nas constelações anárquicas da poesia
um bêbado-poeta-bandido
sob o fel dos arranha-céus
arrasta nuvens dionisíacas
para dentro dos ventres tristes
sísmico sol, rebanho de fetos
abortados pelas quimeras
era das nucleares fomes
das incontáveis tragédias
do sangue sagrado operário
— outsider da galáxia de parnaso —
sombras sonoras
bodisatva do infinito
risco no céu, um raio
cometas
delirium tremens
o precipício...
precipício I
de tanto voar caí
pelos abismos me perdi
senti o que pude aqui
para não me tornar um faquir
precipício II
diabos e serpentes
axioma infernal
lentes
e coisas fúteis
foram
os desertos
(caprichos da lei?)
precipício III
glandes grandes bocas
fogo fátuo
fulgurante
essa carne rasgada
esse pedaço de instante
precipício IV
quente e morno é o cu
que custo a pensar
que cu é quente
por que morno?
precipício V
antes que dante me cale
leve as almas
e os artelhos,
as louças estão na mesa
e o coração
no assoalho
precipício VI
silêncio de terra
em erupção
chamas traiçoeiras
(ah, quanta ilusão!)
precipício VII
virgílio, o poeta do caminho
caminha nos vidros
esfumaçados do agora
precipício VIII
pelo inferno que fere
"prefiro ferir a fenecer"
deixei na escola todo meu medo
de viver só por viver
precipício IX
burocrata da cultura
ou coqueluche do estado
queima, derrama sangue aqui, ali
jamais respinga no senado
precipício X
na madureza do tempo
no abrir das janelas...
causa pranto ou espanto
o ruir do século?
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