segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

NAS CONSTELAÇÕES ANÁRQUICAS DA POESIA

Por: Diego El Khouri

nas constelações anárquicas da poesia
um bêbado-poeta-bandido
sob o fel dos arranha-céus
arrasta nuvens dionisíacas
para dentro dos ventres tristes
sísmico sol, rebanho de fetos
abortados pelas quimeras
era das nucleares fomes
das incontáveis tragédias
do sangue sagrado operário
— outsider da galáxia de parnaso 
sombras sonoras
bodisatva do infinito
risco no céu, um raio
cometas
                   delirium tremens
o precipício...

precipício I

de tanto voar caí
pelos abismos me perdi
senti o que pude aqui
para não me tornar um faquir 

precipício II

diabos e serpentes
axioma infernal
lentes
e coisas fúteis
foram
os desertos
(caprichos da lei?)

precipício III

glandes grandes bocas
fogo fátuo
fulgurante
essa carne rasgada
esse pedaço de instante

precipício IV

quente e morno é o cu
que custo a pensar
que cu é quente
por que  morno?

precipício V

antes que dante me cale
leve as almas
e os artelhos,
as louças estão na mesa
e o coração
                    no assoalho

precipício VI

silêncio de terra
em erupção
chamas traiçoeiras
(ah, quanta ilusão!)

precipício VII

virgílio, o poeta do caminho
caminha nos vidros
esfumaçados do agora

precipício VIII

pelo inferno que fere
"prefiro ferir a fenecer"
deixei na escola todo meu medo
de viver só por viver

precipício IX

burocrata da cultura
ou coqueluche do estado
queima, derrama sangue aqui, ali
jamais respinga no senado

precipício X

na madureza do tempo
no abrir das janelas...
causa pranto ou espanto
o ruir do século?

Nenhum comentário:

Postar um comentário