolescência ao lado do crime.
Corpos em combustão. A nuca plena de desejo
dessas mulheres... ah lábios murmurantes
desmedida volúpia que não cessa!
Me excedo em caos liberto
libertino de todas paragens
uma infância imobilizada 
no delírio da viagem.

Hoje um poeta velho 
num corpo jovem enfermo
cantarolando músicas baixinhas
mostrando o pau pra qualquer uma
o horizonte que se desfez
tecendo lágrimas num mar incomum.

E canto como o último gozo
a estampar essa face sempre cínica
socialista arfante
um bardo a roubar corações
na paixão delirante.

Canto para esse ventre sujo
que moldou minha poesia de escárnio
 e essa mãe doente
a eternizar o sofrimento em arte.

Canto para quem move montanhas
e quem nem acredita nelas.
Canto para homens e mulheres
que se entrelacem e virem um corpo só.

Canto para a dona de casa,
o professor e a empregada,
só não canto pra polícia
o estado e essa raça do caralho.

Nem canto para as regras
meu olhar vítreo é um veneno cego
a espreitar na janela
fogo imortal monódico
sem faísca e quimera.

Canto pois desafino
e desafinar é a beleza sem meta
me sinto foragido de mim mesmo
a usar as rimas mais bregas.

Canto com as armas
apontadas para a platéia 
desavisada das atrocidades
que vociferam e incomodam tanta regra.

Canto que me deixe 
que a fala seja deleite
de quem só sabe berrar.

E eu berro e canto
destroçando leis
em plena praia do leme
pelado mais uma vez.

mais uma vez pelado
em frente a polícia
soco no estômago e porrada
enfim... mais uma poesia.


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