Mar de Lágrimas
Hoje a favela chora.
Pelos rostos aflitos
As lágrimas escorrem
Sem nunca cessar…
Lágrimas que vão
Lavando os becos e vielas
O jardim da juventude
Está se tornando escasso por aqui.
Hoje, sem pudor a favela chora
O mar de lágrimas corre
Pela cidade inteira,
Clamando – Parem de nos matar.
- Guilherme de Andrade -
BASEADO NA TERRA DO NUNCA
SONETO 509 ASSUMIDO
Mattoso, que nasceu deficiente,
ainda foi currado em plena infância:
lambeu com nojo o pé; chupou com ânsia
o pau; mijo engoliu, salgado e quente.
Escravo dos moleques, se ressente
do trauma e se tornou da intolerância
um nu e cru cantor, mesmo à distância,
enquanto a luz se apaga em sua lente.
Tortura, humilhação e o que se excreta
são temas que abordou, na mais castiça
e chula das linguagens, o antiesteta.
Merece o que o vaidoso não cobiça:
um título que, além de ser "poeta",
será "da crueldade" por justiça.
- Glauco Mattoso -
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