sábado, 21 de maio de 2022

Sobre publicações independentes diversas (diversas mesmo!)

 (Por: Winter Bastos)


É incrível a variedade de fanzines e publicações alternativas que andam sendo produzidas. Existem, por exemplo, os fanzines poético-sexo-escatológico-críticos do artista plástico e escritor Diego El Khouri, entre eles: BrenfaBlasfemoFala "Aê" Porra! e Século Sinistro.


Brenfa é um fanzine que faz a cabeça de muita gente, em todos os sentidos. Em seu número um, lançado em 2012, logo na capa temos o desenho duma árvore estilizada, com os galhos erguidos ameaçada por um policial militar que lhe aponta um revólver: "Passa a erva, Mãe Natureza!". Do lado oposto, um cabeludo pede humildemente: "Me dá a erva, Mãe Natureza!". Faz a gente pensar de que lado queremos ficar e qual lado seria realmente o perigoso. Esta primeira edição do Brenfa é toda em preto e branco, fotocopiada, com dezesseis páginas tamanho A5 não numeradas, formato brochura. Tem quadrinhos e poemas de Ivan Silva e Diego El Khouri, entrevista com o artista indefinível Murilo Pereira Dias (o Murilouco) e texto dissertativo de Fabio da Silva Barbosa.


Brenfa nº 2 mantém o mesmo formato do anterior, com seus usuais desenhos em P&B e poemas transgressores. É destaque a entrevista com o poeta Glauco Mattoso, o mais profícuo sonetista de que se tenha notícia no mundo, e cuja temática escandaliza muita gente por incorporar assuntos cotidianos, bem como escatologia, violência e sexo.


A terceira edição de Brenfa tem capa e contracapa bem coloridonas, o que é um feito e tanto em se tratando duma publicação sem patrocínio e, pelo contrário, bastante incômoda aos donos do capital. Ficou bonita pacas com os desenhos pra lá de psicodélicos de Diego e Ivan Silva. Optou-se, desta vez, por um número só com charges e cartuns. Muito bom.


O número 1 do fanzine Blasfemo também se compõe apenas de quadrinhos e desenhos vários. Saído sob o selo da Editora Merda Na Mão (criada por Diego e Fabio da Silva Barbosa), Blasfemo tem na capa a desconcertante imagem do povo sendo estuprado pelo Capitalismo. E dentro da publicação rolam mais críticas sociais pesadas. Ler essa parada não é pra qualquer um. Ousadia pura.


Século Sinistro é outra publicação de Diego El Khouri, esta saída em dezembro de 2018, tendo na capa a caricatura do político Jair Messias Bolsonaro com um broche de suástica, fazendo uma saudação nazista. Este fanzine toma como base pensamentos expressos por Jim Morrison, Jean-Paul Sartre e pela banda Ratos de Porão, que tem um disco que se chama exatamente "Século Sinistro" (aliás, muito bom!).


Fala "Aê", Porra! é mais uma ousadia editorial do Diego. O número um traz capa e contracapa com desenhos hipercoloridos, psicodélicos, que incluem uma orgia de ratos prestes a serem devorados por uma cobra, bem como o autorretrato de Diego nu, sentado numa privada enquanto pinta uma rã modelo que posa para ele, estendida languidamente num sofá. Na parte interna da publicação, temos desenhos, uma dissertação sobre o poeta Artur Rimbaud, tiras de quadrinhos e poemas, além duma bela entrevista com Sylvio Passos, especialista em Raul Seixas.


O segundo número de Fala "Aê", Porra! saiu todo em preto e branco, também com belos poemas, quadrinhos, bem como uma competente crítica do romance gráfico (história em quadrinhos) Mulher Diaba no Rastro de Lampião.


Ficou a fim de conhecer? Para receber os fanzines de Diego El Khouri, entre em contato com ele pelo endereço: elkhouri.diego@hotmail.com 

Enxurrada da Desgraça é um fanzine que segue mais pela estética anarcopunk com poemas e desenhos incitando revolta contra: Estado, Igreja, Capitalismo, patriarcado e todas as formas de dominação. Algumas pessoas podem se sentir ofendidas pela virulência das críticas, que não medem palavras, nem se preocupam com as formas de expressão que se poderiam considerar de bom-tom. Pintou curiosidade? Então é só entrar em contato por um dos endereços abaixo:

gilcelio.olerante@gmail.com

segundo666hellawaits@gmail.com

priscylaalves5@gmail.com

pedrocasavelha@gmail.com



Diferente do tipo de publicação que este texto citou anteriormente, a iniciativa editorial Profecia Comics tem uma proposta mais de acordo com o que é contemplado tradicionalmente no mercado de quadrinhos. Mas nasceu também duma ousadia. Foi lá pelo ano de 1985 que dois guris de 10 anos de idade, primos e leitores vorazes de revistas em quadrinhos da Marvel, resolveram fazer seus próprios gibis. Diferente de muitos atuais viciados em tevê, Jerry A. Souza e Alex Stümer recusaram o papel de consumidores passivos e passaram a dar asas à imaginação. Ainda crianças fizeram suas primeiras HQs, que tinham a tiragem de um exemplar (!), roteirizado, desenhado e pintado por eles próprios. Foram aos poucos criando seus próprios personagens e buscando formas de fazer cópias das revistas: assim nasceram os fanzines dessa dupla. Estes foram se elaborando mais e mais. Hoje a Profecia Comics já tem 30 anos de existência e vem lançando fanzines de quadrinhos com qualidade, pondo em ação personagens como Peryc (mercenário criado por Denilson Reis), Brandar (criação de Jerry A. Souza) e outros. Que tal se aventurar por estas publicações independentes tão divertidas?

Entre em contato com Jerry A. Souza pelo endereço:
jerry@pzo.com.br 

Agora vamos pular do assunto super-heróis para o tema samba de subúrbio, afinal tudo é válido de figurar em fanzine. A publicação Bento Ribeiro: Tantos Enredos, Outros Carnavais faz parte da coleção "Bento Ribeiro: Memória e Cultura", tem texto do escritor Fábio Cezar, contando com diagramação e edição da Deriva dos Livros Errantes. Publicado em dezembro de 2021 na cidade do Rio de Janeiro, esse zine tem como imagem de capa uma foto de rapazes da Escola de Samba Lira do Amor, que figurou originalmente na revista O Cruzeiro em 1935. Que tal aprender um pouco sobre o bairro carioca Bento Ribeiro, os sambistas Zé Kéti e Cartola, e outros ícones da cultura suburbana carioca? É só entrar em contato com a Deriva dos Livros Errantes:

https://linklist.bio/derivaerrante .


Depois de tratarmos aqui de fanzines produzidos por artistas plásticos, cartunistas e desenhistas de quadrinhos, que tal falarmos aqui sobre HQs feitas por quem não sabe desenhar? Isso é possível? Camarada, acredite, tudo é possível na terra encantada dos fanzines. O zine Rabiscos é a prova disso. Trata-se duma publicação em que algumas histórias em quadrinhos são protagonizadas por rabiscos que agem, interagem, comunicam-se. Noutras histórias, a ousadia consiste em pôr retângulos com o nome das coisas representadas, em vez de desenhos. Doideira pura. E das boas!
Contatos:
wnyhyw@gmail.com
http://partesforadotodo.blogspot.com/


Bem, agora chegou a hora de tratar de mais um número do fanzine Reboco Caído, publicação que já abordei várias vezes e que pode ser contatada pelo endereço: caixa postal 21819, Porto Alegre-RS, CEP 90050-970 ou fsb1975@yahoo.com.br. O que tenho aqui do meu lado agora é a edição 63, com capa feita pela turma do projeto Fanzinotecapa, levado adiante pela Fanzinoteca do Instituto Federal Fluminense (IFF) de Macaé-RJ, que embeleza publicações alternativas de todo canto do país. O zine traz editorial raivoso de Fabio da Silva Barbosa, textos de Guilherme de Andrade, Rodrigo (da excelente banda de rap Ktarse), entrevistas com o músico Lucas Cardoso, o poeta Rafael Vaz e o artista plástico Reginaldo Barbosa, de quem também aparecem belas ilustrações pelas páginas fotocopiadas desse impresso rebelde.


No fanzine Reboco Caído n° 64, o editor Fabio da Silva Barbosa volta a fazer ele mesmo a capa, que, aliás, ficou choque. Apesar do zineiro não fazer mais parte oficialmente da equipe mantenedora da editora Merda na Mão, que criou junto com Diego El Khouri, Reboco Caído mantém seu logotipo de forma a divulgar o trampo do guerreiro Diego. No final das contas essa turma continua ligada, a gente sabe. Cada um contribuindo da forma que é possível para os projetos (contra)culturais que vão surgindo. Além de textos do próprio Fabio, essa edição traz ainda escritos de Jomar Vicenza e Guilherme de Andrade, escritor entrevistado nas páginas 3 a 6. Rola ainda entrevista com a banda punk Disunidos, que tem boa sonoridade e letras críticas e inteligentes.

Bem, turma, encerro aqui com a frase presente na contracapa do Reboco Caído nº 64 e que, para mim, sintetiza a mensagem geral do universo dos fanzines, mesmo em meio a tantas propostas diversas e, às vezes, até divergentes: "Pense com a própria cabeça, não seja mais um papagaio".

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