segunda-feira, 24 de abril de 2017

ALEXANDRE MENDES (12/03/2017 – 17/04/2017)

— NOTA E FALECIMENTO   

Por: Diego El Khouri

E hoje recebi essa triste notícia!! Conheci Alexandre Mendes através de um zine que o Glauco Mattoso me mandou em 2009/2010. O zine era O Berro e era editado também pelo Fábio da Silva Barbosa e Winter Bastos (já um bom tempo esse fanzine vem sendo editado apenas pelo Winter que continua dando espaço para outros escritores, cartunistas... buscando a essência da idéia inicial). Ele também produziu em parceria com Fábio o JORNAL DAS COMUNIDADES e um zine solo bem bacana chamado GAMBIARRA, além de outros trabalhos. Alexandre era cartunista, poeta, historiador, ativista. Tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente em dezembro de 2010 em São Gonçalo (Rio de Janeiro). Foi um encontro bem psicodélico (os caretas iriam chocar com a descrição da cena que ainda pretendo reproduzir em texto). Ele escreveu poema em minha homenagem (publiquei no blog MOLHO LIVRE e no zine impresso CAMA SURTA) e um texto bem bacana sobre meu ofício  ( http://molholivre.blogspot.com.br/2011/01/do-blog-peresteca.html ) . Em 2016 recebi seu (provável) último zine (em breve vou postar uma matéria sobre). Algumas pessoas acham que eu comecei "ontem" nesse caminho intenso das artes, mas na realidade nasci nessa "inutilidade prazerosa" (considerem a ironia com gosto de ácido) e tive o prazer de conhecer muita gente foda!! Alexandre foi com certeza um desses grandes malucos que acrescentaram em minha existência ! Por isso ele foi um dos meus entrevistados (nesse link a entrevista http://fetozine.blogspot.com.br/2011/07/alexandre-mendes.html ) . 
Essa notícia me deixou muito triste. Nunca mais vou esquecer daquela tarde embriagada ao lado do Alexandre e do Fábio.
 Não vamos deixar suas poesias, textos e cartuns caírem no esquecimento! 
Alexandre, um brinde! 
EVOÉ, meu amigo da galáxia de parnaso!!
                      * Tirei essa foto do Fábio da Silva Barbosa (a esquerda) e Alexandre Mendes (a direita) em 2010. Local: São Gonçalo (RJ).

Abaixo duas matérias sobre o falecimento e a obra desse guerreiro e também um poema que Alexandre Mendes fez em minha homenagem (guardo com carinho) além de outros poemas (em breve posto alguns de seus cartuns e contos):

Organização Popular:  Um guerreiro a menos: Adeus Alexandre Mendes (1977-2017)
  https://organizacaopopular.wordpress.com/2017/04/22/um-guerreiro-a-menos-adeus-a-alexandre-mendes-1977-2017/

Coletivo Zine: Alexandre Mendes
http://coletivozine.blogspot.com.br/2017/04/alexandre-mendes.html




AO FILHO DA EXCLUSÃO



(Em homenagem a Diego El Khouri)

Por: Alexandre Mendes
Artista desconhecido
o presente, presenteia-o
com o fogo dos céus do Olimpo
trazido por Prometeu
Não te aborreças por Heitor
e a Tróia fragilizada
desembainhe a sua espada
a peleja irá começar

Será belo o dia
em que todos os seres 
e também os não seres
decifrem as tragédias 
que contam em seus dizeres
palavras de sabor trazido das vinícolas
Baco pelo palco a rolar
contemporânea atitude maldita
Sofrer por amor, jamais odiar

Filho...Tu és filho da Exclusão
chinelo remendado de arame
blusa rota de furo sovaco
unha nua na ponta da meia
estômago de infinito buraco

Exclua o filho...
pois deve-se respeito ao pai
Atenas um minuto de silêncio
amor a sabedoria 
e nada mais.
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Ah! 

Eu queria ser forte o suficiente
e mudar o mundo com o poder da mente
Entortar canhões, ver sorrisos contentes
Ah! Como eu queria!

Eu queria saciar a fome do mundo
e expurgar o político vagabundo
Limpar tudo aquilo que é imundo
Ah! Como eu que queria!

(A minha cara é bem feia, mas o meu coração é do tamanho de um planeta!)​

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Coglione

Vivo vivendo
uma vida que vive por mim
dia após dia, tarde, noite, dia, dia,dia...
milésimos, centésimos, segundos e horas
vivo vivendo uma vida que ainda não havia sido vivida
mas quando paro e observo: quantas vidas são semelhantes
momentos alegres, tristes, raivosos, ignorantes,
egoístas e depois, novamente alegres como antes
dia após dia, ano após dezembro
vou vivendo a minha vida, ora discordando, ora refazendo
vida louca vida, já dizia o poeta
caras insanas, opiniões sem metas
mas não importa: amanhã acordarei e continuarei a vivenciar
a vida que o acaso trouxe de um ventre ensanguentado para a superfície deste mundo mal amado...
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?

 Por favor, alguém me ajude
Não consigo entender
Os cabelos já grisalhos
pensamento de bebê
porque, por que
 por quê, porquê?
Dia e noite ininterruptas,
a minha mente, sem parar
Pra quê serve tudo isso?
Se depois é descansar...
Corre-corre, aprende, ensina
 Dia começa , já vai acabar
Porque o porquê de todo descalabro
Vida louca a passar...
Se vagabundo, o dia passa
sem sentir o motivar
Se concreto, amassa massa
dor nas costas ao findar
Se caderno, o quadro ensina
Aonde o onde vai parar?
Pra que o pra quê 
de tudo isso?
Não sei...Quando eu comecei a tentar entender, já era desse jeito...
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Senda

Toma esta enxada!
Eu não quero!
Tome esta vassoura!
Eu não quero!
Toma esta bandeja!
Eu não quero!
Eu não quero!
Eu não QUEROOOOOOOOO!!!!!

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salário                   


       salário

contas,contas,contas
doenças,remédios
contas...
financiamentos, empréstimos, juros
contas,contas,contas
cartões, dívidas, cheques
contas........
horas extras, dobras, feriados trabalhados
doresdedente, orçamentos,passagens
contas,contas,contas
doresdecabeça,exames,laudos 
táxis,valores,contas
doresdebarriga,filas,esperas
boletos,senhas,atendimentos
contas.....
contas........
contas..........
contas............
contas..............

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Animal Planet

Auau-miau-piu-piu
vai pra puta que o pariu
mehehehe- cococó- muuuuuu
vai tomar no seu cu
Grrrrrrr-Roooooaaaaar
Me erra! Vai cagar!
Não sei o que eles dizem
quando olham para mim
talvez queiram expressar
o que sentem, enfim
O reino é animal
Homens por cima
Animais por baixo
Mas não tentem provocá-los
dentro de seu próprio espaço

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Mínimo
Lambe logo o meu chão,
meu escravo; desgraçado
Deixa tudo bem limpinho,
porque eu pago seu salário
Pega esponja e desinfeta,
fedorento sanitário
Deixa tudo bem cheiroso,
porque eu pago seu salário
Serve logo meu almoço,
tô com fome, ordinário
Quero ver o seu sorriso,
porque eu pago seu salário
Agora compra meu cigarro,
não demora, meu lacaio
Quer ouvir um desaforo?
Porra, eu pago seu salário!
Te humilho com prazer
Quero você conformado
nós nascemos para isso
e eu pago seu salário
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LINDO


Flores e pétalas
enfeitando o ambiente;
Pessoas em pé a minha volta
falam de mim e da minha loucura
Alguns estão rindo
Outros chorando
Alguém acaricia a minha face,
mas não sei quem é:
estou de olhos fechados

Flores e pétalas
Roxas e vermelhas
As pessoas conversam
Alguém recita uma poesia
O cafezinho rola solto

Da noite pro dia
Meus filhos estavam lá
Eu os escutava
Mas não conseguia vê-los
Estava de olhos fechados

Minha esposa
Chegou de manhã
Ainda dopada pelos calmantes
Sinto sua presença
Mas não a vejo
Pois meus olhos não abrem mais

Ops...estão me erguendo
Escutei a voz do meu melhor amigo
Vamos dar um passeio?
O último de todos?

Aaaaaaaaa...que dia lindo
Hoje, todos gostam de mim
Sinto todo o carinho de vocês
Agora me deixem aqui
O homem da colher
Me trancará no cimento
Com toda a angústia
Que existe dentro do meu ser
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Um cara

Era um cara feliz
com seu empreguinho estável
bom esposo e pai amável
nada tinha a reclamar
possuía um Palio novo
virava a chave, sem problema
levava os filhos ao cinema
nada tinha a reclamar
Era um cara preocupado
jogou a carteira sobre a mesa
devido ao corte de despesa
sua esposa a reclamar
alguns meses sem trabalho
desempregado e com fome
sua mulher com outro homem
resolveu lhe abandonar
Era um cara quase triste
sem emprego, sem família
trancou a casa, pé na trilha
sua existência a lamentar
tentou ser forte
e achou graça
trocou a honra por cachaça
e parou de reclamar
Era um cara desvairado
sem caminho ou direção
bebendo água de valão
debatendo com o ar
perdeu memória
perdeu a vida
correu pro meio da avenida
pra frente de um caminhão
Era um corpo destroçado
lá jazia o defunto
– Era só um vagabundo!
rabecão já vai chegar
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Poema
O Congresso depredado;
Delegacia incendiada;
colarinhos enjaulados,
são brancos, com certeza
Presidentes se matando,
em vez de soldados,
todas as vidas
em uma só poesia
sem métrica ou formato


AM16

I das C

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